quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Crítica: Entre Facas e Segredos (2019)













Escrito e dirigido por: Rian Johnson. Fotografia de: Steve Yedlin. Estrelando: Daniel Craig, Chris Evans, Ana de Armas, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Don Johnson, Toni Collette, Lakeith Stanfield e Christopher Plummer.

Dois anos após o sublime (e polêmico) Os Últimos Jedi, o cineasta Rian Johnson investe numa trama investigativa. Flertando com o drama familiar, seu novo projeto reúne um elenco afiado em mais um exemplar do subgênero whodunnit.


Reminiscente das obras de Agatha Christie, a narrativa aborda a morte do famoso escritor Harlan Thrombey (Plummer), encontrado morto na manhã após a festa de seu 85º aniversário. Apesar da cena sugerir suicídio, não é o que pensa o detetive Benoit Blanc (Craig) que, contratado anonimamente, envolve-se na investigação. Desse modo, todos os familiares presentes na comemoração, incluindo filhos, netos e até os funcionários, se tornam suspeitos.


Interessado mais na exploração da dinâmica entre os personagens e no jogo pista-recompensa do que
 no mistério em si, o longa de Johnson se diferencia do sul-coreano Parasita ao centrar-se na família, ao invés da sociedade como um todo. O cineasta faz observações cruéis (mas verdadeiras) sobre as relações familiares, e muitos espectadores se identificarão imediatamente com situações ali apresentadas. Vemos aqui a nora interesseira, a neta pseudoidealista, o neto playboy bancado pelos pais e, claro, o filho que afirma ter vencido na vida, pois administra o negócio dado por seu pai. 

Ainda que acerte em suas escolhas artísticas, como razão de aspecto menor, cenários rebuscados e exageros típicos do gênero, o projeto não é isento de falhas. Mesmo brincando habilmente com as convenções do gênero, o diretor-roteirista (não leia o resto do parágrafo caso ainda não tenha assistido ao filme!) cai no velho clichê do vilão que confessa tudo enquanto é gravado secretamente. E convenhamos: quem faria isso em 2019? Além de prejudicar um terceiro ato belamente construído, personagens agindo contra a própria natureza acabam com a suspensão da descrença.


Fazendo comentários sobre sucessão patrimonial, direito de família e meritocracia, o projeto ainda encontra tempo para abordar geopolítica, trazendo uma piada recorrente sobre a nacionalidade de certa personagem. Encerrando-se com um plano emblemático, Entre Facas e Segredos rima tematicamente com Os Últimos Jedi, fazendo-nos lembrar que, um dia, talvez os humilhados sejam mesmo exaltados.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Paris Filmes.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Crítica: Frozen II (2019)


Dirigido por: Chris Buck e Jennifer Lee. Roteiro de: Jennifer Lee. Fotografia de: Tracy Scott Beattie e Mohit Kallianpur. Estrelando: Kristen Bell, Idina Menzel, Josh Gad e Jonathan Groff.

Maior bilheteria de uma animação da História (excluindo-se o “live-action” de O Rei Leão), Frozen acertou por empregar uma velha fórmula de um jeito inovador. Está tudo lá: a princesa em perigo, o coadjuvante engraçadinho, as músicas contagiantes e, claro, um vilão odioso. Assim sendo, torna-se agora o terceiro filme do cânone Disney a ganhar uma continuação, o primeiro sendo Bernardo e Bianca, em 1990, seguido por Detona Ralph, que ganhou sua sequência em 2018.

O roteiro, mais uma vez, acompanha a rainha Elsa (Menzel) e sua irmã Anna (Bell). Agora vivendo felizes em Arendelle, as moças têm sua paz interrompida quando Elsa começa a ouvir uma voz que a chama para ir além do que conhece. Desse modo, as duas irmãs se juntam a Kristoff (Groff) e ao boneco de neve Olaf (Gad) em direção ao desconhecido, para descobrir um antigo mistério de seu reino.

Ainda que os números musicais não sejam tão contagiantes quanto os do capítulo anterior, cumprem bem sua função de empurrar a história para a frente. E já que falei em músicas, o que houve com as adaptações incríveis para o português que eram feitas nas animações Disney dos anos 1990? Para onde foi a equipe que conduziu versões memoráveis das canções de A Pequena Sereia, Aladdin, A Bela e a Fera, Mulan (...)?

Desde Enrolados (2010), o que temos nas dublagens é uma mixagem pedestre, aliada a versos com métrica errada e adaptação medíocre, comprometendo bastante a experiência. E, juntando-se isso à mais do que provável escassez de cópias legendadas quando o filme estrear em janeiro, teremos que nos contentar com o trabalho pavoroso do estúdio brasileiro.

Já que citei o projeto de 2010, é impossível não notar que ambos os filmes incluem uma sequência envolvendo o rompimento de uma represa. A comparação inevitável entre as duas cenas nos faz perceber o quanto a animação de fluidos evoluiu na última década. Tecnicamente precisos, como de costume, os animadores da Disney merecem aplausos pelo capricho nos detalhes, como os reflexos em superfícies geladas, movimentos elegantes e, claro, por empregarem um design de produção rico não como um fim em si mesmo, mas em prol da narrativa.

Explorando um universo repleto de tons de branco, cinza e azul sem que isso se torne cansativo, o longa dá seguimento à lógica visual de seu antecessor. Mais uma vez, Elsa veste roxo no primeiro ato. Afinal, ela está “morta”, e logo depois vem a mesma transformação visual que já conhecemos. É uma repetição de fórmula? Certamente. Mas vejam que, se o roteiro do primeiro Frozen pecava por apresentar uma solução repentina demais para os problemas da rainha, aqui suas questões existenciais ficam esclarecidas. Agora, ela finalmente encontrou seu lugar.

Falando em Existencialismo, este também é o foco de Olaf, que faz piadas precisas (uma delas direcionada especificamente para os pais) e inteligentes, remetendo ao Burro da franquia Shrek. Se não há músicas dignas de nota, há cenas de ação eficientes casadas com momentos antológicos, e eu não poderia terminar esse texto sem ao menos mencionar a belíssima sequência envolvendo um cavalo. Frozen II diz muito para todas as idades. A jornada de descobrimento nunca acaba.

P.S.: há uma importantíssima cena pós-créditos.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Walt Disney Studios Motion Pictures.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Crítica: Zumbilândia 2 - Atire Duas Vezes (2019)













Dirigido por: Ruben Fleischer. Roteiro de: Rhett Reese, Paul Wernick e Dave Callaham. Fotografia de: Chung Chung-hoon. Estrelando: Woody Harrelson, Jesse Eisenberg, Abigail Breslin, Emma Stone e Rosario Dawson.

Dez anos após o incrível Zumbilândia, o diretor Ruben Fleischer retorna para esta continuação que, embora aqui e ali traga o gostinho do original, falha em seu propósito principal, sem conseguir replicar a experiência do filme de 2009. O foco nos carismáticos personagens continua, mesmo em meio a novas "espécies" de zumbi, uma delas bem mais difícil de matar que as criaturas do filme anterior.


Mais uma vez, acompanhamos a jornada da família composta pelo durão Tallahassee (Harrelson), seu fiel escudeiro Columbus (Eisenberg), a instável Wichita (Stone) e sua irmã Little Rock (Breslin, agora adulta). Morando na Casa Branca, os andarilhos parecem ter, finalmente, fixado residência. É uma questão de tempo até que eles se vejam forçados a romper seus laços. Afinal, o mundo é dominado por zumbis.


Recorrendo ao velho truque do road movie, Atire Duas Vezes até consegue passar a impressão de que algo realmente está acontecendo, quando na verdade é apenas o cenário que está mudando. Visualmente inventivo e com um design de produção afiado, temos aqui sets que dificilmente serão esquecidos, desde o museu dedicado a um certo cantor até a comunidade hippie que, habitando um arranha-céu abandonado, parece incapaz de reconhecer a ameaça representada pelos mortos-vivos.


Como quase toda continuação de comédia, o longa se vê preso à necessidade de reprisar situações de seu antecessor, bem como investe em gags que, embora engraçadas a princípio, cansam pela insistência, como a sequência envolvendo os "sósias" de Harrelson e Eisenberg. Já Emma Stone, eficiente como de hábito, acerta por não tentar fazer graça com sua Wichita, fazendo com que as piadas surjam naturalmente. Há um ou dois momentos realmente inspirados, envolvendo o fato daquele universo ter estagnado há mais de dez anos.


Embora não seja particularmente bem escrito ou atuado, o projeto tem carisma suficiente para se destacar em meio ao excesso de continuações que são lançadas todos os anos. Mais ambicioso que o original em suas sequências de ação, graças ao orçamento mais generoso e, claro, à experiência que o cineasta adquiriu nestes anos, Zumbilândia 2 se beneficia de uma duração breve. Além disso, traz aquela que é provavelmente uma das melhores cenas envolvendo zumbis da história do gênero. É o bastante para animar até o mais sisudo dos espectadores.


P.S.: fiquem até o fim dos créditos. Fiquem. Mesmo.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Sony Pictures

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Crítica: Coringa (2019)













Dirigido por: Todd Phillips. Roteiro de: Todd Phillips e Scott Silver. Fotografia de: Lawrence Sher. Estrelando: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz e Frances Conroy.

Em certo momento de Coringa, o personagem abre seu diário e a seguinte frase pode ser lida: "o problema em ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se porte como se não tivesse". E é com esse mote que Todd Phillips conduz seu ambicioso estudo de personagem sobre o vilão mais icônico da DC.


Sem uma trama definida e ambientado na transição dos anos 1970 para 1980, o roteiro, co-escrito pelo próprio diretor, acompanha a trajetória de Arthur Fleck (Phoenix), homem que paga suas contas trabalhando como palhaço durante o dia, enquanto tenta se inserir como humorista de stand-up à noite. Até que, numa dessas noites, assassina três corretores de bolsa de valores no metrô.


Focado única e exclusivamente no personagem-título, o longa evita referências a outros personagens da DC, com exceção (claro) da família Wayne. Exibindo uma magreza cadavérica, Joaquin Phoenix entrega uma das melhores performances de sua carreira. Trazendo um semblante com olhos tristes, que parece sempre preparado para irromper numa risada histérica, o ator certamente será indicado a vários prêmios por este trabalho. A reconstituição da época combina-se perfeitamente com a fotografia de Lawrence Sher, ajudando a estabelecer a existência miserável de Arthur e de sua mãe, vivida pela sempre ótima Frances Conroy (de Six Feet Under).


A montagem, infelizmente, acaba enfraquecendo a narrativa, como na cena envolvendo uma revelação sobre a natureza da relação do palhaço com sua vizinha (Beetz), na qual rápidos flashbacks mostram coisas que já deduzimos ao ouvir o diálogo. De todo modo, esta versão da trajetória do vilão parece ter dado origem a um acalorado debate sobre seus subtextos políticos e suposta mensagem "antissistema". O projeto, de fato, merece aplausos por abordar o descaso da classe política aos mais necessitados, a solidão e o abandono (tão comuns em grandes cidades) e, naturalmente, doenças mentais.


Tropeçando ligeiramente em seus minutos finais, e perdendo com isso a oportunidade de finalizar com um plano belíssimo, Coringa acerta por evitar o melodrama que tantos outros realizadores abraçariam. Isto 
é, sem dúvida alguma, indicativo do futuro promissor de seu diretor.

Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Crítica: It - Capítulo Dois (2019)

Dirigido por: Andy Muschietti. Roteiro de: Gary Dauberman. Fotografia de: Checco Varese. Estrelando: James McAvoy, Jessica Chastain, Bill Hader, Isaiah Mustafa, Jay Ryan, James Ransone e Bill Skarsgård.

Enquanto a primeira parte da adaptação de Andy Muschietti (de Mama) se concentrou na ideia de que o processo de amadurecimento não nos livra dos nossos demônios internos e externos, o Clube dos Otários se vê obrigado a lidar novamente com suas memórias mais nebulosas neste segundo capítulo.


Mais uma vez escrito por Gary Dauberman, It: Capítulo Dois retoma a história vinte e sete anos depois dos acontecimentos do longa anterior, quando o Clube se reúne novamente devido a novos casos de desaparecimento de crianças na cidade de Derry. E é com essa premissa que o roteirista desenvolve a versão adulta de cada um dos personagens que, mesmo tendo esquecido a maior parte do que acontecera em 1989, permaneceram sempre marcados por aqueles acontecimentos.


É uma pena, contudo, que o projeto invista tanto em flashbacks que pouco acrescentam à narrativa. Assim como no original, aqui também temos uma estrutura segmentada. Além de soarem como reprises de sequências do filme anterior, tais "episódios" desperdiçam a oportunidade de construir momentos similares com o elenco adulto que, por sinal, está fabuloso. De todo modo, as transições entre as cenas são fluidas o suficiente para nos manter interessados, já que o montador Jason Ballantine aposta em raccords elegantíssimos, meu favorito sendo o que mostra um céu estrelado que rapidamente se converte num quebra-cabeça.


Ligeiramente inchado em suas quase três horas de projeção, o projeto investe em várias piadas e referências, destacando-se Bill Hader, responsável pela maior parte dos momentos de humor. Jessica Chastain e James McAvoy também são muito eficientes ao abordar os dramas de seus personagens, já Stephen King (autor do livro, em uma ponta pouquíssimo inspirada) mostra, mais uma vez, que escreve bem melhor do que atua.


Finalizado com uma nota alta, It: Capítulo Dois é o tipo de filme que enviará o espectador para fora da sala profundamente reflexivo sobre o que acabou de testemunhar. Ainda que violento, melancólico e pessimista, o longa consegue reconhecer que, em última instância, nosso bem mais valioso é o amor e a amizade daqueles que nos cercam.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Crítica: Era Uma Vez Em... Hollywood (2019)













Escrito e dirigido por: Quentin Tarantino. Fotografia de: Robert Richardson. Estrelando: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie, Emile Hirsch, Kurt Russell, Bruce Dern, Timothy Olyphant e Al Pacino.

Atenção: este texto aborda detalhes da trama do filme.

Era Uma Vez Em... Hollywood, como todo projeto de Quentin Tarantino, retrata a obsessão de seu realizador pelo Cinema e sua percepção da arte. Nono projeto do cineasta (e anunciado como tal), o longa narra a jornada de Rick Dalton (DiCaprio), ator de televisão em decadência, e seu dublê e melhor amigo Cliff Booth (Pitt). Simultaneamente, acompanhamos a atriz Sharon Tate (Robbie), em sua andanças pela Cidade dos Anjos. Embora conte com um terceiro ato bem delimitado, o roteiro não segue uma trama definida, optando por desenvolver os personagens e as relações entre eles de maneira mais episódica, como de costume na filmografia do diretor.


Atento aos mínimos detalhes, Tarantino não hesita em abrir seu filme com um logo antigo da Columbia. Investe, também, num design de produção que reconstitui o período com um preciosismo quase obsessivo. Há inúmeras referências, por meio de pôsteres, letreiros com produções da época em marquises de cinemas, músicas... Tudo isso cria um interessante (e idealizado) retrato da Los Angeles do fim dos anos 1960. Assumindo um tom inesperadamente tenso toda vez que Tate entra em cena, o longa não hesita ao retratá-la com reverência absoluta, o que é ressaltado pela performance eficiente de Margot Robbie. Dito isto, é quase comovente notar o afeto que Tarantino demonstra no momento em que a jovem vai a um cinema assistir Arma Secreta Contra Matt Helm, filme do qual participou. Ao invés de recriar as cenas, o cineasta optou por manter a Tate real na tela. 


E não podemos falar da performance de Robbie sem citar a de seus colegas. Leonardo DiCaprio se sai bem como o vulnerável Dalton, que se equilibra entre a insegurança do artista e a imagem que este busca projetar. Como de costume, Brad Pitt destaca-se na fisicalidade de seu personagem, que o ajuda a compor um sujeito de caráter ambíguo, mas de personalidade dócil e divertida.


Apesar de tudo, acredito que Era Uma Vez nunca será unanimidade. Assim como Hitler não morreu num cinema parisiense, a noite de 8 de agosto de 1969 não acabou bem para Sharon Tate. Para muitos em Los Angeles, o assassinato da jovem atriz, por membros da família Manson, simbolizou o fim de uma era. Uma era pela qual Tarantino nutre profunda nostalgia.


É bem provável que esse final até mesmo irrite boa parte do público, que possivelmente repreenderá certa decisão tomada pelo diretor-roteirista. Se este for seu caso, sugiro que tente refletir sobre os acontecimentos de maneira alegórica, não literal. Se Dalton e Booth conseguiram evitar o assassinato de Sharon Tate, isso significa que a Era de Ouro de Hollywood não terminou? Se Tate e seus amigos nunca foram mortos, talvez esse mundo, que Tarantino cuidadosamente recriou, possa nunca ter morrido também. Afinal de contas, Cliff Booth salvou o dia.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Sony Pictures

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Crítica: Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro (2019)













Dirigido por: André Øvredal. Roteiro de: Dan e Kevin Hageman. Fotografia de: Roman Osin. Estrelando: Zoe Colletti, Michael Garza, Gabriel Rush, Austin Abrams, Dean Norris e Gil Bellows.

Segundo filme em inglês do norueguês André Øvredal, Histórias Assustadoras é o segundo esforço do cineasta no gênero terror. Em 2016, ele comandou o ótimo A Autópsia, e agora retorna com este novo projeto, produzido por ninguém menos que Guillermo del Toro.


O roteiro dos irmãos Hageman, baseado nos livros de Alvin Schwartz, se passa em 1968, acompanhando a jornada da jovem Stella. Dona de um passado traumático (quem poderia imaginar?) a garota descobre um livro em uma mansão abandonada. Só que, nesse livro, aparecem histórias terríveis, que se tornam reais. Agora, a moça deve desvendar o mistério por trás dessa maldição, juntamente com seus amigos.


Iniciado com uma narração em off que resume bem a proposta, os realizadores investem num primeiro ato envolvente que apresenta os personagens e seus dilemas de forma eficiente. O longa acerta por ancorar sua narrativa na performance segura de Zoe Colletti. Ainda que tendendo à unidimensionalidade, a jovem atriz consegue imprimir peso dramático à Stella, já que nunca duvidamos da urgência de suas ações e da força de seus traumas, ainda que clichês.


Ainda que apresente sequências promissoras, que começam bem ao priorizar a construção da atmosfera, Øvredal infelizmente cai na armadilha dos jump scares, além de mostrar criaturas e elementos que ficariam melhor sugeridos ou subentendidos. O exemplo mais óbvio é a ridícula criatura que persegue o personagem de Michael Garza no terceiro ato. Além de copiada de filmes muito melhores, distrai por sua artificialidade. A lógica das cores empregadas pela fotografia de Roman Osin se revela previsível, ainda que coerente, com destaque para os corredores que em certo momento mergulham no vermelho.


Incluindo simbolismos óbvios o suficiente para que possamos intuir suas insatisfatórias respostas, Histórias Assustadoras ainda termina com um fraquíssimo gancho para uma continuação. Não se alongando mais do que o necessário, o projeto não é ruim, mas provavelmente será uma decepção para os fãs do livro. É triste constatar que o diretor deveria ter se ocupado mais em resolver os problemas narrativos do que em plantar a semente de uma sequência que, se realizada, terá uma dificílima missão pela frente.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Diamond Films.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Crítica: Homem-Aranha - Longe de Casa (2019)













Dirigido por: Jon Watts. Roteiro de: Chris McKenna e Erik Sommers. Fotografia de: Matthew J. Lloyd. Estrelando: Tom Holland, Samuel L. Jackson, Zendaya, Marisa Tomei, Jake Gyllenhaal, Jacob Batalon e Jon Favreau.

Homem-Aranha: Longe de Casa começa logo após os eventos de Vingadores: Ultimato, sendo o último filme da Saga do Infinito. Enlutado pela perda de Tony Stark, o Cabeça de Teia ainda tem de lidar com a pressão por saber quem será o sucessor do seu antigo mentor. Com o cargo vago, em meio ao mundo pós-blip, o jogo está aberto.

Novamente comandado por Jon Watts, o longa retrata uma viagem escolar para a Europa, o que não é apenas eficiente do ponto de vista da ambientação (afinal, ninguém aguenta mais ver Nova York indo pelos ares) como representa bem a ideia de um novo começo para os personagens. No entanto, eles dificilmente conseguirão descansar, já que Nick Fury (Jackson) acaba recrutando Peter (Holland) para ajudá-lo a derrotar criaturas conhecidas como Elementais, que vêm causando catástrofes por todo o mundo. Para tanto, ele se juntará a Mysterio (Gyllenhaal), um novo super herói cujas reais intenções são mais sombrias do que parecem.


A ação aqui é bem mais interessante do que aquela vista em De Volta ao Lar. Se as sequências de ação do filme de 2017 foram concebidas como uma coleção de cortes frenéticos e movimentos incompreensíveis, aqui podemos observar com clareza a geografia da cena, bem como quem se move em direção a quem. Tal abordagem, por sua vez, se faz essencial para a narrativa, pela própria natureza do Mysterio, interpretado com eficiência por Jake Gyllenhaal.


Apostando num elenco que agrada pela diversidade, desde o contraste entre Ned e Betty até a garota que usa hijab, Watts é esperto ao perceber que o carisma de Tom Holland é o que realmente sustenta o filme. O jovem ator retrata bem o conflito interno de seu personagem, indeciso sobre levar a vida de um adolescente normal ou abraçar sem reservas seu lado herói. E como todo herói tem um mentor, desta vez a tarefa cabe ao improvável Happy (Favreau, diretor de Mogli e O Rei Leão), que não somente a cumpre, como também serve de alívio cômico.


De todo modo, o projeto é suficientemente divertido, moderno e inteligente o suficiente para merecer uma inequívoca recomendação. Mesmo investindo numa fórmula já desgastada, o MCU prova que ainda têm boas histórias para contar. Preparando o terreno para a nova fase da Marvel, mas sem soar como mero trailer de episódios futuros, o longa introduz novos elementos que certamente serão importantes nas próximas fases. Aguardemos.


P.S.: Há duas importantíssimas cenas pós-créditos.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Sony Pictures.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Crítica: Annabelle 3 - De Volta Para Casa (2019)













Dirigido e roteirizado por: Gary Dauberman. Fotografia de: Michael Burgess. Estrelando: Mckenna Grace, Madison Iseman, Katie Sarife, Patrick Wilson e Vera Farmiga.

Terceiro filme da “subfranquia” protagonizada pela boneca amaldiçoada, que por sua vez faz parte do universo estendido originado pelo ótimo Invocação do Mal (2013), este De Volta Para Casa é a estreia na direção do produtor e roteirista Gary Dauberman. Colaborador habitual da franquia, aqui ele mostra ter domínio da linguagem, ainda que os resultados apresentados sejam irregulares.

Cronologicamente, a narrativa é uma midquel, já que seus eventos se passam entre os dois Invocação do Mal. Iniciando com a mesma cena já vista no primeiro Annabelle (sim, é o terceiro filme da série que começa de maneira exatamente igual), acompanhamos aqui os esforços do casal Ed e Lorraine Warren para manter a boneca presa no porão. Até que, certo dia, uma jovem desavisada libera sua maldição mais uma vez.

Dauberman acerta ao desenvolver seus personagens, evitando que soem caricatos. Ainda que as motivações de Daniela para adentrar no armazém dos Warren soem bobas demais, nos envolvemos o suficiente para torcer por ela e sua amiga Mary Ellen, interpretada pela ótima Madison Iseman. Patrick Wilson e Vera Farmiga estão no piloto automático, ainda que a química entre ambos seja palpável. Já a garotinha Mckenna Grace faz um bom trabalho ao compor a criança perturbada tão comum em filmes de terror.

Retratando diversos novos espíritos que eventualmente darão origem a mais spin-offs, o longa apresenta um design de produção eficiente, que em conjunto com a fotografia de Michael Burgess cria ambientes verdadeiramente assustadores. Fugindo do clichê de manter a escuridão absoluta, o filme investe em fontes de luz inusitadas, como um abajur cujas cores se alternam, resultando num plano que classifico como “brilhante” sem hesitação.

Merecendo aplausos por evitar um deus ex machina óbvio, o diretor-roteirista cria uma resolução coerente e emocionalmente satisfatória. De Volta Para Casa não é tão eficiente como exercício de gênero quanto outros filmes da franquia, causando um efeito bem menos duradouro do que, por exemplo, Invocação do Mal 2. De todo modo, é um entretenimento interessante, sugerindo que o “MCU do terror” (rs) ainda tem fôlego.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Crítica: Casal Improvável (2019)













Dirigido por: Jonathan Levine. Roteiro de: Dan Sterling e Liz Hannah. Estrelando: Seth Rogen, Charlize Theron, O'Shea Jackson Jr., Andy Serkis e Bob Odenkirk.

Seguindo a mais que manjada fórmula do odd couple, este Casal Improvável é mais uma comédia que aposta em velhos clichês, mas com o diferencial de contar com o carisma de Seth Rogen e Charlize Theron. Mistura de comédia romântica e pastelão, o projeto do diretor de Meu Namorado é Um Zumbi chega a empregar o ótimo Andy Serkis, irreconhecível, em uma quase ponta, bem como faz piada com o geralmente sério Alexander Skarsgard.


O longa narra a história de Fred (Rogen), jornalista investigativo que, após ficar desempregado, reencontra sua antiga babá, agora Secretária de Estado (Theron). Quando ela decide se lançar como candidata à presidência, acaba contratando-o para elaborar seus discursos.


Com uma direção ágil e segura, Jonathan Levine consegue imprimir ritmo numa narrativa que depende de um. Ainda que o roteiro aposte em situações que, mesmo para uma comédia, sejam absurdas demais, é divertido acompanhar o crescimento dos personagens, desde o empoderamento de Charlotte, que aos poucos ressignifica seu idealismo desenfreado, até o amadurecimento de Fred, que se autoquestiona sem perder o senso de humor. Dialogando com a política moderna por meio do presidente interpretado por Bob Odenkirk, Levine é esperto ao fazer graça enquanto aponta incongruências cada vez mais comuns nos EUA, como um negro (Jackson) votar no Partido Republicano.


Orá óbvio, ora sutil, os realizadores fazem críticas sociais interessantes. Ainda que ligeiramente inchado em seus 125 minutos de projeção, o longa encontra tempo para discutir empoderamento feminino, workaholism, papéis de gênero e até a 
(perigosa) influência dos grandes conglomerados de mídia. E mesmo não se aprofundando em nenhum desses temas, é louvável perceber que o roteiro jamais coloca em dúvida a capacidade da protagonista em ocupar os cargos que ocupa. Ácido e muito divertido, Casal Improvável é, acima de tudo, um filme moderno.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paris Filmes.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Crítica: Dor e Glória (2019)













Dirigido e roteirizado por: Pedro Almodóvar. Estrelando: Antonio Banderas, Asier Etxeandia, Leonardo Sbaraglia e Penélope Cruz.

Salvador Mallo (Banderas) é um cineasta em declínio, após um período produtivo que culminou numa cirurgia de coluna, limitando sua saúde. Após a restauração de um dos seus mais famosos filmes, Mallo sai em busca do ator que interpretou o protagonista (Etxeandia) da obra, para que se reconciliem trinta anos depois de terem brigado. Enquanto acompanhamos a decadência física e emocional de Salvador, somos apresentados à memórias de sua infância, nas quais vemos sua mãe, interpretada por Penélope Cruz.

E é com essa premissa que o novo filme de Almodóvar, seu trabalho mais pessoal, começa. Apostando numa narrativa não-linear, acompanhamos à persona fria e desesperançosa de seu protagonista, ao passo que sua versão infantil impede que o roteiro caia no melodrama. De certo modo remetendo ao Chiron de Moonlight, o garoto (sempre esperto e vivaz) percebe-se diferente ainda pequeno, e Almodóvar reforça nossa identificação ao frequentemente enquadrá-lo no terço inferior da composição, deixando-o encurralado.

Antonio Banderas entrega o que provavelmente é a melhor performance de sua carreira, ao passo que Asier Etxeandia é eficiente ao ilustrar a importância de seu personagem na vida do protagonista. E tão interessante quanto as atuações é o design de produção, que aposta em interiores coloridos, como a casa de Mallo, que, com sua enorme coleção obras de arte, tenta preencher seu vazio afetivo.

Finalizando com uma pequena (e divertida) reviravolta, Dor e Glória é o projeto mais intimista das quase quatro décadas de carreira do diretor espanhol. Ao mesclar linhas narrativas, o cineasta destaca a ambiguidade dos fatos. Desse modo, o filme se torna um claro exemplo de autoficção, na qual um narrador não confiável faz com que fiquemos indecisos sobre o que é real e o que não é. Depois do medíocre Os Amantes Passageiros (2013) e do razoável Julieta (2016), é bom vê-lo entregar uma experiência verdadeiramente inspiradora.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: UPI e Universal Pictures.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Crítica: X-Men - Fênix Negra (2019)













Dirigido e roteirizado por: Simon Kinberg. Estrelando: James McAvoy, Michael Fassbender, Jenfer Lawrence, Nicholas Hoult, Sophie Turner e Jessica Chastain.

Em certo momento de Fênix Negra, filme que teoricamente conclui a série X-Men como a conhecemos, uma personagem pergunta "quem somos nós?", questão que aqui soa terrivelmente adequada ao projeto comandado por Simon Kinberg, que parece incerto sobre seu próprio objetivo. Roteirista e produtor habitual da franquia, Kinberg estreia na direção com um longa que, convenhamos, tem uma função ingrata.


Novamente adaptando uma das mais conhecidas sagas dos X-Men nos quadrinhos, o roteiro de Kinberg retoma os acontecimentos dez anos após o medíocre Apocalipse, no qual fomos apresentados à versão mais jovem de Jean Grey, vivida por Sophie Turner. Após um acidente numa operação de resgate espacial realizada pelos X-Men, a moça vê seus poderes se tornarem cada mais maiores e fora de controle, o que atrai a atenção de uma espécie alienígena comandada por Vuk (Jessica Chastain).


Ao adotar como centro narrativo o conflito interno de Jean com seus novos poderes e o autoquestionamento de Xavier (McAvoy, sempre excelente) como líder do grupo, Fênix Negra não se torna um desastre completo. Michael Fassbender e Jennifer Lawrence pouco tem a fazer como Magneto e Mística, e a insistência desta em manter-se na maior parte do tempo em sua forma "humana" vai contra o arco dramático que os filmes anteriores estabeleceram tão bem. Já a talentosíssima Jessica Chastain pouco pode fazer como vilã, já que o roteiro a sabota com diálogos absurdos ("Você é mais poderosa do que imagina."), que combinados à decupagem pedestre e aos movimentos de câmera caóticos, quase provocam riso.


Já no quesito ação, o que temos são sequências burocráticas, amadoramente dirigidas, já que Kinberg falha em estabelecer a geografia das cenas, bem como as regras do jogo. A interação entre os mutantes e seus diversos poderes é sempre divertida de acompanhar, mas... Quantos inimigos mesmo estão lutando contra os heróis? Quem está caminhando em direção a quem? E por aí vai.


Não deixa de ser simbólico observar o esgotamento criativo de uma saga que antes era fonte inesgotável de alegorias sociais. Se afastando de qualquer atmosfera pesada e não se arriscando tematicamente, o derradeiro projeto da franquia de quase vinte anos se sustenta apenas no entretenimento genérico. Agora, sob o comando da Disney, será que os X-Men retornarão das cinzas?


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e 20th Century Fox.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Crítica: A Lenda de Golem (2018)


Dirigido por: Doron e Yoav Paz. Roteiro de: Ariel Cohen. Estrelando: Hani Furstenberg, Aleksey Tritenko, Konstantin Anikienko e Ishai Golan.

Longe de ser o terror lugar-comum que seu marketing sugere, A Lenda de Golem traz uma abordagem respeitosa ao seu material de origem. Com atuações sinceras, design de produção eficiente e personagens interessantes, o longa consegue vencer suas próprias limitações, como o montagem sem ritmo e roteiro truncado. Produção israelense falada em inglês, o filme dos irmãos Doron e Yoav Paz é o segundo de suas carreiras a atingir alguma projeção internacional, após o razoável Jeruzalem (2015).

Ambientada na Lituânia do século XVII, a narrativa acompanha a jornada de Hanna (Hani Furstenberg), mulher que perdeu seu filho há quase uma década. Habitante de um vilerajo judeu, ela espiona reuniões de rabinos e estuda secretamente a cabala. Após um conflito com gentios que culpam seu povo por uma praga, Hanna cria um Golem, espécie de servo mítico criado artificialmente, segundo a tradição judaica.

Desperdiçando a boa ideia de que o Golem funcionaria como uma extensão de seu criador e, consequentemente, de sua personalidade, a dupla de diretores peca por se entregar ao mero gore, bem como ao velho clichê da criança-assustadora-perversa. Fartamente explorado desde Cemitério Maldito (1989), o conceito aqui é absolutamente ineficaz, e o fato de o monstro ser interpretado por um péssimo ator mirim (Anikienko) também não ajuda.

Incluindo uma cena claramente inspirada pelo sublime A Bruxa, o projeto parece bem mais longo do que seus meros 95 minutos de projeção. Ao menos, os cineastas entendem que este é um filme que somente funcionará caso o espectador compreenda a ligação física e psíquica entre a criadora e sua criatura. Desse modo, ao fazê-la o centro absoluto da narrativa, conseguimos abstrair as subtramas bobas e nos concentrar no que realmente importa. No fim das contas, o saldo é positivo.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e PlayArte Filmes.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Crítica: Godzilla II - Rei dos Monstros (2019)













Dirigido por: Michael Dougherty. Roteiro de: Michael Dougherty, Zach Shields. Estrelando: Kyle Chandler, Vera Farmiga, Millie Bobby Brown, Sally Hawkins, Charles Dance e Ken Watanabe.

Provavelmente inspirada pelos inúmeros universos compartilhados que se multiplicaram na última década, a Legendary Entertainment deu início ao seu MonsterVerse em 2014, com o razoável reboot de Godzilla. Seguido pelo ótimo Kong: A Ilha da Caveira, o kaiju finalmente retorna neste novo projeto, agora contando com a participação de várias outras criaturas clássicas do cinema de ação japonês.

Co-escrito pelo próprio diretor, o roteiro retoma os acontecimentos cinco anos após a destruição de São Francisco, clímax do primeiro filme. E, assim como aquele projeto, este também tenta promover envolvimento do espectador com os personagens, de modo a evitar a nulidade emocional tão comum em filmes-desastre. A má notícia é que, mais uma vez, é dado foco desnecessário a personagens mal desenvolvidos, subtramas descartáveis e mensagens ecológicas sem sentido. O resultado é um longa metragem sobre monstros lutando que, incrivelmente, soa aborrecido.

Assim, no primeiro ato somos apresentados à Dra. Emma Russell (Farmiga), que em 2014 perdeu seu filho mais velho, irmão de Madison Russell (Millie Bobby Brown, chatinha como sempre). Emma é uma das principais cientistas da Monarch, empresa que supervisiona os titâs, mantendo-os adormecidos. Quando um equipamento de comunicação via sonar com os monstros cai nas mãos de um ecoterrorista, Emma, Madison e os demais cientistas da Monarch se veem diante de um conflito de gigantes que pode acabar com a humanidade.

Se por um lado a narrativa beira o ridículo, o diretor ao menos é inteligente ao estebelecer a geografia das cenas e deixar que acompanhemos as cenas de ação, já que Gareth Edwards (Rogue One) praticamente não permitia que víssemos o personagem-título no filme de 2014. Mesmo com vários desafios técnicos (várias batalhas se passam à noite e com chuva), conseguimos acompanhar a ação sem que ela pareça confusa. Há uma batalha que foi iluminada de maneira absolutamente brilhante, vocês reconhecerão imediatamente ao assistir. É bem possível, afinal de contas, acompanhar lutas à noite. Fica a dica para o diretor de fotografia de um episódio recente de certa série...

O design das criaturas não sai do óbvio, com destaque para a belíssima Mothra, mariposa gigante que aqui é aprensentada em sua versão mais interessante desde a primeira aparição, em 1961. Já a fotografia se mostra bem mais caprichada, com quadros tão lindos que dá vontade de printar, emoldurar e pendurar na parede. 

Rei dos Monstros é um projeto que reafirma o que todos já sabem: boas cenas de ação e efeitos visuais de ponta não substituem uma boa narrativa. Não que o filme seja totalmente desprovido de charme... como não admirar a coragem de um longa que, em 2019, traz um computador iniciando o sistema com uma barra de progresso mostrando o estágio?

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Crítica: Rocketman (2019)













Dirigido por: Dexter Fletcher. Roteiro de: Lee Hall. Estrelando: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden e Bryce Dallas Howard.

Contar a história de Elton John não é fácil. Trazendo uma abordagem distinta de todas as cinebiografias de astros do rock vistas até agora (incluindo o mediano Bohemian Rhapsody), o diretor britânico Dexter Fletcher acerta ao investir em um tom irreverente e, ao mesmo tempo, intimista.


Consistindo num musical que utiliza as próprias canções de Elton para impulsionar a narrativa, o roteiro tem como ponto de partida uma das idas do protagonista à uma clínica de reabilitação. Desse modo, ele conta sua história de vida, desde a infância, para seus colegas etilistas. É justamente aí que a esperteza de Fletcher vem à tona. Diretor que assumiu Bohemian Rhapsody após o afastamento de Bryan Singer, Fletcher é hábil ao perceber que, ao colocar o cantor nessa posição, temos na verdade um unreliable narrator, já que nem tudo que John conta na reunião é o que aconteceu de fato, permitindo que seu intérprete (Egerton) tenha mais camadas a explorar.


Taron Egerton (de Kingsman), está impecável como Elton John. Reproduzindo fielmente os maneirismos do cantor, bem como interpretando suas canções, o ator dá peso dramático a ele, evitando cair na imitação e na caricatura. O mesmo não pode ser dito sobre os personagens secundários. Com exceção do letrista vivido por Jamie Bell, os demais personagens soam sempre unidimensionais. O pai frio, a mãe cética, o empresário vilanesco...


Como de costume em biografias de celebridades, o arco gira em torno da ascensão, fundo do poço e redenção. Dito isto, o diretor é hábil ao aproveitar as indumentárias espalhafatosas do músico para ressaltar seu isolamento, o que se encaixa perfeitamente com o formato de musical fantasioso, já que todos os números se passam na mente do astro. Além disso, o projeto não se foca no processo criativo ou nas inspirações por trás das melodias, ao contrário de dezenas de outros filmes sobre cantores ou compositores.


Contagiante e espalhafatoso, o filme peca apenas por tentar incluir o maior número possível de acontecimentos da vida de John, esquecendo-se que, ao contrário de um livro, um roteiro cinematográfico sempre evidencia por si só qualquer elemento desnecessário. Ainda que pontualmente se entregue à convenções, como letreiros finais, verdadeira praga das cinebiografias, Rocketman consegue ser tocante sem tentar colocar panos quentes em acontecimentos polêmicos. De todo modo, é um ótimo filme sobre um grande ícone.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

sábado, 11 de maio de 2019

Crítica: John Wick 3 - Parabellum (2019)













Dirigido por: Chad Stahelski. Roteiro de: Derek Kolstad, Shay Hatten, Chris Collins, Marc Abrams. Estrelando: Keanu Reeves, Halle Berry, Laurence Fishburne, Mark Dacascos, Asia Kate Dillon, Anjelica Huston, Ian McShane e Saïd Taghmaoui.

A franquia John Wick traz exatamente o tipo de filme consciente de todos os clichês que utiliza, desde as jornadas por vingança até as lutas absurdas, beirando o cartunesco. Trazendo como mote a expressão latina "si vis pacem, para bellum" ("se quer paz, se prepare para a guerra"), o projeto dá sequência à história de um homem que, desde o primeiro filme, não mede esforços para manter viva a memória de sua amada.


Iniciando imediatamente após os acontecimentos do último longa, o roteiro escrito a oito mãos segue o matador de aluguel John Wick (Reeves), que agora é caçado por ter tirado uma vida dentro do Hotel Continental, que serve de abrigo a todos os assassinos do mundo e, consequentemente, nenhum contrato pode ser ali executado. Desse modo, Wick batalha para se manter vivo, enquanto tenta sair da cidade de Nova York.


Parabellum acaba se vendo preso à obrigação de trazer perigos maiores, riscos mais intensos e, claro, mais vilões para atrapalhar a vida do protagonista, c
omo quase sempre acontece em toda franquia protagonizada por heróis (ou, neste caso, anti-herói). Só que, diferentemente dos filmes de super-herói, nos quais nunca tememos realmente pelo destino dos personagens, aqui as ameaças soam palpáveis. Desde o ambíguo Winston (McShane) até a pragmática "juíza" vivida por Asia Kate Dillon, todas as figuras presentes no Wickverso soam verdadeiramente ameaçadoras, o que, combinado à composição impecável de Keanu Reeves, garante envolvimento total do espectador.

Interessado mais na estética e na coreografia do que em subtextos, o filme mais uma vez investe em uma ambientação típica do gênero neo-noir, com fotografia escura, cores fortes e contrastantes, luz e sombra... E, nas cenas diurnas, céu sempre nublado. As lutas corporais variam entre o sangrento, o caricato e o quase cômico, com destaque para a briga envolvendo facas, no primeiro ato.


Mesmo deixando pontas soltas a serem exploradas em continuações e spin-offs, o longa felizmente consegue ser um fim em si mesmo, evitando o erro comum de soar como um trailer de acontecimentos futuros. Por via das dúvidas, a personagem de Halle Berry merecia um filme só dela, não é mesmo?


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Paris Filmes.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Crítica: A Maldição da Chorona (2019)













Dirigido por: Michael Chaves. Roteiro de: Mikki Daughtry e Tobias Iaconis. Estrelando: Linda Cardellini, Raymond Cruz, Patricia Velásquez e Marisol Ramirez.

Espécie de MCU dos filmes de terror, o universo compartilhado originado pelo ótimo Invocação do Mal é, no mínimo, irregular. Contando com projetos excelentes e outros nem tanto (A Freira), a franquia capitaneada por James Wan agora apresenta este A Maldição da Chorona, que embora tente oferecer uma experiência consistente, peca pelo roteiro preguiçoso e direção amadora.

Ambientado na Los Angeles de 1973, o filme acompanha a mãe solteira Anne (Cardellini, de Green Book), assistente social que investiga um suposto caso de abuso infantil. Ela descobre, ao ouvir a confissão da mãe, que as crianças foram levadas por uma entidade conhecida como A Chorona. Tal espírito, naturalmente (rs), passa a perseguir Anne e seus próprios filhos.

Desperdiçando a oportunidade de criar uma narrativa envolvente com um estilo marcante, o design de produção do longa não consegue fugir do óbvio. Ao contrário dos Invocação do Mal, onde víamos referências orgânicas aos anos 1970, aqui só percebemos não se tratar de uma história contemporânea pela ausência de smartphones. O diretor estreante Michael Chaves até tenta emular o estilo de James Wan, porém erra ao investir apenas em jump scares óbvios e numa trilha sonora pesada. Filmes de gênero realmente tendem a atrair diretores preguiçosos.


Linda Cardellini encarna bem a mãe desesperada, ao passo que o sempre ótimo Raymond Cruz (de Breaking Bad) pouco pode fazer como o ex-padre Rafael Olvera, já que os roteiristas chegam até mesmo a repetir suas piadas. Mais óbvia ainda é a personagem-título, concebida com pobres efeitos visuais e maquiagem pedestre. Os dois atores mirins que interpretam os filhos da protagonista são até simpáticos, mas seus personagem são tão estupidamente patéticos... Fica difícil torcer por eles.


Talvez aproveitável para quem ainda não viu muitos filmes de terror, o longa acerta, pelo menos, ao não incluir muitas referências aos outros filmes da franquia. Desse modo, não compromete nossas lembranças. Aguardemos Annabelle 3.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Warner Bros. e Espaço Z.

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Grants For Single Moms