“What are we going to do with this one, Frank?”
Título
original: C'era una volta il West. Dirigido
por: Sergio Leone. Produzido por: Fulvio Mosella, Bino Cicogna. Roteiro de:
Sergio Donati, Sergio Leone. Montado por: Nino Baragli. Fotografia de: Tonino
Delli Colli. Música de: Ennio Morricone. Estrelando: Claudia Cardinale, Henry
Fonda, Jason Robards, Charles Bronson.
De modo a aproveitar o
sucesso dos filmes western americanos,
que estavam em baixa na década de 1960, o cinema europeu produziu uma obra
única. Fazendo parte do gênero conhecido como western spaghetti, como são chamados os filmes desse tipo realizados por diretores italianos, Era Uma Vez no Oeste hoje é aclamado como um dos maiores filmes de
todos os tempos e como o melhor do seu segmento. Houve um erro na tradução do
título em italiano para o inglês e, posteriormente, para o português. O título
original significa “Era Uma Vez o Oeste”, isto é, o fim do Oeste como era
conhecido através da chegada do progresso.
Com pouco diálogo e muita
tensão, o filme acompanha quatro personagens pricipais: o bandido Cheyenne, a
ex-prostituta Jill McBain, o matador de aluguel Frank e um homem misterioso que
sempre carrega uma gaita. Os quatro acabam se cruzando quando um barão
ferroviário contrata Frank para matar Brett McBain, dono de terras que
valorizar-se-iam com a chegada da ferrovia. A produção foi rodada no deserto de
Almeria, na Espanha, no deserto de Utah e nos famosos estúdios Cinecittà (os
interiores), na Itália (mesmo local onde foram gravadas produções como Ben-Hur, Cleópatra e o recente seriado Roma,
da HBO).
Dono de um estilo
refinadíssimo, Sergio Leone explora com maestria recursos como diferentes
profundidades de campo e os quatro pontos de fuga da tela. Causando o máximo de
impacto possível no espectador, a obra explode no momento certo e se consagra
como a maior ópera de violência (nas palavras do próprio diretor) da história
do cinema. A trilha sonora é incrível, soando ao mesmo tempo
melancólica e evocativa, sendo capaz de traduzir perfeitamente as tensões que
afloram e as transformações em curso.
Poucas películas possuem uma
quantidade tão grande de sequências antológicas como essa. Além da sequência de
abertura, destacam-se a chacina da família irlandesa (ponto de partida para a
trama), o plano sem cortes que mostra a chegada de Jill à Tombstone, o ataque
de Cheyenne ao trem, a vila em construção... A fotografia acerta por situar
todos os personagens na mesma realidade (leia-se: não representar mocinhos
limpos e bandidos sujos e com roupas esfarrapadas). Além disso, o diretor de
fotografia Tonino Delli Colli consegue valorizar cada rosto com seus closes,
algo que nem sempre é atingido no cinema.
As atuações são nada menos que incríveis e memoráveis. Os olhos azuis de Henry Fonda formam um contraste sensacional com sua frieza e seu rosto envolto em sombras (destaque para a cena da chacina, em que um close magnífico contrapõe os dois elementos evidenciando os olhos do ator e a sombra produzida pelo chapéu). Cláudia Cardinale está linda como Jill McBain e basta um olhar de Charles Bronson para sabermos que aquela é uma pessoa a quem não se deve aborrecer.
Dos 165 minutos de projeção,
existem 30 minutos de diálogo, no máximo. As falas são secas, curtas e
sintéticas. Simplesmente fenomenais. Alguns podem, com razão, até taxar o filme
de lento e arrastado, mas é indiscutível que foi construído com muito cuidado e
suspense. Um fato interessante é que Leone não utilizou storyboards (algo impensável em Hollywood), alegando que todas as
cenas já estavam construídas em sua mente.
Em meio a travellings, planos abertos seguidos de
closes fechadíssimose uma violência operística e coreografada, vê-se o ápice de um realizador que, acima de
tudo, tem estilo e linguagem apurados. Um filme para quem ama o cinema. Sem
dúvida.
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