quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Crítica: Besouro Azul (2023)

Dirigido por: Ángel Manuel Soto. Roteiro de: Gareth Dunnet-Alcocer. Fotografia de: Pawel Pogorzelski. Estrelando: Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Adriana Barraza, Damián Alcázar, Raoul Max Trujillo e Susan Sarandon.

Primeiro filme da DC centrado num herói latino e penúltimo filme do DCEU, antes de sua repaginada, Besouro Azul é um projeto no mínimo interessante. É certo que os executivos da Warner esperam um desempenho melhor do que The Flash. Ao que parece, o novo herói já é membro do novo Universo Compartilhado da DC, porém este só começará oficialmente com Superman Legacy (pois é).

O roteiro acompanha Xolo Maridueña (de Cobra Kai) como Jaime Reyes que, recém graduado no college, retorna para sua cidade natal, a fictícia Palmera City. Inadvertidamente, o rapaz é escolhido como hospedeiro de uma inteligência alienígena que, claro, concede a ele um exoesqueleto poderoso. Temos, então, nosso super-herói. A supervilã da vez é interpretada, de modo absolutamente caricatural, por Susan Sarandon.

É triste, no entanto, que o projeto reforce todo tipo de estereótipo sobre latinos. A família grande e numerosa, a falta de individualidade (todos sempre sabem o que se passa na vida de todos), a alegria onipresente (tristeza aqui é tabu), a baixa escolaridade, o gosto por entretenimentos de qualidade duvidosa... Enfim, tudo que o norte-americano médio associa ao imigrante latino. Se já está irritante na franquia do Vin Diesel, imagina num gênero já absolutamente saturado.

E se falei sobre estereótipos, tenho que mencionar também quem não os reproduz. Bruna Marquezine faz um bom trabalho como Jenny, o interesse amoroso do protagonista. O fato dela ser brasileira é mencionado casualmente pelo roteiro, mas sua graça e energia engrandecem o projeto. Sem falar na pronúncia afiada, fugindo ao clichê da atriz latina com inglês questionável. Com bom valor de entretenimento e sequências de ação interessantes, o filme tem uma missão difícil pela frente, ao tentar reacender um gênero fadigado e, especialmente para a Warner, financeiramente decepcionante em 2023.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Crítica: Fale Comigo (2022)

Dirigido por: Danny e Michael Philippou. Roteiro de: Danny Philippou e Bill Hinzman
. Fotografia de: Aaron McLisky. Estrelando: 
Sophie Wilde, Alexandra Jensen, Joe Bird, Otis Dhanji e Miranda Otto.

Horror exibido pela primeira vez ainda em 2022, no Adelaide Film Festival, Austrália, Talk to Me (milagrosamente, não ganhou subtítulo no Brasil) gerou hype suficiente para chegar ao Festival de Sundance e ganhar distribuição pela A24. Ambientado na mesma cidade que sediou sua première, e dirigido por dois irmãos gêmeos já conhecidos no YouTube, o projeto explora o sobrenatural por meio de temas já batidos, é verdade, mas o roteiro e atuações conseguem ser envolventes o suficiente para cativar o espectador. Primeiro trabalho cinematográfico da dupla, o filme é extremamente promissor tanto em narrativa quanto em linguagem. No Brasil, a distribuição ficou a cargo da Diamond Films.

A trama, concebida por Danny Philippou e Bill Hinzman, gira em torno de um grupo de jovens que, claro, descobrem uma maneira nada prudente de se entreter em festas: uma mão embalsamada, capaz de contactar o mundo dos mortos. Até aí, tudo bem, é uma premissa tradicional de filmes sobre espíritos. À princípio temerosa com a "brincadeira", a jovem Mia (Wild) descobre segredos obscuros a partir do objeto sobrenatural, e a linha entre os vivos e os mortos começa a desaparecer.

O roteiro toma o cuidado de retratar seus personagens como figuras multidimensionais (ainda que indubitavelmente irresponsáveis), dotadas de dores, traumas e necessidade de escapismo e conexão. Assim, foge-se do clichê do(a) jovem descartável, tão comum no terror, cuja disponibilidade sexual habitualmente determina o momento de seu fim (ou possibilidade de sobrevivência). Sophie Wild capta perfeitamente a vulnerabilidade e a determinação de Mia, de modo a proporcionar uma performance carregada pela emoção advinda da possibilidade de conexão com sua falecida mãe. A novata Alexandra Jensen, no papel da triste Jade, serve de bússola moral para o grupo. Os mais atentos talvez reconheçam a veterana Miranda Otto (a Éowyn, de O Senhor dos Anéis), em mais uma performance contumaz.

A cinematografia e design de produção merecem aplausos, pois criam uma atmosfera intensa, que remete ao pesadelo sem apelar para a estilização excessiva. Enquadramentos precisos e uso criativo da iluminação, aliados à maquiagem impecável, adicionam uma sensação de tensão palpável, aumentando o suspense e aprofundando a imersão na narrativa. Esta, por sua vez, mesmo não inovando do ponto de vista temático, agrada pelo peso dramático que confere à decadência física, mental e espiritual de sua protagonista.

Fale Comigo é uma estreia cinematográfica triunfal, realizada por uma dupla que sempre foi promissora em todas mídias nas quais já atuou. Enquanto o anúncio de uma sequência entusiasma os fãs, é importante notar que o projeto não sacrifica sua estrutura em prol de novos capítulos, finalizado numa nota pungente. Desse modo, saímos da sala de projeção compelidos a refletir sobre as pontes entre o mundo físico e o oculto.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Diamond Films.

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Grants For Single Moms