segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Crítica: Pobres Criaturas (2023)

Dirigido por: Yorgos Lanthimos. Roteiro de: Tony McNamara. Fotografia de: Robbie Ryan. Estrelando: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe e Ramy Youssef.

Jornadas em que criaturas têm a oportunidade de crescer, desenvolver-se e descobrirem-se, sem interferência de seus criadores, possuem apelo quase universal. Yorgos Lanthimos, diretor grego responsável pelo sublime A Favorita, colabora novamente com Emma Stone neste novo projeto. Aqui, a dupla entrega, com o perdão do anglicismo, um trabalho ainda mais extravagante que o filme de 2018. Pois é.

O roteiro é baseado (ou melhor, inspirado) no livro de Alastair Gray, publicado há 32 anos, que ressignificou e questionou o clássico Frankenstein. A trama gira em torno de Bella Baxter (Stone), jovem vitoriana fruto de um experimento realizado pelo Dr. Godwin (Dafoe, sempre ótimo). Portadora de mente infantilizada, a moça parte numa jornada de aventura e autodescoberta, acompanhada de perto pelo dândi Duncan Wedderburn (Ruffalo). E se fui sucinto nesta sinopse, vocês compreenderão minhas razões após assistir ao filme.

O diretor de fotografia Robbie Ryan emprega diversos recursos em sua cinematografia, como grão grosso, paleta saturada (quando necessário) e, assim como em A Favorita, lentes grandes angulares. Desse modo, Lanthimos e seu fotógrafo extraem o máximo do design de produção influenciado pelo steampunk, bem como distorcem as perspectivas do público em meio à atmosfera de sonho. Usa-se aqui a razão de aspecto 1,66:1, o que não deixa de ser um alívio em meio a tantos projetos que abusam do 4:3 com fins ditos estilísticos, mesmo quando praticamente todas as suas cenas se beneficiariam de uma razão de aspecto maior (o mais recente projeto a cometer tal deslize foi este)

Emma Stone, um dos maiores talentos de sua geração, realiza aqui sua performance mais corajosa até o momento, do ponto de vista físico e emocional. À medida que Bella tem seus impulsos tolhidos pelas convenções sociais, ela conquista o público com sua curiosidade genuína, num magnetismo que também não poupa os outros personagens. Mark Ruffalo, que comentou com a imprensa ter havido certa insegurança com o próprio corpo nas cenas explícitas, encarnou Wedderburn com energia e virilidade de fazer inveja à intérpretes bem mais jovens (ou mesmo ao seu próprio Bruce Banner). A declaração do ator, de 56 anos, nos lembra que o culto à juventude, apesar de não ser equânime entre os gêneros, também afeta o contingente masculino de Hollywood.

Não há como negar a força dramática do filme em seus momentos finais. Menos didático do que Barbie, especialmente nas reflexões sobre o que significa ser mulher, o longa encara questões fundamentais de nossa existência. O caminho para o autoconhecimento é repleto de erros, acertos, expectativas de felicidade não realizadas, sacrifícios pessoas e, claro, desgastes. Bella é uma self-made woman por mérito próprio. Ela aprendeu a não se definir pelos papéis que terceiros acreditem que deva desempenhar, bem como soube se erguer quando suas próprias ideias não encontraram respaldo na realidade. O que importa, no fim das contas, é nunca perder a esperança, ter coragem, e ser gentil. 

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

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