Clint Eastwood sempre foi uma presença carismática. Sempre conseguiu transmitir uma riqueza de ideias por meio de uma atuação contida, econômica. E já que falei em economia, está é talvez a palavra que melhor descreve este projeto. Lançado com uma campanha de marketing que consistiu basicamente de um único poster e um trailer, o filme acompanha o ex-peão de rodeio Mike Milos, que recebe a missão de resgatar o filho de seu patrão, que se encontra no México.
O que parece interessante na teoria, acabou se tornando, basicamente, uma reciclagem. E reciclar roteiros que não funcionaram é sempre uma ideia arriscada. O enredo de Cry Macho, inspirado pelo romance de N. Richard Nash, basicamente recria o argumento de Gran Torino, também dirigido por Eastwood em 2008. Como se não bastasse, o companheiro de cena do protagonista, aqui interpretado por Eduardo Minett, é quase tão ruim quanto sua contraparte da década retrasada.
Recitando suas falas em tom monocórdico e incapaz de esboçar qualquer emoção, Minett deixa para o protagonista todo o peso dramático da obra. Só que o nonagenário Eastwood, infelizmente, faz aqui um personagem claramente concebido para ser vivido por um ator mais jovem, já que sua óbvia dificuldade de locomoção é um atentado à suspensão de descrença. Mesmo com o uso de dublês em diversas cenas, fica difícil acreditar que o cowboy Mike seria capaz de realizar uma tarefa que exige, acima de tudo, fisicalidade.
Apostando numa conclusão de conflito digna de novela da Globo, o longa nos envia para fora da sala com um gosto amargo na boca. É inacreditável que tenha sido comandado pelo mesmo cineasta que realizou tantos filmes inesquecíveis. Resta-nos torcer para que ele não se aposente e retome a antiga forma em sua próxima empreitada.
Por Bernardo Argollo
Agradecimentos: Espaço Z, Warner Brothers e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Cry Macho, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.