quarta-feira, 11 de abril de 2018

Crítica: Rampage - Destruição Total (2018)













Dirigido por: Brad Peyton. Roteiro de: Ryan Engle, Carlton Cuse. Estrelando: Dwayne Johnson, Naomie Harris, Jeffrey Dean Morgan, Malin Akerman, Jake Lacy.

Não é de hoje que as grandes franquias de jogos de videogame são adaptadas para o cinema, trazendo resultados que costumam oscilar entre o medíocre e o pavoroso. Uma das grandes dificuldades reside na questão do quão fiel o filme deve ser à obra original, visto que cada mídia opera de forma bem distinta. Na maioria dos casos, os produtores do filme optam por mudanças bem significativas de roteiro, e acabam errando o alvo. Rampage: Destruição Total não foge à regra das mudanças, e se mostra como uma investida de erros e acertos.

A história do jogo se inicia com uma experiência de laboratório mal sucedida, em que três pessoas são transformadas em monstros gigantes: um gorila, um réptil, e um lobisomem. O jogador é um dos monstros, e o objetivo é o de destruir cidades e forças militares, a fim de concluir cada um dos seus níveis. Na adaptação cinematográfica, dirigida por Brad Peyton, os monstros supracitados são mutações de animais que tiveram contato com uma substância desenvolvida por uma grande e gananciosa corporação. Cabe ao primatólogo Davis Okoye (Dwayne Johnson) e à cientista Kate Caldwell (Naomie Harris) impedir a iminente destruição gerada pelos três mutantes gigantes em uma grande cidade.

A opção de ancorar a premissa absurda do filme em um núcleo humano se mostrou acertada e realista até certo ponto, em especial na divertida e tocante amizade que existe aqui entre Okoye e o multifacetado gorila George (Jason Liles, em uma bela captura de movimento). Por outro lado, Peyton não consegue se livrar de alguns clichês risíveis, seja na ação, no espetáculo da catástrofe, na comédia, ou mesmo no... “drama”, digamos assim. Temos ótimos efeitos especiais, uma direção “ok” em termos de edição e fotografia, e dois ou três momentos realmente empolgantes, além das adoráveis atuações de Dwayne Johnson e Jason Liles... e só.

A coadjuvante Naomie Harris incorpora uma cientista que se divide entre momentos de total utilidade para a história, e outros em que se mostra mais inútil do que uma sauna no deserto. Já o Jeffrey Dean Morgan interpreta basicamente uma versão "do bem" e genérica do seu famoso personagem Negan (de The Walking Dead). Por fim, uma menção "honrosa" para a dupla Malin Akerman e Jake Lacy, que parecem vilões versados em procedimentos extraídos de algum livro escrito por Pinky & Cérebro.

No final das contas Rampage não é a “destruição (artística) total” que pode parecer... tampouco é um filme que tenha algo de memorável a longo prazo. As qualidades citadas anteriormente podem ser o bastante para uma bela “sessão da tarde” entre amigos, visto que esta é uma obra curta e livre de qualquer pretensão – e profundidade - intelectual. De toda forma, Brad Peyton ainda está devendo um filme que não corra o risco de cair no abismo do “esquecimento total”.


Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Crítica: Um Lugar Silencioso (2018)













Dirigido por: John Krasinski. Roteiro de: Bryan Woods, Scott Beck. Estrelando: Emily Blunt, John Krasinski, Noah Jupe, Millicent Simmonds, Cade Woodward.

Em uma era dominada por filmes de suspense que estabeleceram o barulho (repentino ou não) como um atrativo obrigatório, já era de se esperar que o som se tornasse cada vez mais genérico nesse nicho, juntamente com vários outros clichês que permeiam a maioria das obras recentes do gênero. Seria este também o caso do filme “Um Lugar Silencioso”, dirigido pelo ainda iniciante John Krasinski? Para a nossa surpresa, temos aqui uma guinada no sentido contrário...

Na história, a família Abbott se encontra nos arredores de uma pequena cidade, em uma realidade (aparentemente mundial) dominada por criaturas assassinas que, apesar de cegas, possuem extrema agilidade, força, e uma capacidade absurda de detecção de sons. O filme apresenta tal premissa de forma direta e sem qualquer cerimônia (logo, não há spoilers aqui), o que também deixa claro que estamos assistindo a uma obra “de gênero”, a qual se mostra isenta de qualquer grandiosidade autoindulgente e filosófica.

O excepcional trabalho de imersão realizado por Krasinski nos coloca no meio desse novo tipo de ambiente apocalíptico, através de enquadramentos convenientes para cada situação, além do foco constante em cada minúsculo som (um deleite à parte, diga-se de passagem) que se apresenta nas situações em que o silêncio é fundamental para a sobrevivência dos personagens. O resultado seria ainda melhor se não houvesse uma trilha sonora tradicional que nos prepara para alguns dos sustos, o que não deixa de ser apenas um pecadilho no meio de uma premissa que é carregada de tensão natural.

Ainda na contramão da maioria das obras de suspense, o diretor entrega personagens muito bem desenvolvidos – incluindo um comovente arco para uma pessoa que possui pouquíssimos minutos em tela. Somos levados a “abraçar” cada membro “de poucas palavras” daquela família, com destaque para o estratégico pai (interpretado pelo próprio diretor), a intensa e resistente mãe (Emily Blunt), e a filha surda-muda (Millicent Simmonds) que nos traz perspectivas diferenciadas - inclusive a nível narrativo do próprio filme - sobre tudo o que acontece por ali.

Com uma galeria de cenas que se tornam inesquecíveis pela subversão do uso de sons - o que também transforma várias atividades e incidentes “barulhentos” do dia-a-dia em casos de vida ou morte -, “Um Lugar Silencioso” não se contenta apenas com a criatividade natural do seu roteiro, mas também flerta com valores de produção que permanecem no nosso imaginário após os seus corridos 90 minutos. Quando o roteiro e os personagens de um suspense são envolventes com tão pouco, basta que o espectador se entregue ao “lugar”... e em silêncio.


Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

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