segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Crítica: Elysium (2013)













Dirigido por: Neill Blomkamp. Produzido por: Neill Blomkamp, Bill Block. Roteiro de: Neill Blomkamp. Estrelando: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Alice Braga, Diego Luna.

Eu não só sou um grande admirador de Distrito 9, como o considero uma das melhores ficções científicas já feitas. Louvável em seu desejo de proporcionar algo mais que puro entretenimento, o longa de 2009 foi feliz ao criar metáforas poderosas para temas como o apartheid e a tensão racial na África do Sul. Agora, Blomkamp parece ter se perdido em seu desejo irrefreável de fazer uma crítica social, resultando numa história vazia, esquemática e maniqueísta.

O roteiro se passa no distópico (ou utópico) ano de 2154 que, por coincidência ou não, é o mesmo ano em que Avatar se ambienta. Iniciado com uma constrangedora exposição, Blomkamp logo apresenta seu protagonista, Max. Devido à superpopulação, que drenou os recursos naturais e prejudicou a qualidade do ar, o governo e a elite se mudaram para a belíssima estação espacial Elysium, ao passo que os 99% restantes permaneceram na Terra. Quando Max sofre um acidente na indústria onde trabalha e descobre que só tem cinco dias de vida, só lhe resta tentar pegar carona numa das naves que tentam adentrar na estação, pois lá se encontra a única cura disponível.

Apostando numa alegoria óbvia para o problema da imigração que atinge os países desenvolvidos, Blomkamp acaba por ser reducionista, pois seu roteiro esquemático e maniqueísta ignora as incontáveis nuances do problema. Além disso, seus personagens são rasos e unidimensionais demais para permitir leituras mais profundas. Fica até parecendo que o mundo é feito de 99% de pobres coitados, vítimas do 1% de ricos malvados nazistas. Sim, é fácil relacionar a trama do filme com a realidade mundial e brasileira. Mas é só isso, nada mais.

Eficiente em seus aspectos técnicos, o projeto apresenta efeitos visuais impecáveis, e o design de produção é útil ao contrapor o esplendor de Elysium à miséria do favelão que se tornou Los Angeles. Por mais que a fotografia poderia ter sido um pouquinho mais destoante nos dois ambientes, os cenários são muito bem estabelecidos. Mais o que sobra no visual, falta no roteiro: ousadia e originalidade. Foi isso que transformou Distrito 9 num ícone.

O ótimo elenco se esforça, mas boicotado pelo péssimo roteiro e pela direção de Blomkamp, oferece performances apenas medíocres. Matt Damon se esforça em transformar seu Max numa figura tridimensional, ao passo que Alice Braga (que até hoje nunca deu motivos reais para desapontamentos) confere peso dramático à sua Frey. Wagner Moura, sempre caricato, não chega a ser ruim com sua atuação cheia de energia. Já Jodie Foster pouco pode fazer como a secretária de defesa Jessica Delacourt.

Inseguros sobre a história que querem contar, os realizadores dão uma resolução superficial e convencional ao embate entre excluídos e privilegiados. O mais lamentável de tudo é constatar que Elysium ainda encontra tempo para, no meio da projeção, substituir sua luta social pelo clichê do “herói que precisa salvar o mundo”. Aí já é demais.

Por Bernardo Argollo

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