segunda-feira, 22 de abril de 2024

Crítica: Rivais (2024)

Dirigido por: Luca Guadagnino. Roteiro de: Justin KuritzkesCinematografia de: Sayombhu Mukdeeprom. Estrelando: Zendaya, Josh O'Connor e Mike Faist.

Novo filme do diretor dos ótimos Me Chame Pelo Seu Nome e Suspiria, Challengers provavelmente ficaria restrito a festivais, se não fosse pela presença de Zendaya. A jovem atriz, bastante promissora, tem feito algum esforço para se livrar de papéis colegiais. Seu recente esforço em Duna Parte 2 evidencia sua versatilidade como intérprete.

A trama se alterna entre dois períodos, 2006 e 2019, e acompanha a tenista Tashi (Zendaya), que se envolve num triângulo amoroso com Patrick (O'Connor) e Art (Faist). Talvez "triângulo amoroso" seja uma expressão algo reducionista para descrever a dinâmica entre eles, já que a atração magnética exercida pela garota provoca desdobramentos mais complexos do poderíamos antecipar.

Rodado em película de 35mm, com lente esférica e enquadrado em 1.85:1, o projeto é algo desinteressante em seus aspectos plásticos, a despeito do meio de captura superior. No entanto, destaca-se a sequência em que os personagens são vistos através de certo objeto cênico. O roteiro do estreante Justin Kuritzkes não apela para nenhuma revelação de última hora a fim de justificar a estrutura não-linear, que é complementada de maneira inteligente com uma montagem fluida e trilha sonora inspirada no eurodance.

O projeto consegue articular momentos de tensão, enquanto especula acerca das intenções de sua protagonista. A despeito de certa gordura no segundo ato, o terço final aposta num clímax grandioso e finaliza-se numa nota alta. Não, Zendaya não chega a ser uma "força da natureza", mas é certamente mais interessante do que seus superestimados colegas de Euphoria.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Amazon MGM Studios e Warner Bros.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Crítica: Abigail (2024)

Dirigido por: Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. Roteiro de: Stephen Shields e Guy Busick. Cinematografia de: Aaron Morton. Estrelando: Melissa Barrera, Dan Stevens, Kathryn Newton, William Catlett, Kevin Durand, Angus Cloud, Alisha Weir e Giancarlo Esposito.

Os cineastas Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett possuem bons olhos para identificar clichês e, claro, reutilizá-los. Foi o que fizeram com a franquia Pânico. Agora, a dupla tenta novamente cativar um público já cansado pelas mesmas narrativas, e para isso lançam mão, novamente, de Melissa Barrera. Outro nome que chama a atenção aqui é Dan Stevens, que há poucas semanas atrás estreou em O Novo Império.

O roteiro acompanha um grupo de criminosos que recebe a missão de sequestrar uma garota de 12 anos. O que eles não sabem é que a bailarina é filha de ninguém menos que Drácula. Quem será a final girl do grupo é uma informação que qualquer um que já viu meia dúzia de filmes de terror advinhará logo nas primeiras cenas. O elenco conta também com o já falecido (e fraquíssimo) Angus Cloud, alçado injustamente à condição de ator respeitado pela série Euphoria.

Abigail brinca com quase todos os tropes dos filmes criminais. No entanto, o roteiro peca ao não deixar muito claras quais as regras que regem aquele universo sobrenatural, bem como opta pela rendição a clichês de tramas sobre vampiros. Alisha Weir (do musical Matilda) demonstra muita segurança como a personagem-título, com potencial para ser uma das boas atrizes de sua geração. Já Melissa Barrera, dotada sim de algum talento dramático, pouco tem a fazer com sua personagem, já que o roteiro a obriga a repetir boa parte do que ela fez em Pânico.

Um tanto longo em seus 109 minutos de duração, o projeto prolonga uma história que já não tinha para onde ir, e o terceiro ato se perde em reviravoltas sem sentido. De todo modo, o filme é cativante o suficiente, com piadas eficazes. O projeto misturou gore, slasher, thriller de sequestro, flertou com o terror psicológico e, no final, não se tornou uma bagunça completa, a despeito de ter perdido força. Não dá para dizer que foi ruim.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

domingo, 14 de abril de 2024

Crítica: Guerra Civil (2024)

Escrito e dirigido por: Alex Garland. Cinematografia de: Rob Hardy. Estrelando: Kirsten Dunst, Cailee Spaeny, Wagner Moura, Stephen McKinley Henderson e Nick Offerman.

Alex Garland, roteirista do consagrado 28 Days Later e diretor dos ótimos Ex Machina e Aniquilação, comanda agora o filme mais caro já produzido pela A24. Desta vez, ele aposta não numa ficção científica, mas numa distopia causada pela eclosão de um conflito armado interno nos EUA. Há um trabalho razoável na tensão e urgência do combate, porém não há qualquer debate político ou ideológico. O longa, basicamente, afirma que guerras são ruins porque são ruins e pronto. Longe de mim argumentar contra, mas ressalto que é algo quase tão infantiloide quanto defender a pena de morte com a alegação de "quem mata deve morrer".

O roteiro acompanha a jornada de quatro jornalistas (Dunst, Moura, Spaeny e Henserson) numa viagem de Nova York a Washington, onde a Casa Branca e o presidente (Offerman) estão sitiados pela Forças Ocidentais, sobre as quais o filme não se preocupa em dar mais detalhes. O objetivo do grupo é que o repórter interpretado por Moura consiga entrevistar o presidente, e que as duas fotógrafas (uma novata e outra já consagrada) registrem imagens do conflito. Ao contrário do que pode parecer, haja vista o material publicitário, Guerra Civil não é um filme de ação, mas um road movie dramático.

Um dos pontos positivos é que o roteiro não se envergonha de retratar o fato que, apesar dos pesares, a adrenalina de uma zona de guerra pode sim ser viciante. O projeto, infelizmente, não se interessa em explorar os motivos da contenda e de suas alianças improváveis. Afinal de contas, o que fez com que o Texas e a Califórnia resolvessem se unir? É uma pergunta que certamente será feita por muitos espectadores. Pode-se argumentar que esse não é o ponto do filme, é claro, mas fica difícil imaginar um cenário crível em que os dois estados concordariam em muita coisa atualmente.

A cinematografia de Rob Hardy, realizada digitalmente, abraça a estética plástica deste método de captura, sem tentar emular o celuloide. No entanto, é difícil não observar que uma película com grão marcado provavelmente beneficiaria o projeto. Há belíssimos planos, como o que envolve centelhas à noite e um com brilhante uso do foco envolvendo a personagem de Dunst num campo de flores. O design de produção é eficaz ao conceber parques abandonados e carros depredados, num cenário apocalíptico crível, mas tão desesperador quanto o visto em The Walking Dead.

Guerra Civil está mais preocupado com o choque e estudo de personagem do que em fazer qualquer comentário político. Isso não é um problema per se, mas não deixa de ser o desperdício de uma oportunidade de elaborar ideias sobre um tema relevante. De todo modo, o cineasta é eficaz ao abordar o cinismo parasitário da mídia, em especial dos fotógrafos, decididos a criar obras de arte com o desastre alheio. Em última instância, o projeto nos lembra de que um conflito armado (mesmo sem contexto) raramente vale a pena.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, A24 e Diamond Films.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Crítica: A Primeira Profecia (2024)

Dirigido por: Arkasha Stevenson. Roteiro de: Tim Smith, Arkasha Stevenson e Keith Thomas. Cinematografia de: Aaron Morton. Estrelando: Nell Tiger Free, Tawfeek Barhom, Sônia Braga, Ralph Ineson e Bill Nighy.

The Omen é um filme de 1976 que surfou na onda d'O Exorcista, lançado três anos antes. Inspirado por ele, mas sem imitá-lo, o projeto teve charme suficiente para ganhar muitas continuações, quase todas de gosto discutível. Eis que a Disney, agora dona dos direitos, resolve lançar uma prequel 18 anos após o último filme. A boa notícia é que o resultado não foi tão ruim quanto o que costumamos ver nesse tipo de projeto. The First Omen é ótimo.

O roteiro narra os acontecimentos que culminaram no nascimento de Damien, ninguém menos que o Anticristo. Aqui, acompanhamos Margaret (Tiger Free, de Servant), uma garota americana que, destinada a ser freira, viaja a Roma para prestar seus votos num antigo convento. De repente, a moça se vê envolvida numa trama para provocar o nascimento do Anticristo. Os roteiristas ainda conseguem ser eficientes em fornecer motivações, até plausíveis, para a empreitada.

A narrativa é burocrática em sua estrutura, porém o projeto conta com momentos de força notável, já que os realizadores não caíram na tentação de forçar uma classificação indicativa mais baixa. Há gore suficiente para deixar os fãs da franquia satisfeitos, e realizado de maneira elegante. Sim, existem tropeços eventuais, pois qualquer um que já assistiu a meia dúzia de filmes de terror advinhará a causa mortis de certo rapaz momentos antes que ela se concretize. De todo modo, o longa é magnífico em seus aspectos puramente plásticos.

Apesar de certo abuso de establishing shots, a cinematografia de Aaron Morton é a melhor que vi num terror em muito tempo, apesar das lentes esféricas e razão de aspecto de 1.85:1. Dificilmente esquecerei o belíssimo plano envolvendo um espelho e duas garotas conversando, ou o momento em que um tilting faz com que várias velas, vistas a partir de um ângulo específico, formem os contornos de um olho. Indiscutivelmente (e surpreendentemente), é o melhor terror de 2024 até agora.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Crítica: Godzilla e Kong - O Novo Império (2024)

Dirigido por: Adam Wingard. Roteiro de: Terry Rossio, Simon Barrett e Jeremy Slater. Cinematografia de: Ben Seresin. Estrelando: Rebecca Hall, Brian Tyree Henry, Dan Stevens, Kaylee Hottle, Alex Ferns e Fala Chen.

O MonsterVerse da Warner nunca foi particularmente notável, mas também nunca deu motivos reais para desapontamentos. Um roteiro fraco aqui, uma escalação questionável ali... Mas sobreviveu, aos trancos e barrancos. O que provavelmente os executivos do estúdio não imaginariam é que um certo filme de 2023 elevaria muito o nível desse tipo de produção. Logo, O Novo Império se prejudica duplamente, pois além de ser ruim, sofre pela inevitável comparação com a obra de arte de Takashi Yamazaki.

O roteiro aqui segue, claro, Godzilla e Kong, que agora devem se unir para combater uma nova ameaça que despontou na "terra oca". Além disso, o projeto tangencia questões como a origem dos Titãs e da própria Ilha da Caveira. De adições ao elenco, a única digna de nota é Dan Stevens, que consegue imprimir algum carisma no divertido Trapper. De resto, é mais do mesmo: as mensagens ambientaloides de sempre, o personagem conspiracionista que explica a trama, a pesquisadora dedicada, a criança-escolhida e bobagens similares.

É uma pena que a bela cinematografia de Ben Seresin, que usa lentes anamórficas para compor belíssimos bokehs, seja prejudicada pelo visual cafona das criaturas. Com a exceção da Mothra (belíssima) todos os monstros aqui vistos parecem saídos de comic books de segunda linha. E se certos momentos até podem ser cativantes, como a sequência envolvendo uma cirurgia dentária em Kong, o projeto perde força toda vez que tenta dar outras camadas à narrativa, como na pavorosa subtrama envolvendo um povo indígena da Terra Oca.

O projeto de Wingard não é ofensivamente ruim, longe disso, mas, em seus melhores momentos, consegue apenas emular filmes muito superiores. Para os brasileiros, no entanto, será divertido assistir à sequência do Rio de Janeiro indo pelos ares. Os mais atentos notarão, inclusive, a destruição do antigo edifício-sede da Petrobras. Godzilla e Kong podem estar bastante enfadonhos aqui, mas pelo menos escolheram um bom destino turístico.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros. Discovery.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Crítica: Imaginário (2024)

Dirigido por: Jeff Wadlow. Roteiro de: Greg Erb, Jason Oremland e Jeff Wadlow. Cinematografia de: James McMillan. Estrelando: DeWanda Wise, Tom Payne, Taegen Burns, Pyper Braun, Veronica Falcón e Betty Buckley.

A Blumhouse tem histórico de realizar projetos de terror de bom nível. A produtora, habitualmente, investe em premissas com potencial. Aqui, o público alvo são os espectadores mais jovens, dada sua classificação PG-13 e referências a signos facilmente identificáveis por adolescentes. O cineasta Jeff Wadlow foi escolhido para comandar o projeto, creio eu, por sua familiaridade com o "terror acessível", digamos assim. E, ao contrário da maior parte da crítica especializada, devo dizer que apreciei moderadamente Truth or Dare, projeto comandado por ele em 2018.

Os produtores responsáveis por Insidious, Atividade Paranormal e Uma Noite de Crime (mas também atrocidades como Five Nights at Freddie’s) agora resolvem explorar universo dos amigos imaginários. O roteiro inicia-se de maneira familiar, quando uma escritora chamada Jéssica (Wise) retorna para a casa onde morou em sua infância, juntamente com seu novo marido, o roqueiro Max (Tom Payne), bem como as duas filhas deste, fruto de outro relacionamento. Quando a mais nova (Pyper Braun, fraquíssima) encontra um urso de pelúcia e o batiza como Chauncey, seu novo "amigo", temos o nosso filme.

O longa de Wadlow é o segundo passo em falso da Blumhouse em 2024, que começou o ano com o medíocre Night SwimA parte boa é que a talentosa DeWanda Wise, que praticamente carrega o projeto nas costas (já que suas colegas de elenco pouco podem auxiliá-la) até consegue vender sua personagem. O terceiro ato aposta num conceito visual instigante, que remete ao clássico Labirinto (1986). O esforço é prejudicado, contudo, pelos diálogos constrangedoramente expositivos e insistência no uso da computação gráfica. Ao contrário do que parece ser a tônica atual da crítica cinematográfica atual, não sou avesso ao CGI. Só penso que, se existe um gênero cujas obras se enfraquecem quando apelam para o recurso, é justamente o terror.

Em última instância, Imaginário parece muito o tipo de filme que, sem potencial para salas de cinema, acaba sendo lançado direto no streaming. Anos atrás, teria ocupado prateleiras de locadoras, onde incautos gastariam seus suados recursos alugando-o. O longa não é ofensivamente ruim e conta com momentos até interessantes, mas é absolutamente descartável. Não consigo imaginar o que passou na cabeça dos executivos da Lionsgate para decidir por exibição em cinemas. Espero apenas que não inventem uma continuação.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Paris Filmes e Lionsgate.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Crítica: Duna - Parte Dois (2024)

Dirigido por: Denis Villeneuve. Roteiro de: John Spaihts e Denis Villeneuve. Fotografia de: Greig Fraser. Estrelando: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Josh Brolin, Austin Butler, Florence Pugh, Dave Bautista, Christopher Walken, Léa Seydoux, Stellan Skarsgård, Javier Bardem e Anya Taylor-Joy.

Inacreditável pensar que se passaram quase três anos desde o primeiro Duna, comandado pelo diretor de A Chegada e Blade Runner 2049. Denis Villeneuve conseguiu o que era considerado praticamente impossível: fazer boas adaptações dos livros de Frank Herbert. Outros já tentaram (inclusive ninguém menos do que David Lynch), mas somente o franco-canadense acertou. Uma das boas decisões tomadas por ele foi justamente não condensar toda a vasta trama dos livros num único longa. Temos aqui, portanto, a segunda parte.

O roteiro continua a jornada do jovem Paul (Chalamet), espécie de messias arquetípico, agora membro dos Fremen. Tal grupo, cuja identidade visual remete à cultura árabe, luta por justiça contra um poderoso império (sim, George Lucas se inspirou em Duna). A cinematografia, assinada por Greig Fraser, consegue extrair beleza de cada um dos planos rodados no deserto, bem como mergulha cenas envolvendo certo casal numa onírica golden hour. A edição e mixagem de som estão entre as melhores que tive o privilégio de ouvir nos últimos anos. A trilha de Hans Zimmer, ao contrário da maioria dos trabalhos do compositor, soa orgânica, jamais intrusiva.

O projeto de Villeneuve consegue manter a escala épica sem se esquecer do aspecto intimista, ou mesmo de suas alegorias políticas (e religiosas). Nesta segunda parte, há menos tempo para desenvolver a mitologia, é verdade, mas há mais dedicação aos dilemas do protagonista. Antes uma figura distante, Paul agora é um guerreiro palpável, cujas emoções são expressas com intensidade (e sem pieguice) por Chalamet. Zendaya, por sua vez, ganha mais espaço para sua Chani, personagem que antes não passava de uma quase ponta. A Casa Harkonnen recebeu uma adição interessante na figura de Austin Butler, ator que conseguiu incutir algum peso dramático no vilão Feyd-Rautha, mesmo com relativamente pouco tempo de tela.

Tropeçando levemente ao introduzir figuras importantes já na segunda metade da projeção, o que geralmente representa um grave erro narrativo, o projeto de Villeneuve escancara um fato para o qual defensores de streamings insistem em fazer vista grossa. Ver um filme numa sala de cinema é uma necessidade incontornável para qualquer apreciador da Arte. Especialmente em grandes formatos, como IMAX, no qual assisti este filme a convite da Warner. É uma tristeza que um ser humano pense ter assistido a um longa-metragem... em seu telefone. Surreal.

Não ficarei surpreendido caso as obras comandadas por Villeneuve ocupem, ao lado de O Senhor dos Anéis e dos dois últimos Harry Potter, o lugar de adaptações definitivas de textos seminais. A saga de Frank Herbert, prestes a completar 60 anos, consolidou o gênero das space operas políticas e mantém-se mais atual do que nunca. Segundo o próprio cineasta, Duna não é somente entretenimento, é um aviso. Um aviso que nos soterra.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Crítica: Bob Marley - One Love (2024)

Dirigido por: Reinaldo Marcus Green. Roteiro de:
Terence Winter, Frank E. Flowers, Zach Baylin e Reinaldo Marcus Green. Fotografia de: Robert Elswit. Estrelando: 
Kingsley Ben-Adir, Lashana Lynch e James Norton.

Mais um diretor se rendeu ao famigerado subgênero das cinebiografias de músicos. Desta vez, o cineasta responsável pelo razoável King Richard decidiu comandar um projeto dedicado não a atletas, mas ao maior expoente do reggae. Ao contrário dos filmes de super-herói, os longas sobre trajetórias de celebridades estão em plena ascensão. Este ano, diga-se de passagem, teremos também uma produção sobre a Amy Winehouse, cuja vida já foi explorada em 2015 num documentário eficiente. Se a nova dramatização vai se debruçar de fato sobre as mazelas da artista (como o finado Pânico na TV fez de modo memorável), saberemos em breve.

Aqui, temos um roteiro escrito a oito mãos, as do próprio diretor e mais três colaboradores. Excesso de roteiristas nunca é bom sinal, já que, com certa frequência, a junção de sensibilidades diferentes para o mesmo filme resulta em falta de foco. Notório por sua filosofia de paz, amor e negligência com a própria saúde, Bob Marley representou um contraponto histórico à violência de seu país natal. A narrativa adota a tentativa de homicídio sofrida pelo cantor em 1976 como ponto de partida. Em meio a preocupações com a própria segurança na Jamaica, o artista se muda para Londres, onde gravou o álbum Exodus, o mais bem-sucedido de sua carreira.

O longa aposta numa estrutura pouco inspirada, construída de maneira episódica, intercalando sequências com flashbacks oníricos pouco significativos e, portanto, descartáveis. E sou capaz de apostar que esses inserts foram adicionados posteriormente, após os produtores (ou executivos do estúdio) decidirem que faltava "um elemento fantástico" ao longa. Outro ponto fraco é a atuação de Ben-Adir, intérprete habitualmente razoável, mas que aqui atua no piloto automático, deixando que a voz mansa, os dreadlocks e o forte sotaque jamaicano façam todo o trabalho de estruturação do personagem. Lashana Lynch, no entanto, está bastante respeitável como Rita, esposa do cantor. Provavelmente, ela é a única figura capaz de gerar algum engajamento no espectador.

O ponto mais lamentável deste projeto é o fato de ter deixado de fora o que talvez tenha sido o momento mais importante da vida do astro (deixarei que vocês o identifiquem por si mesmos). A passagem é citada, sim, mas quase que como uma nota de rodapé, nos inevitáveis letreiros finais que são uma verdadeira praga nesse tipo de filme. Além de tentar dar passos maiores que as pernas, Green finaliza sua produção num ponto totalmente arbitrário. One Love até flerta com a complexidade, mas se contenta em ser um simples hero worship. Ao contrário de Marley, este filme pode ser tudo, menos notável.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Crítica: Argylle (2024)

Dirigido por: Matthew Vaughn. Roteiro de: Jason Fuchs. Fotografia de: George Richmond. Estrelando: Henry Cavill, Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Bryan Cranston, Catherine O'Hara, Dua Lipa, Ariana DeBose, John Cena e Samuel L. Jackson.

Matthew Vaughn, diretor de Kick-Ass e do fenomenal Kingsman (escrevi sobre a continuação deste filme aqui), retorna ao univerno no qual tem investido sua força criativa na última década. Eficaz, o cineasta ainda não nos deu motivos reais para desapontamentos. Inicialmente eclético, Vaughn dirigiu em 2007 um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, Stardust. No entanto, o britânico parece mesmo decidido a dedicar sua carreira à parodiar/homenagear filmes de espionagem, com resultados variáveis. Devo dizer que apreciei moderadamente a prequel de Kingsman, lançada em 2021, ao contrário da maior parte da crítica. Essa história de origem, além de injustiçada, teve seu desempenho nas bilheterias fortemente prejudicado pela Pandemia.

Eis que, três anos depois, temos Argylle. O roteiro de Jason Fuchs acompanha Elly Conway, vivida por Bryce Dallas Howard (nepo baby, sim, mas das boas), escritora reclusa que, quem poderia imaginar, se envolve em uma trama real baseada em seus próprios livros. Mais metalinguístico, impossível. E se fui sucinto na sinopse, é proposital, pois a quantidade de reviravoltas aqui é capaz de dar inveja aos roteiristas de franquias como Piratas do Caribe e Missão Impossível. Além de Samuel L. Jackson e Bryan Cranston, o elenco também conta com a participação constante de Henry Cavill no primeiro ato (e sua ausência é sentida por todo resto da projeção) e John Cena, ator que considero um talento desperdiçado na indústria.

Há aqui floreios estilísticos bregas, como os efeitos digitais que simulam uma câmera atravessando um vidro (sim, ainda há quem ache isso elegante em 2024). Por outro lado, temos também criações inspiradas, como a sequência envolvendo certas bombas de gás lacrimogêneo. Como em todo bom filme de espionagem, há belas locações, fotografadas com vivacidade, porém um tanto prejudicadas por acréscimentos feitos com CGI de qualidade questionável. Assim sendo, é lamentável que o terceiro ato tenha sido quase que totalmente rodado em internas.

O projeto também sofre pela classificação indicativa PG-13, certamente usada na tentativa de atingir um público mais amplo. Segundo Vaughn, apenas dois cortes tiveram de ser feitos para evitar que o filme fosse R-rated. Desses dois, apenas um realmente incomodou o diretor, de acordo com entrevista que concedeu ao site GamesRadar. Ao que parece, os membros da MPA (entidade responsável pelas classificações indicativas) acreditam que um tiro na cabeça deva ser imediatamente categorizado como para maiores. Disparos no tórax, todavia, são perfeitamente aceitáveis, bastante family-friendly, e recebem um PG-13 sem problemas.

Argylle tem um elenco talentosíssimo, bem como uma riqueza de ideias que, às vezes, parecem disputar espaço umas com as outras. As sequências de ação são criativas, mas irregulares na execução. O roteiro traz reviravoltas constantes, que perdem significado rapidamente e, para os pouco versados no gênero da espionagem, o projeto pode resultar numa experiência mais tediosa do que divertida. Eu, no entanto, sigo ansioso por uma continuação e, claro, por um crossover com Kingsman.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Crítica: Pobres Criaturas (2023)

Dirigido por: Yorgos Lanthimos. Roteiro de: Tony McNamara. Fotografia de: Robbie Ryan. Estrelando: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe e Ramy Youssef.

Jornadas em que criaturas têm a oportunidade de crescer, desenvolver-se e descobrirem-se, sem interferência de seus criadores, possuem apelo quase universal. Yorgos Lanthimos, diretor grego responsável pelo sublime A Favorita, colabora novamente com Emma Stone neste novo projeto. Aqui, a dupla entrega, com o perdão do anglicismo, um trabalho ainda mais extravagante que o filme de 2018. Pois é.

O roteiro é baseado (ou melhor, inspirado) no livro de Alastair Gray, publicado há 32 anos, que ressignificou e questionou o clássico Frankenstein. A trama gira em torno de Bella Baxter (Stone), jovem vitoriana fruto de um experimento realizado pelo Dr. Godwin (Dafoe, sempre ótimo). Portadora de mente infantilizada, a moça parte numa jornada de aventura e autodescoberta, acompanhada de perto pelo dândi Duncan Wedderburn (Ruffalo). E se fui sucinto nesta sinopse, vocês compreenderão minhas razões após assistir ao filme.

O diretor de fotografia Robbie Ryan emprega diversos recursos em sua cinematografia, como grão grosso, paleta saturada (quando necessário) e, assim como em A Favorita, lentes grandes angulares. Desse modo, Lanthimos e seu fotógrafo extraem o máximo do design de produção influenciado pelo steampunk, bem como distorcem as perspectivas do público em meio à atmosfera de sonho. Usa-se aqui a razão de aspecto 1,66:1, o que não deixa de ser um alívio em meio a tantos projetos que abusam do 4:3 com fins ditos estilísticos, mesmo quando praticamente todas as suas cenas se beneficiariam de uma razão de aspecto maior (o mais recente projeto a cometer tal deslize foi este)

Emma Stone, um dos maiores talentos de sua geração, realiza aqui sua performance mais corajosa até o momento, do ponto de vista físico e emocional. À medida que Bella tem seus impulsos tolhidos pelas convenções sociais, ela conquista o público com sua curiosidade genuína, num magnetismo que também não poupa os outros personagens. Mark Ruffalo, que comentou com a imprensa ter havido certa insegurança com o próprio corpo nas cenas explícitas, encarnou Wedderburn com energia e virilidade de fazer inveja à intérpretes bem mais jovens (ou mesmo ao seu próprio Bruce Banner). A declaração do ator, de 56 anos, nos lembra que o culto à juventude, apesar de não ser equânime entre os gêneros, também afeta o contingente masculino de Hollywood.

Não há como negar a força dramática do filme em seus momentos finais. Menos didático do que Barbie, especialmente nas reflexões sobre o que significa ser mulher, o longa encara questões fundamentais de nossa existência. O caminho para o autoconhecimento é repleto de erros, acertos, expectativas de felicidade não realizadas, sacrifícios pessoas e, claro, desgastes. Bella é uma self-made woman por mérito próprio. Ela aprendeu a não se definir pelos papéis que terceiros acreditem que deva desempenhar, bem como soube se erguer quando suas próprias ideias não encontraram respaldo na realidade. O que importa, no fim das contas, é nunca perder a esperança, ter coragem, e ser gentil. 

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Crítica: Segredos de um Escândalo (2023)

Dirigido por: Todd Haynes. Roteiro de: Samy Burch. Fotografia de: Christopher Blauvelt. Estrelando: Julianne Moore, Natalie Portman e Charles Melton.

Todd Haynes, diretor do aclamado Carol (2015), é um dos raros cineastas do new queer cinema que conseguiu migrar para o mainstream. Ousado, sem nunca soar vulgar, Haynes aqui decide explorar temas ainda mais delicados, como pedofilia e aliciamento de menores. Por motivos óbvios, escândalos íntimos possuem apelo quase universal, e o filme não só compreende isso como consegue a proeza de mergulhar numa história desconfortável sem causar grande repulsa no público.

A narrativa acompanha a atriz Elizabeth (Portman), escalada para interpretar Gracie, mulher que, há vinte anos, se envolveu com um garoto de 13 anos (ela tinha 36). O "romance" culminou com a prisão da abusadora, que não apenas engravidou do garoto mas, cumprida sua pena, manteve o relacionamento. Agora legalmente casados e com três filhos, Gracie e Joe (Melton) veem sua rotina perturbada pela presença da artista, que vai conhecê-los como parte da preparação para interpretá-la no filme independente (claro).

É interessante observar o modo como Elizabeth, moça de modos contidos e voz vacilante, passa a absorver paulatinamente a linguagem corporal de Gracie, cuja fachada de autoridade esconde a própria insegurança. A atuação de Moore, acertadamente, sugere camadas sem nunca revelá-las de fato. A mulher, agora de meia-idade, parece sempre ter uma lágrima escondida no canto do olho e um rancor a espreitar cada sorriso. Assombrada pelo horror que cometeu, ela se esforça para manter a aparência de mãe saída de comercial de margarina, mas na primeira oportunidade trata seu cônjuge como se fosse um filho (o que não é exatamente uma surpresa, diga-se de passagem).

Haynes ilustra tal processo de maneira interessante, com Elizabeth à esquerda do quadro e, depois da desestabilização do núcleo familiar pela sua presença, a jovem passa a ocupar a porção direita dos enquadramentos. Comprometida com o próprio trabalho e genuinamente interessada em explorar o ser por trás de sua futura personagem, ela permeia o passado de Gracie por meio de depoimentos de filhos, do advogado, do ex-marido e, claro, das interações com a própria. O esposo (ou melhor, vítima) de Gracie é vivido aqui por Charles Melton (sim, aquele ator de televisão), um intérprete limitado, mas que consegue incutir em Joe o choque causado pelo abandono do ideal romântico e percepção do horror de sua própria existência.

O real motivo do abuso e da manutenção do relacionamento entre as partes, só podemos especular. Com ritmo agradável, o longa toma seu tempo sem jamais soar enfadonho, o que não é tão fácil de fazer quanto parece. Segredos de um Escândalo termina numa nota pungente, daquelas que deixam os espectadores incertos sobre a real natureza do que testemunharam. O maior mérito aqui, no entanto, talvez seja o fato de não pretender dar respostas simples para perguntas complexas (exatamente o que prejudicou esse filme). Mais um trabalho relevante na filmografia de Todd Haynes, o projeto é uma grande aposta para a temporada de premiações.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Diamond Films.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Crítica: Beekeeper - Rede de Vingança (2024)

Dirigido por: David Ayer. Roteiro de: Kurt Wimmer. Fotografia de: Gabriel Berinstain. Estrelando: Jason Statham, Emmy Raver-Lampman, Josh Hutcherson, Bobby Naderi, Minnie Driver, Jeremy Irons e Phylicia Rashad.

David Ayer é um diretor de ação eficiente. Foi o responsável por bobagens divertidas como End of Watch (2012) e Fury (2014). Astuto e dono de um olhar razoável, o americano ficou com má fama, algo injusta, após ter seu Esquadrão Suicida picotado pelos executivos da Warner. O motivo, só podemos especular. Bright, seu trabalho de 2017 para a Netflix, prefiro fingir que nunca existiu.

A narrativa acompanha a “saga” por vingança (claro) do Mr. Clay (Statham), decidido a punir os responsáveis por uma rede de golpes de phishing cuja mas recente vítima foi sua amiga/vizinha Eloise Parker (Rashad). Dona de uma naïveté atroz, a idosa se suicidou após perder todos os seus ativos financeiros, zerados num piscar de olhos. Sim, a premissa é absurda, pois ela nem ao menos tenta contactar os bancos ou denunciar a fraude. Outra conveniência incrível é que nem a CIA nem o FBI parecem ser capazes de levar os criminosos à justiça. Só que Clay, obviamente, é um “Beekeeper”, ou seja, bota todos os outros no chinelo. Naturalmente, todos os Beekeepers trabalham à margem do sistema, para proteger a colmeia (o que quer que isso possa significar).

Jason Statham interpreta o mesmo papel de sempre, e com a qualidade de sempre. O britânico é, sem dúvida, o ator de ação mais prolífico da contemporaneidade, dono de uma filmografia de dar inveja a Van Damme ou Stallone. Reminiscente de John Wick do roteito à indumentária dos vilões (estilosíssima, diga-se de passagem), o projeto provavelmente ficará sempre na sombra do filme estrelado por Keanu Reeves. De todo modo, o filme agradará plateias sedentas por conteúdo com classificação indicativa maior que PG-13, particularmente tolhedora em produções deste gênero específico.

As sequências de ação podem não ser tão inventivas ou fluidas como as de John Wick, mas o projeto merece aplausos pela violência deliciosamente brutal e, em certos momentos, até inesperada. Josh Hutcherson, dono de um carisma proporcional à sua (baixa) estatura, interpreta um vilão caricatural com a inexpressividade habitual. Já Jeremy Irons, com dicção perfeita e cadência exemplar, entrega os diálogos expositivos de modo a quase disfarçar sua verdadeira natureza. Beekeeper é pulp cinema em sua essência. Sanguinolento, energético e esteticamente agradável, o longa tira o gosto ruim de Esquadrão Suicida. Quando um cineasta trabalha com um estúdio que respeita sua visão, os resultados tendem a ser mais animadores.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Diamond Films e Amazon MGM Studios.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Crítica: Os Rejeitados (2023)

Dirigido por: Alexander Payne. Roteiro de: David Hemingson. Fotografia de: Eigil Bryld. Estrelando: Paul Giamatti, Da'Vine Joy Randolph e Dominic Sessa.

Alexander Payne, cineasta até então mediano, dirigiu algumas comédias pouco memoráveis ao longo da carreira. Seu último filme, Downsizing, foi um fracasso de público, crítica e bilheteria. Desta vez, o diretor surpreende com um projeto que está entre os melhores de 2023 e homenageia cinema dos anos 1970. É a segunda vez que Payne dirige um projeto que não foi escrito por ele. Pelo visto, esse é um excelente sinal.

O roteiro acompanha Paul Hunham (Giamatti), professor de História incumbido de supervisionar os alunos que irão passar o natal no campus de um colégio interno da Nova Inglaterra. A razão de aspecto reduzida de 1,66:1, o grão grosso (simulado digitalmente) e a abertura com a antiga vinheta do estúdio ajudam na recriação da época. O filme não apenas se passa há mais de cinquenta anos, como parece ter sido rodado naquela época. Tal efeito já foi tentado em muitos outros projetos, nem sempre com o sucesso visto aqui.

O veterano Paul Giamatti consegue transmitir um mundo de sentimentos apenas com uma sutil mudança no olhar. Especialista em interpretar misantropos, o ator americano é favorecido pelo roteiro, algo que nem sempre aconteceu em seus outros trabalhos (como a série Billions). Infelizmente, alguns dos coadjuvantes acabam soando como o que são realmente: caricaturas. O imigrante, o valentão, o mórmon… Todos estão lá. Mas o que importa mesmo é que o principal, vivido pelo novato Dominic Sessa, tem (bem) mais de uma camada. Ainda bem.

Esperto, o diretor toca em questões políticas, mas nunca as torna o foco da narrativa. Tal atitude só atrapalharia o projeto, cujo centro emocional é a relação entre o professor e seu aluno renegado. Sim, a produção abusa de vários clichês do gênero, mas é doce (e melancólica), sendo um dos melhores filmes "de internato" já feitos. A comédia dramática de Alexander Payne está no mesmo nível de clássicos como Sociedade dos Poetas Mortos (1990) e School Ties (1992).

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Universal Pictures e Warner Bros.

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