Diretor do bem sucedido Rogue One, Gareth Edwards lança agora seu novo projeto. Apesar de mais “pessoal” e ambicioso, o longa investe numa familiaridade com filmes amados que oscila entre o curiosa e irritante. Claramente inspirado em Apocalipse Now (1979), Blade Runner (1982), Akira (1988) e Baraka (1992), Edwards falha em agregar algo relevante ao gênero. Estilisticamente rodado na rara razão de aspecto de 2.76:1, a produção infelizmente não será aproveitada como deveria pela maioria dos espectadores. A maioria dos cinemas comerciais possui telas mais estreitas, o que culminará no uso tarjas pretas para exibição que, neste caso, diluem o efeito pretendido.
Ambientado numa distopia (claro), o roteiro retrata o banimento da Inteligência Artificial nos EUA após esta lançar uma ogiva nuclear em Los Angeles. Dessa forma, a IA é banida no ocidente, mas continua sendo usada na ásia, onde foi completamente incorporada à cultura e sociedade. A trama, coescrita pelo próprio Edwards, traz John David Washington (nepo baby do momento) na pele de Joshua, agente do governo americano que, traumatizado com o desaparecimento da esposa (Chan, de Eternos), busca um misterioso engenheiro que, supostamente, criou uma arma capaz de encerrar o conflito. De uma maneira ou de outra, reciclam-se alegorias já vistas milhões de vezes.
No entanto, a maior inconveniência aqui são as observações inoportunas feitas sobre IA, ainda que possam um dia se mostrar acertadas. Em certo momento, fiquei a imaginar o que leva um cineasta a, no momento atual, ter o desplante de fazer tais sugestões, e ainda se apropriar da cultura asiática e de motifs da Guerra do Vietnã para fazê-lo. Só o tempo mostrará se ele foi audacioso, visionário ou apenas tapado. Questiono, também, quais sentimentos os membros da WGA e SAG-AFTRA, em greve há meses, teriam ao conferir a “visão” do diretor.
O máximo que dá para dizer sobre Resistência é que, mesmo com méritos técnicos e efeitos visuais competentes, parece apenas um arremedo, daqueles feitos por alguém que acredita piamente estar fazendo algo sublime. Além disso, o mundo pensado pelos produtores é esteticamente desinteressante e visualmente cansativo. Na ânsia de ser original num mundo de remakes, reboots e sequels, trouxe apenas tédio e moral duvidosa.
Por Bernardo Argollo
Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.