terça-feira, 26 de setembro de 2023

Crítica: Resistência (2023)

Dirigido por: Gareth Edwards. Roteiro de: Gareth Edwards e Chris Weitz. Fotografia de: Greig Fraser e Oren Soffer. Estrelando: John David Washington, Gemma Chan, Ken Watanabe, Sturgill Simpson e Allison Janney.

Diretor do bem sucedido Rogue One, Gareth Edwards lança agora seu novo projeto. Apesar de mais “pessoal” e ambicioso, o longa investe numa familiaridade com filmes amados que oscila entre o curiosa e irritante. Claramente inspirado em Apocalipse Now (1979), Blade Runner (1982), Akira (1988) e Baraka (1992), Edwards falha em agregar algo relevante ao gênero. Estilisticamente rodado na rara razão de aspecto de 2.76:1, a produção infelizmente não será aproveitada como deveria pela maioria dos espectadores. A maioria dos cinemas comerciais possui telas mais estreitas, o que culminará no uso tarjas pretas para exibição que, neste caso, diluem o efeito pretendido.

Ambientado numa distopia (claro), o roteiro retrata o banimento da Inteligência Artificial nos EUA após esta lançar uma ogiva nuclear em Los Angeles. Dessa forma, a IA é banida no ocidente, mas continua sendo usada na ásia, onde foi completamente incorporada à cultura e sociedade. A trama, coescrita pelo próprio Edwards, traz John David Washington (nepo baby do momento) na pele de Joshua, agente do governo americano que, traumatizado com o desaparecimento da esposa (Chan, de Eternos), busca um misterioso engenheiro que, supostamente, criou uma arma capaz de encerrar o conflito. De uma maneira ou de outra, reciclam-se alegorias já vistas milhões de vezes.

No entanto, a maior inconveniência aqui são as observações inoportunas feitas sobre IA, ainda que possam um dia se mostrar acertadas. Em certo momento, fiquei a imaginar o que leva um cineasta a, no momento atual, ter o desplante de fazer tais sugestões, e ainda se apropriar da cultura asiática e de motifs da Guerra do Vietnã para fazê-lo. Só o tempo mostrará se ele foi audacioso, visionário ou apenas tapado. Questiono, também, quais sentimentos os membros da WGA e SAG-AFTRA, em greve há meses, teriam ao conferir a “visão” do diretor.

O máximo que dá para dizer sobre Resistência é que, mesmo com méritos técnicos e efeitos visuais competentes, parece apenas um arremedo, daqueles feitos por alguém que acredita piamente estar fazendo algo sublime. Além disso, o mundo pensado pelos produtores é esteticamente desinteressante e visualmente cansativo. Na ânsia de ser original num mundo de remakes, reboots e sequels, trouxe apenas tédio e moral duvidosa.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Crítica: Som da Liberdade (2023)

Dirigido por: Alejandro Monteverde. Roteiro de: Rod Barr e Alejandro Monteverde. Fotografia de: Gorka Gómez e Andreu Aec. Estrelando: Jim Caviezel, Mira Sorvino e Bill Camp.

Finalmente o filme independente mais polêmico de 2023 veio para os cinemas brasileiros. Exemplo clássico de "sleeper hit" (lançamento morno que ganha notoriedade posteriormente), a ficção dirigida pelo mexicano Alejandro Monteverde retrata as memórias do ex-agente da CIA Timothy Ballard, pai de nove filhos (aparentemente, ele faltou a aula de planejamento familiar) e também mórmon, claro. Antenado aos problemas sociais, o rapaz abdica da profissão estável e da família anacronicamente numerosa, colocando a própria vida em risco para combater o crime e as forças do mal.

Ainda que a construção arquetípica do personagem e seus impulsos force a Suspensão da Descrença (nem o Capitão América é tão divino), os produtores acertaram na escolha do intéprete. Ator outrora considerado promissor, mas cuja estupidez o tornou irrelevante, Jim Caviezel foi merecidamente ostracizado em Hollywood. Dono de algum talento dramático, mas portador de notória deficiência intelectual, o americano ficou relegado a produções questionáveis há vários anos. Depois de resgatar um menino de uma quadrilha de tráfico de crianças, seu personagem se transforma em vigilante e Batman tropical, investindo numa missão arriscada para resgatar centenas de jovens raptados.

Vale lembrar, no entanto, que os acontecimentos do roteiro diferem significativamente dos relatos do próprio Ballard. Não que isso seja desabonador per se, pois a obra cinematográfica deve se sustentar sozinha e não tem obrigação de reproduzir cada detalhe do material fonte. De acordo com a narrativa o ex-agente, ele nunca adentrou uma floresta sozinho para resgatar a garota, tampouco matou um homem nesse processo. Além disso, a Operação Triple Take envolveu tanto menores quanto adultos, ao passo que o filme retrata todas as vítimas como crianças. Claro que todo tipo de adaptação pode (e deve) ser feita em benefício da narrativa. Dessa forma, mesmo admirando a força emocional de certas passagens, o fato é que a inclusão delas sugere motivações absolutamente escusas, ou simplesmente cínicas.

Conspiracionista em seu cerne, o longa não funciona nem como filme de ação, nem como de espionagem, nem mesmo como uma espécie de dossiê ficcional/pseudodocumentário. Ainda que tente capturar o horror do tráfico humano, as controvérsias do projeto conseguem eclipsar o esforço. Ao mesmo tempo que evita passagens mais explícitas que o impediriam de se tornar mainstream, o longa é curioso o suficiente para despertar o interesse de espectadores comuns, o que certamente contribuiu para a bilheteria vultosa (com investimento financeiro mínimo). E como não apreciar uma boa bilheteria? Aparentemente, ela fez com que os anti-sistema se rendessem a ele, já que há boatos sobre uma continuação. Pois é.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paris Filmes.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Crítica: A Freira 2 (2023)

Dirigido por: Michael Chaves. Roteiro de: Ian Goldberg, Richard Naing e Akela Cooper. Fotografia de: Tristan Nyby. Estrelando: Taissa Farmiga, Jonas Bloquet, Storm Reid, Anna Popplewell e Bonnie Aarons.

Responsável pelo pavoroso A Maldição da Chorona e pelo mediano Invocação do Mal 3, Michael Chaves ataca novamente. Por algum motivo que só os executivos da Warner sabem, o "cineasta" ganhou mais um voto de confiança, recebendo a tarefa de comandar a continuação (do já problemático) A Freira. O filme de 2018 trouxe inconsistências narrativas imperdoáveis, mas fez algum sucesso com sua atmosfera carregada e performances contumazes.

O roteiro, escrito a seis mãos, acompanha novamente a noviça Irene (Taissa Farmiga). Agora acompanhada da colega Debra (a medíocre Storm Reid), ela mais uma vez tem que enfrentar o demônio Valak. Já o jovem Maurice (Bloquet), agora trabalha como servente num internato francês, onde uma capela bombardeada durante a Segunda Guerra permanece sempre trancada.

A Freira 2 é um terror de inspiração gótica que não sabe o que fazer com seus elementos. Com a exceção de uma cena afiada envolvendo uma banca de revistas, os set pieces vistos aqui pouco têm de eficazes, e adicionam apenas sustos vazios para o rico universo da franquia concebida por James Wan. Lançado no mesmo ano de Fale Comigo e Evil Dead Rise, fica difícil defender este projeto.

Esta continuação é, sem sombra de dúvidas, o segundo pior filme da fraquia. O primeiro, é claro, já foi citado no início do texto. Sustentado pelo carisma de Taissa Farmiga e por um ou outro jump scare mais inspirado, o longa é prejudicado por um roteiro pedestre e ritmo irregular, com reviravoltas dignas de uma novela da Globo. É triste quando um storytelling ruim suga todo o potencial de um filme. Que falta faz uma Annabelle...

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

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