quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Crítica: A Outra (2008)













“Risk nothing and you gain nothing.” 

“To get ahead in this world, you need more than fair looks and a kind heart.”

Título original: The Other Boleyn Girl. Dirigido por: Justin Chadwick. Produzido por: Alison Owen. Roteiro de: Peter Morgan, Philippa Gregory. Montado por: Paul Knight, Carol Littleton. Fotografia de: Kieran McGugar. Música de: Paul Cantleton. Estrelando: Natalie Portman, Scarlet Johansson, Eric Bana, Jim Sturgess, Kristin Scott Thomas, Mark Rylance, David Morrissey, Juno Temple.

Há quem diga que regras foram feitas para serem quebradas. Se nada fosse questionado, provavelmente ainda viveríamos na Pré-história. Questões morais e éticas à parte, é indiscutível que é preciso ter coragem para desafiar um sistema vigente. A história de Ana Bolena, a mulher cuja auto-estima não permitiu ser apenas uma amante, é notória quando se estuda os acontecimentos do século XVI. O que A Outra faz é jogar os holofotes também sobre sua irmã Maria, praticamente ignorada pelos historiadores, mas que também desempenha um papel essencial na História.

Baseado no best seller de Phillipa Gregory, que por sua vez é inspirado pelos acontecimentos reais, a trama inicia-se narrando as ações de Sir Thomas Bolena, que, em busca de ascenção social, estimula sua filha mais velha a ser amante do rei justamente no momento em que sua esposa falha em dar-lhe um herdeiro. Parece uma premissa bizarra, mas é mais ou menos assim que as coisas funcionavam na época. Filhas eram objetos dos pais, e mulheres eram objetos de seus maridos. Ana é obstinada e decidida, enquanto Maria apresenta um ar angelical que logo encanta o rei Henrique VIII. Jogadas na cruel vida da corte, o que era para ser uma simples ajuda à família torna-se uma complicada rivalidade entre irmãs.


Sabendo ter pouco mais de noventa minutos para narrar acontecimentos que levaram mais de uma década, o roteiro de Peter Morgan acerta por manter a história sempre em andamento, num ritmo dinâmico incomum para um filme de época. Não tendo qualquer pretensão em ser um relato histórico fidedigno, o longa investe no estudo de personagens, e, por conseguinte, questões como o rompimento da Inglaterra com Roma e o fato de a filha de Ana com Henrique ser Elizabeth (uma das mais reconhecidas monarcas da história) são apenas citadas sem aprofundamento.

Natalie Portman e Scarlet Johansson atuam muito bem, mas é fato que Portman é artisticamente superior. Capaz de transmitir apenas com um olhar o que Johansson precisa compor uma expressão para passar, ela dá a sua atuação uma leveza e qualidade impressionantes, se considerarmos a força de sua personagem e o clima de tensão crescente. Também investindo numa composição vocal que muda ao longo do roteiro, Portman mais uma vez realiza uma interpretação digna de ser lembrada. A postura física, auxiliada por um figurino impecável, também contribui para o trabalho das atrizes. Eric Bana até tenta transformar seu Henrique VIII numa figura tridimensional, mas infelizmente o roteiro não abre muito espaço para seu personagem, que soa unidimensional toda vez que aparece.


O figurino é útil ao detalhar as diferenças entre as personalidades das irmãs. Enquanto Ana utiliza cores simples e ousadas como verde e azul (num ambiente cercado por tons pastéis), Maria apresenta tons amarelados que se encaixam mais ao ambiente, aliado à vestidos e acessórios mais ricos em detalhes e de desenho mais complexo que os da irmã. A diferença é interessante, pois ilustra o fato de Ana perseguir um objetivo principal, simples e, ao mesmo tempo, audacioso, enquanto Maria quer ser ela mesma e é uma pessoa mais modesta.


O diretor de fotografia Kieran McGugan acerta ao utilizar uma iluminação amarela nas cenas ambientadas na corte inglesa, o que ajuda a estabelecer aquele local como um ambiente efervescente, onde afloram intrigas, tensões e interesses. Apesar do escurecimento gradual do quadro à medida que a história se torna mais pesada funcionar razoavelmente, o diretor estreante Justin Chadwick peca ao construir elipses de forma absolutamente ultrapassada (mostrando planos do local onde a próxima cena se passa para ambientá-la, por exemplo) e aderir ao ápice dos clichês, que é mostrar nuvens em câmera acelerada para ilustrar a passagem do tempo. Tais métodos são típicos da linguagem televisiva (e totalmente superados na cinematográfica), que é justamente de onde vem Chadwick.

A obra propõe uma excelente reflexão sobre o que é ser mulher numa época em que, para se conseguir de um homem o que se quer, não se deveria confrontá-lo, mas fazê-lo acreditar que ele é que estava no comando. A Outra é, indubitavelmente, um ótimo entretenimento aliado a um poderoso exercício intelectual.


Por Bernardo Argollo

All the frames used here belong to Blu-ray.com and Universal Pictures.

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