quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Crítica: Assassinato no Expresso do Oriente (2017)













Dirigido por: Kenneth Branagh. Roteiro de: Michael Green. Estrelando: Penélope Cruz, Johnny Depp, Judi Dench, Josh Gad, Olivia Colman, Willem Dafoe.

O britânico Kenneth Branagh é um daqueles diretores que conseguiram entregar obras bastante díspares entre si, especialmente em termos de qualidade. Porém, seja nos jovens clássicos “Frankenstein de Mary Shelley” (1994) e “Hamlet” (1996), ou no medíocre “Thor” (2011), temos em sua obra uma visão humana e desprovida de arroubos indulgentes e plastificados. Tal direcionamento pode ser notado também em sua adaptação de uma das obras primas da escritora Agatha Christie: "Assassinato no Expresso do Oriente" (2017).

Espectadores casuais podem não saber que a obra em questão possui uma famosa versão feita por Sidney Lumet em 1974. De toda forma, Branagh traz um sopro de ar fresco a uma história que, embora familiar para muita gente, necessitava de uma atualização para as novas gerações.  E se lembrarmos de que o seu protagonista - o pitoresco detetive Hercule Poirot - possui um enorme potencial para a atual tendência cinematográfica de se investir em franquias, o papo sobre “necessidade de renovação” ganha uma nova dimensão...

Protagonizado pelo próprio Branagh como o supracitado Hercule Poirot, “Assassinato...” utiliza muito bem as suas duas horas de filme, ainda que a essência investigativa claustrofóbica da obra de Agatha Christie nos deixe com esporádicas sensações de estarmos presenciando uma narrativa arrastada e inchada ali dentro – ou ao redor – do trem que norteia toda a sua “simples” história de assassinato. Mas o fato é que cada minuto de filme se faz necessário (cedo ou tarde), visto que temos muitos personagens envolvidos na trama.

O elenco se mostra acertadíssimo, com atuações que entregam exatamente aquilo que a história pede de cada um dos personagens, seja em seus estágios iniciais ou finais. Além da excepcional atuação de Branagh como um Poirot ativo, analítico, e adoravelmente irritante em seu perfeccionismo, temos também um assustador Johnny Depp, um imprevisível Josh Gad, uma dissimulada Daisy Ridley, uma intensa Michelle Pfeiffer, um multifacetado Willem Dafoe, um envolvente Leslie Odom Jr., e uma Judi Dench convenientemente aborrecida.

Sim, o livro possui certo nível de frieza e objetividade extrema em sua narrativa. E sim, Branagh soube captar a conveniência de se acrescentar um sutil “tempero dramático” à sua versão cinematográfica, de tal forma que sejamos apresentados a Poirot de uma forma multidimensional. E como se não bastasse, a atenção e dedicação laboriosa de Branagh aos aspectos técnicos são louváveis de tal modo que o filme pode parecer interessante e imersivo até para quem se perdeu em algum ponto do desenrolar da sua complicada narrativa.

Seja como for, o novo "Assassinato no Expresso do Oriente" nos envolve com suas atuações e esmero técnico, nos faz exercitar nossas “massas cinzentas” (como diria o adorável detetive) durante a investigação, traz alguns questionamentos sutis e nada pretensiosos sobre justiça e natureza humana, e instiga o desejo de expansão do universo investigativo daquele que se auto intitula “o maior detetive do mundo”. Sim, Kenneth Branagh, nós queremos mais do seu Poirot, muito mais!

Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Espaço Z e 20th Century Fox.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Crítica: LEGO Ninjago - O Filme (2017)













Dirigido por: Charlie Bean, Paul Fisher, Bob Logan. Roteiro de: Bob Logan, Paul Fisher. Estrelando: Dave Franco, Justin Theroux, Fred Armisen, Abbi Jacobson, Olivia Munn.

Terceiro filme da LEGO, este Ninjago tem como pano de fundo a cultura oriental, adaptada, é claro, para paladares ocidentais. Logo após lançar um ótimo filme, que surpreendeu pelo humor genuíno e carisma indiscutível, o universo Batman foi explorado pela fabricante de brinquedos em seu segundo filme, que estreou em fevereiro de 2017. Neste novo projeto, no entanto, a fórmula já começa a dar sinais de fadiga.

Iniciado com logos estilizados, que já ajudam a estabelecer o clima, o longa começa com um garoto (ocidental, claro) adentrando uma sombria loja de relíquias orientais. Uma vez dentro dela, encontra ninguém menos que Jackie Chan, que resolve lhe contar a lenda de Ninjago. Saímos, então, do mundo real e passamos a acompanhar uma história encenada por bonecos LEGO. A trama gira em torno do garoto Lloyd que, filho do vilão Garmadon, enfrenta o desprezo dos habitantes da cidade enquanto tenta interromper os planos do pai, decidido a conquistar Ninjago. Para tanto, Lloyd contará com a ajuda de seus colegas ninjas e do sábio Mestre Wu (dublado pelo próprio Chan, na versão original).

Prejudicado pelo excesso de piadas, algo que seus antecessores souberam dosar na medida certa, Ninjago também peca pelo excesso de estereótipos e referências. Se era divertido ver um Batman solitário conversando com seu computador, a dinâmica do filho-bonzinho-ajuda-pai-vilão-que-no-fundo-também-é-bonzinho vista aqui é extremamente aborrecida, só não sendo mais insuportável do que as frases de auto-ajuda entoadas pelo Mestre Wu. Se no primeiro longa era divertido ver a participação especial de vários personagens sobre os quais a Warner possui os direitos autorais, aqui a sensação é estamos vendo propaganda.

Eficiente em seus aspectos técnicos, Ninjago conta com um design de produção que impressiona, se divertindo ao explorar o conceito de uma cidade (e um templo, uma floresta...) feitos de peças LEGO. Convenhamos, todavia, que isso é o mínimo a se esperar de uma produção de milhões de dólares que, sem o carisma das anteriores, parece decidida a forçar uma irreverência absolutamente irritante. Além de apelar para toda cafonice narrativa já usada no Cinema, o longa ainda conta com músicas cujas letras possuem um asqueroso teor moralizante.

É bem provável que os pais e irmãos mais velhos se sintam bastante entediados durante a projeção, que talvez agrade aos espectadores mais jovens, até uns 10 anos de idade... Resta-nos torcer para que os inevitáveis projetos vindouros, financiados pela fabricante de brinquedos, sejam melhores.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Crítica: Kingsman - O Círculo Dourado (2017)













Dirigido e produzido por: Matthew Vaughn. Roteiro de: Jane Goldman, Matthew Vaughn. Estrelando: Colin Firth, Julianne Moore, Taron Egerton, Halle Berry, Mark Strong, Elton John, Channing Tatum, Jeff Bridges.

Especialista em adaptar quadrinhos para as telas, Matthew Vaughn foi o responsável pelos ótimos Kick-Ass, X-Men: Primeira Classe e também pelo magnífico Stardust. Eis que, em 2014, ele apresenta o primeiro Kingsman, uma grata surpresa em meio a tantas adaptações que HQs lançadas todos os anos.  Divertido e irreverente, o filme é nada mais, nada menos, que uma das melhores homenagens aos filmes de espionagem já realizadas.

Agora, chega a inevitável continuação. Neste novo capítulo, ambientado um ano após os acontecimentos do primeiro filme, Eggsy (Egerton), agora agente da Kingsman, precisa salvar a agência, praticamente destruída após um impiedoso ataque de um poderoso cartel de drogas, o Círculo Dourado. Para isto, Eggsy e Merlin (Strong) contarão com a ajuda dos Statesman (uma espécie de Kingsman americana) para combater os planos de Poppy Adams (Moore), comandante do cartel.

O Círculo Dourado traz de volta tudo que tornou o longa original tão querido. A violência cartunesca, o humor negro e as rasas, porém válidas, discussões sociais estão presentes. Se no primeiro longa foi discutido o choque de classes (e gerações), bem como questões de gênero, o novo longa faz um comentário interessante sobre a criminalização das drogas.

É necessário dizer, contudo, que a maior diferença entre os dois filmes é justamente o autocontrole do primeiro, que mesmo com toda ação desenfreada e ritmo rápido, não sacrificava a história em prol da ação. Neste segundo, vemos o exagero, num claro exemplo de fan servicing. Ilustra isso a volta de Colin Firth como o agente Harry. Se a morte de seu personagem no projeto anterior fechava um interessante e coeso arco dramático, sua volta neste filme enfraquece todo o trabalho feito. Depois de investidas duas horas no arco formado pela ascensão de Eggsy e queda de Harry, qual o sentido deste voltar? Além disso, a explicação para sua sobrevivência é ridícula demais, mesmo considerando o universo no qual as obras se passam. Há limites para a suspensão da descrença.

Problemas à parte, há muita coisa para se apreciar em O Círculo Dourado, começando pelo elenco fenomenal, que se dá ao luxo de empregar Elton John numa ponta divertidíssima. Taron Egerton exibe o carisma de sempre, enquanto Julianne Moore se diverte horrores com sua Poppy Adams. A dinâmica entre a pompa britânica dos Kingsman e a descontração de seus colegas americanos, com seus chapéus de cowboy e sotaques marcantes, é um dos pontos altos do projeto. É uma pena, no entanto, que Jeff Bridges e Channing Tatum tenham tido tão poucas cenas. Tomara que este pecadilho seja corrigido numa eventual continuação.

Bastante inchada, com seus 141 minutos de projeção, esta continuação dá sinais de uma autoindulgência perigosa, em se tratando de franquias. É uma pena que o mesmo diretor que consegue subverter conceitos e tocar em temas delicados tenha perdido o autocontrole. Charme e carisma, porém, há de sobra.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e 20th Century Fox.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Crítica: mãe! (2017)













Escrito e dirigido por: Darren Aronofsky. Produzido por: Darren Aronofsky, Scott Franklin, Ari Handel. Estrelando: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris, Michelle Pfeiffer.

Mestre em criar experiências viscerais que permanecem com o espectador após este deixar a sala de projeção, o Aronofsky de Réquiem para um Sonho e Cisne Negro apresenta agora uma de suas obras mais perturbadoras. Curiosamente bancado por grande estúdio, mãe! mostra que, felizmente, ainda há espaço para narrativas pouco convencionais numa Hollywood cada vez mais povoada por adaptações, franquias, sequências, prequels, remakes, reboots...

O roteiro acompanha a mulher vivida por Jennifer Lawrence, que se dedica a restaurar a casa em que vive com seu marido, destruída por um incêndio. Quando um misterioso casal (Pfeiffer e Harris) chega de repente, Ele e Ela (seus nomes jamais são revelados), veem sua existência tranquila ser perturbada de formas absolutamente insanas.

Trazendo uma riqueza de simbolismos e ideias similar à de trabalhos anteriores, o realizador mantém o clima de tensão do primeiro ao último frame. Com a câmera sempre próxima ao rosto de Lawrence, nos identificamos imediatamente com esta. Vemos o que ela vê. Sabemos apenas o que ela sabe. Sentimos o desconforto crescente que ela sente. A sensação de que algo está errado é muito intensa, beirando o insuportável, algo que o desenho de som do filme torna ainda mais incômodo.

É bastante provável, contudo, que muitos saiam do cinema querendo uma explicação para o que acabaram de contemplar. Este não é o tipo de filme que se explica, é um filme que se interpreta. E em como toda obra complexa, as interpretações são diversas. Afinal, é isto que torna a Arte tão fascinante.

Dando continuidade à seu fascínio por histórias bíblicas (bem explorado pelo ótimo Noé), Aronofsky, desta vez, constrói algo que pode ser visto como uma alegoria para o paraíso. O escritor (ou melhor, Criador) seria Deus, o casal intruso seria Adão e Eva e a personagem de Lawrence seria a mãe-terra, sempre explorada, estuprada, invadida e desconfortável. E a casa, é claro, com sua pulsação interna, paredes que parecem ter vida própria e força vital que se esvai constantemente, seria o Jardim do Éden.

Além disso, o isqueiro utilizado por certo personagem traz o símbolo Wendehorn, que significa vida e morte. mãe! é o tipo de filme que deixará o espectador incerto sobre o que acabou de assistir. Talvez tenha muitos significados, talvez tenha poucos. Como diria Roger Ebert, não importa sobre o que um filme é, mas como ele é sobre o que é. E esse "como" é a especialidade de Aronofsky.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Crítica: Feito na América (2017)













Dirigido por: Doug Liman. Roteiro de: Gary Spinelli. Produzido por: Brian Grazer, Brian Oliver. Estrelando: Tom Cruise, Sarah Wright, Domhnall Gleeson.

Mais um exemplar do subgênero self-made manque inclui filmes consagrados como O Lobo de Wall Street, este Feito na América utiliza o carisma indiscutível de Tom Cruise para narrar a curiosa história do piloto de aviação civil que se tornou espião e traficante. No fim dos anos 1970, Barry Seal foi convidado pela CIA para pilotar em missões de reconhecimento em territórios estrangeiros de interesse estratégico. Durante uma missão, o cartel de Medellin contrata o piloto para contrabandear cocaína para os EUA. Barry logo percebe que enriqueceria mais rápido se também trabalhasse para eles.

Apenas pincelada por produções como Conexão Escobar e Narcos, a história é, dessa vez, explorada com mais calma pelo roteiro de Gary Spinelli que, sem apelar para exposições desnecessárias, resume a premissa em um primeiro ato ágil que nos coloca imediatamente ao lado do protagonista.


Exibindo o vigor físico costumeiro, Cruise impressiona pela atuação enérgica e entrega ao personagem. Bastante à vontade, o ator de diverte com os maneirismo de Seal, ao mesmo tempo que se afasta de performances mais concisas, como as das franquias Missão Impossível e Jack Reacher.


Apesar de a maioria das ações retratadas pelo longa parecerem absurdas, gerando risos involuntários em várias cenas, é feita uma inteligente crítica à política de combate às drogas pelo governo americano. Em certo momento, vemos o discurso de Nancy Reagan, afirmando que "basta dizer não" às drogas e, deixando patente como o governo indiretamente armou os cartéis sul-americanos.


Encerrando-se num momento ligeiramente anti-climático, o roteiro peca por se parecer muito com Narcos. É impossível não lembrar da série, principalmente nas cenas envolvendo malas e bolsas de dinheiro. A busca pelo sonho americano continua sendo um tema farto para o cinema, e filmes como o recente Cães de Guerra e este Feito na América provam que jornadas distorcidas em busca de sucesso podem render ótimos filmes.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Crítica: Dunkirk (2017)













Dirigido por: Christopher Nolan. Produzido por: Emma Thomas, Christopher Nolan. Estrelando: Fionn Whitehead, Tom Glynn-Carney, Jack Lowden, Harry Styles, Aneurin Barnard e Kenneth Branagh.

Christopher Nolan é esperto. Espertíssimo. Ele faz filmes para as massas, mas de uma forma que faz com que cada espectador se sinta especial e inteligente ao assisti-los. É blockbuster com gostinho de “filme de arte”. Logo, criou-se toda uma legião de fãs disposta a amá-lo e defendê-lo. Dito isto, ressalto que, apesar de gostar de seus trabalhos, minha admiração é mais técnica do que narrativa. E isso se repete em seu longa mais recente.

O roteiro acompanha três linhas narrativas: uma na terra, cobrindo uma semana, uma no mar, durando um dia e outra no ar, com uma hora. As três são entrelaçadas numa narrativa não linear. No prólogo, somos informados que, após a invasão da França pela Alemanha nazista em 1940, soldados aliados recuam para a cidade litorânea de Dunkirk. À medida que os inimigos avançam, os combatentes aguardam resgate, ao som da trilha dramática e insistente de Hans Zimmer.

Ao contrário de Interestelar, neste Dunkirk a mixagem de áudio é boa o suficiente para que possamos ouvir os diálogos com clareza e distinguir todos os outros ruídos, tornando a experiência ainda mais imersiva com o formato Dolby Atmos. Belíssima em seus elementos puramente estéticos, a produção inclui planos que, por mais simples que pareçam, sugerem horas de preparação, desde um plano geral numa praia até um plano detalhe nos pés de um cadáver.

E se até agora não citei nenhum personagem, é porque estes não importam de fato. Este projeto é uma experiência sensorial, que prioriza a ação. Assim, o roteiro não perde tempo com explicações desnecessárias e histórias de origem dispensáveis. Não deixa de ser triste, contudo, ver o excelente Kenneth Branagh reduzido a um mero recurso expositivo para informar o contexto da batalha. E se isto pode prejudicar o desenvolvimento de personagens e a nossa ligação emocional com eles (sim, prejudica), permite que apreciemos a experiência insubstituível de assistir a um filme em grande escala como um fim em si mesmo, sem maiores pretensões. Mais uma vez, Nolan utiliza o formato IMAX, bem como películas de 70 mm e 35 mm, em sintonia com seu ceticismo acerca das plataformas de streaming e da praga do cinema digital.

Filme mais curto desde sua estreia como diretor em Following (1998), Nolan prova que, mesmo com a carreira estabelecida e todas as opções possíveis a seu dispor, é possível ser conciso e evitar a auto-indulgência, algo que vai contra a tendência de muitos diretores mainstream talentosos, que tendem a ficar progressivamente piores devido a excessos (sim, Peter Jackson, estou falando de você).

Não creio que seja genial, sensacional ou esteja entre o melhor que o cinema-espetáculo tenha a oferecer, mas não deixa de ser um exercício interessante imaginar um cenário em que mais cineastas usassem os preceitos do Nolan para nortear suas abordagens. Dunkirk é uma experiência imersiva estonteante. Entre fanboys e haters, salvam-se todos.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Brothers.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Crítica: Transformers - O Último Cavaleiro (2017)













Dirigido por: Michael Bay. Produzido por: Don Murphy, Lorenzo di Bonaventura. Roteiro de: Art Marcum, Matt Holloway. Estrelando: Mark Wahlberg, Josh Duhamel, Stanley Tucci, Anthony Hopkins.

O cinema é uma arte essencialmente visual. A falta ou mal desenvolvimento de uma trama não compromete o resultado de um filme, pois a forma como uma história é contada pesa mais do que a história em si. Eis que a franquia Transformers chega a seu quinto filme, último da série dirigido por Michael Bay, que não irá retornar para as inevitáveis continuações.

Durando quase duas horas e meia, o longa inicia-se com uma longa sequência de batalha medieval que, inspirada por filmes muito melhores, tem como objetivo tentar explicar a lógica daquele universo. Tal lógica, se é que existe, é rapidamente ignorada pelo roteiro, já que personagens parecem ir de um lugar a outro por meio de relações de causa e efeito confusas demais para serem entendidas. A trama é basicamente a mesma de sempre: Autobots vs. Decepticons.

Na tentativa de fazer com que as imagens ali mostradas pareçam ter ligação umas com as outras, somos apresentados a todo tipo de personagem. Desde o homem comum interpretado por Mark Wahlberg até a mocinha nerd interpretada por Laura Haddock, cuja dinâmica que estabelece com o colega segue o velho clichê do “eles brigam mas se gostam”. E claro, temos o lorde inglês excêntrico interpretado por Anthony Hopkins.

Praticamente concebido como um amontoado de efeitos visuais, Transformers 5 impressiona em seus aspectos técnicos. Fotografado em diversos formatos diferentes, desde câmeras IMAX 3D até película de 16 mm, o longa acerta por, pelo menos, entender que 3D exige grande profundidade de campo. Assim, espaços amplos são explorados num raro (e trágico) uso assertivo da terceira dimensão.

É entristecedor, portanto, que mesmo após décadas como cineasta, Bay não tenha sido capaz de aprender o mínimo sobre sua profissão. Incapaz de entender conceitos como mis-en-scène, eixo e montagem, o cineasta simplesmente atira uma série de planos sem se preocupar com a duração, geografia e relações entre eles. Uma ofensa a qualquer espectador. É o que Hollywood tem de pior a oferecer.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Crítica: Velozes e Furiosos 8 (2017)













Dirigido por: F. Gary Gray. Produzido por: Neal H. Moritz, Vin Diesel, Michael Fottrell. Roteiro de: Chris Morgan. Estrelando: Vin Diesel, Dwayne Johnson, Jason Statham, Michelle Rodriguez.

Quando o primeiro Velozes e Furiosos foi lançado, em 2001, ninguém imaginava que iria se tornar a maior franquia da Universal. Inicialmente habitados apenas por carros potentes e mulheres bonitas, aos poucos os filmes deixaram de se concentrar somente em corridas, mirando num público mais amplo.

Rodado em diversas partes do mundo, como de costume, o roteiro acompanha as aventuras de Dominic Toretto (Diesel), que é forçado por uma mulher misteriosa a trair seus amigos, entrando para o mundo do cyberterrorismo. Agora trabalhando contra seus parceiros (e sua família), Toretto obriga-os a combatê-lo enquanto tentam entender o motivo de sua revolta.

Cercado de piadas inspiradas em meio a diálogos constrangedoramente expositivos, o longa acerta por não se levar muito a sério. Contando com uma série de referências orgânicas (e outras nem tanto), o longa se diverte ao explorar as habilidades de cada um dos integrantes do time, que ganha um novo e inesperado aliado na forma do ex-vilão Deckard Shaw (Jason Statham, inspiradíssimo).

As sequências de ação, ainda mais mirabolantes que as dos capítulos anteriores, oscilam entre o interessante e o ridículo. A cena que envolve o carro dirigido por Toretto disputando um cabo de guerra com outros quatro veículos é tensa, já o momento em que certo personagem desvia um torpedo com a mão provoca risos pelo absurdo.

Absurda mesmo, no entanto, é a vilã vivida por Charlize Theron, que mesmo naquele universo soa deslocada. Típica vilã de filmes B de espionagem, a hacker vive em um avião recheado de todo tipo de aparato tecnológico. E sua motivação (dominar o mundo) chega ser mais risível do que suas falas. Já a pequena participação de Helen Mirren é sensacional, dando origem a um dos momentos mais divertidos de toda a série. De corridas de carros ao submundo do crime, Velozes e Furiosos é uma franquia que soube se reinventar. Aguardemos o próximo episódio.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Crítica: Power Rangers (2017)













Dirigido por: Dean Israelite. Produzido por: Haim Saban, Wyck Godfrey. Roteiro de: John Gatins. Estrelando: Dacre Montgomery, Naomi Scott, RJ Cyler, Becky G, Ludi Lin, Bryan Cranston, Elizabeth Banks.

Inspirada pela série japonesa Super Sentai, a franquia Power Rangers foi um estrondoso sucesso nos anos 1990 e início dos anos 2000. Composta por séries de televisão, filmes, quadrinhos e toda uma série de produtos relacionados (de roupas a brinquedos), o grupo de heróis coloridos ganha novos contornos nesta "reimaginação", que se propõe apresentá-los a uma nova geração de potenciais consumi... oops, digo... fãs!

A trama acompanha as aventuras de cinco jovens que, ao descobrirem os restos de uma nave espacial, tornam-se a nova geração de guerreiros conhecidos como Power Rangers. Tais combatentes têm como missão (obviamente) proteger a Terra das forças do mal, que desta vez atendem pelo nome de Rita Repulsa (Banks). E se o próprio nome da vilã já é indicativo da natureza infantil, cartunesca e até mesmo brega do universo diegético, aqui temos um longa que parece incerto quanto ao rumo que pretende seguir, oscilando entre o tom leve do material original e a abordagem mais madura que se tornou comum nos filmes de super-herói contemporâneos.

Curiosamente escrito por uma única pessoa, já que contém o que parecem ser diversas visões em conflito, o roteiro merece créditos por dedicar um bom tempo ao desenvolvimento dos personagens. Assim, há longas cenas que abordando a história e a vida pessoal de cada um dos heróis. É uma pena, contudo, que os dramas pessoais dos jovens apelem para todos os clichês imagináveis, desde o rapaz-perdido-de-bom-coração até a moça que toma a decisão de confrontar seus dilemas ao cortar o cabelo diante do espelho (cabelos curtos são sinônimos de mais força?). Dito isto, não deixa de ser interessante notar que esse mesmo filme é o primeiro blockbuster a trazer uma heroína LGBT (Becky G) e um herói com transtorno do espectro autista (Cyler), ainda que sua condição seja frequentemente usada como fonte de humor.

Indeciso sobre o tom que pretende conferir ao filme, o cineasta sul-africano Dean Israelite (do mediano Projeto Almanaque) investe numa fotografia predominantemente sóbria, que atinge seu ápice na densa cena na qual os Rangers compartilham seus dramas pessoais uns com os outros, apenas para alguns momentos depois dar lugar a um visual espalhafatoso, embalado por uma trilha sonora animada. Assim como o pavoroso reboot de Quarteto Fantástico, este Power Rangers comete o erro de tentar conferir seriedade a uma narrativa essencialmente leve, e confesso que não tive outra alternativa senão rir durante o plano em que os Rangers aparecem andando em câmera lenta (vocês saberão quando assistirem ao filme).  

A química entre os jovens atores é admirável, apesar de sabermos que seus personagens seguem modelos de comportamento pré-planejados para fazer com que pareçam complexos, ao passo que Elizabeth Banks e Bryan Cranston pouco podem fazer como Rita e Zordon.

Por fim, as poucas sequências de ação vistas aqui seriam consideradas incríveis há vinte anos, porém hoje soam apenas burocráticas. As aguardadas lutas envolvendo os Zords, robôs gigantes que lembram uma cópia mal-feita dos Transformers, são quase tão ridículas quanto o tom de urgência adotado no terceiro ato. Ao menos, desta vez, há uma história de origem para ancorar possíveis continuações.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Paris Filmes e Lionsgate Entertainment.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Crítica: Logan (2017)













Dirigido por: James Mangold. Produzido por: Hutch Parker, Simon Kinberg, Lauren Shuler Donner. Roteiro de: Scott Frank, James Mangold, Michael Green. Estrelando: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen.

17 anos. 9 filmes. Os X-Men foram os responsáveis por ressuscitar o subgênero de super-herói no início dos anos 2000 e, ao longo dessa década e da atual, houve tanto excelentes adaptações quanto momentos vergonhosos. Dito isto, Hugh Jackman entrega sua melhor atuação ao se despedir do personagem que o alçou ao estrelato.

Mais ambicioso que os dois filmes solo anteriores (o fraco Origins e o mediano Wolverine Imortal), o roteiro deste Logan se passa em 2029, um futuro no qual a maior parte dos mutantes desapareceu. Sentindo-se culpado por tudo que fez em outras épocas, o Wolverine aqui visto abusa de álcool, anda de forma trôpega e está com olhos sempre avermelhados, o que, mais do que uma forma de compor seu estado, confere uma vulnerabilidade comovente. Trabalhando como motorista de limusine em uma cidade próxima à fronteira com o México enquanto tenta zelar pelo decadente Professor Xavier, que já passa dos 90 anos, Logan vê sua triste rotina alterada quando é contratado para transportar uma garotinha com poderes similares aos dele.

As lutas e cenas de ação são coreografadas com a perícia habitual de Mangold, que acerta ao não tornar a ação incompreensível e também ao aproveitar-se da classificação indicativa maior para expor as consequências da violência ali retratada. Além da performance de Jackman, o sempre ótimo Patrick Stewart destaca-se mais uma vez, conferindo ao Professor Xavier um ar de instabilidade que vai de encontro ao que estamos habituados a ver. Já a atriz Dafne Keen, de 11 anos, oferece uma performance intensa como a mutante Laura que, calada durante a maior parte dos 137 minutos de projeção, transmite um mundo de sentimentos com sutis mudanças no olhar.

Felizmente, a fotografia de John Mathieson foge do clichê, fazendo uso de cores quentes, numa clara influência western complementada pela divertida referência à Os Brutos Também Amam (1953), clássico que narra a vida um pistoleiro que se isola para evitar confrontar-se com seu passado.

Finalmente entregando-se às suas origens nos quadrinhos, Logan apresenta o mutante adulto e agressivo que os fãs aguardavam há anos. Filme corajoso, violento e surpreendentemente profundo, a última aparição de Hugh Jackman como Wolverine se estabelece como a melhor adaptação de quadrinhos dos últimos anos.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e 20th Century Fox.

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