quinta-feira, 27 de junho de 2019

Crítica: Annabelle 3 - De Volta Para Casa (2019)













Dirigido e roteirizado por: Gary Dauberman. Fotografia de: Michael Burgess. Estrelando: Mckenna Grace, Madison Iseman, Katie Sarife, Patrick Wilson e Vera Farmiga.

Terceiro filme da “subfranquia” protagonizada pela boneca amaldiçoada, que por sua vez faz parte do universo estendido originado pelo ótimo Invocação do Mal (2013), este De Volta Para Casa é a estreia na direção do produtor e roteirista Gary Dauberman. Colaborador habitual da franquia, aqui ele mostra ter domínio da linguagem, ainda que os resultados apresentados sejam irregulares.

Cronologicamente, a narrativa é uma midquel, já que seus eventos se passam entre os dois Invocação do Mal. Iniciando com a mesma cena já vista no primeiro Annabelle (sim, é o terceiro filme da série que começa de maneira exatamente igual), acompanhamos aqui os esforços do casal Ed e Lorraine Warren para manter a boneca presa no porão. Até que, certo dia, uma jovem desavisada libera sua maldição mais uma vez.

Dauberman acerta ao desenvolver seus personagens, evitando que soem caricatos. Ainda que as motivações de Daniela para adentrar no armazém dos Warren soem bobas demais, nos envolvemos o suficiente para torcer por ela e sua amiga Mary Ellen, interpretada pela ótima Madison Iseman. Patrick Wilson e Vera Farmiga estão no piloto automático, ainda que a química entre ambos seja palpável. Já a garotinha Mckenna Grace faz um bom trabalho ao compor a criança perturbada tão comum em filmes de terror.

Retratando diversos novos espíritos que eventualmente darão origem a mais spin-offs, o longa apresenta um design de produção eficiente, que em conjunto com a fotografia de Michael Burgess cria ambientes verdadeiramente assustadores. Fugindo do clichê de manter a escuridão absoluta, o filme investe em fontes de luz inusitadas, como um abajur cujas cores se alternam, resultando num plano que classifico como “brilhante” sem hesitação.

Merecendo aplausos por evitar um deus ex machina óbvio, o diretor-roteirista cria uma resolução coerente e emocionalmente satisfatória. De Volta Para Casa não é tão eficiente como exercício de gênero quanto outros filmes da franquia, causando um efeito bem menos duradouro do que, por exemplo, Invocação do Mal 2. De todo modo, é um entretenimento interessante, sugerindo que o “MCU do terror” (rs) ainda tem fôlego.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Crítica: Casal Improvável (2019)













Dirigido por: Jonathan Levine. Roteiro de: Dan Sterling e Liz Hannah. Estrelando: Seth Rogen, Charlize Theron, O'Shea Jackson Jr., Andy Serkis e Bob Odenkirk.

Seguindo a mais que manjada fórmula do odd couple, este Casal Improvável é mais uma comédia que aposta em velhos clichês, mas com o diferencial de contar com o carisma de Seth Rogen e Charlize Theron. Mistura de comédia romântica e pastelão, o projeto do diretor de Meu Namorado é Um Zumbi chega a empregar o ótimo Andy Serkis, irreconhecível, em uma quase ponta, bem como faz piada com o geralmente sério Alexander Skarsgard.


O longa narra a história de Fred (Rogen), jornalista investigativo que, após ficar desempregado, reencontra sua antiga babá, agora Secretária de Estado (Theron). Quando ela decide se lançar como candidata à presidência, acaba contratando-o para elaborar seus discursos.


Com uma direção ágil e segura, Jonathan Levine consegue imprimir ritmo numa narrativa que depende de um. Ainda que o roteiro aposte em situações que, mesmo para uma comédia, sejam absurdas demais, é divertido acompanhar o crescimento dos personagens, desde o empoderamento de Charlotte, que aos poucos ressignifica seu idealismo desenfreado, até o amadurecimento de Fred, que se autoquestiona sem perder o senso de humor. Dialogando com a política moderna por meio do presidente interpretado por Bob Odenkirk, Levine é esperto ao fazer graça enquanto aponta incongruências cada vez mais comuns nos EUA, como um negro (Jackson) votar no Partido Republicano.


Orá óbvio, ora sutil, os realizadores fazem críticas sociais interessantes. Ainda que ligeiramente inchado em seus 125 minutos de projeção, o longa encontra tempo para discutir empoderamento feminino, workaholism, papéis de gênero e até a 
(perigosa) influência dos grandes conglomerados de mídia. E mesmo não se aprofundando em nenhum desses temas, é louvável perceber que o roteiro jamais coloca em dúvida a capacidade da protagonista em ocupar os cargos que ocupa. Ácido e muito divertido, Casal Improvável é, acima de tudo, um filme moderno.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paris Filmes.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Crítica: Dor e Glória (2019)













Dirigido e roteirizado por: Pedro Almodóvar. Estrelando: Antonio Banderas, Asier Etxeandia, Leonardo Sbaraglia e Penélope Cruz.

Salvador Mallo (Banderas) é um cineasta em declínio, após um período produtivo que culminou numa cirurgia de coluna, limitando sua saúde. Após a restauração de um dos seus mais famosos filmes, Mallo sai em busca do ator que interpretou o protagonista (Etxeandia) da obra, para que se reconciliem trinta anos depois de terem brigado. Enquanto acompanhamos a decadência física e emocional de Salvador, somos apresentados à memórias de sua infância, nas quais vemos sua mãe, interpretada por Penélope Cruz.

E é com essa premissa que o novo filme de Almodóvar, seu trabalho mais pessoal, começa. Apostando numa narrativa não-linear, acompanhamos à persona fria e desesperançosa de seu protagonista, ao passo que sua versão infantil impede que o roteiro caia no melodrama. De certo modo remetendo ao Chiron de Moonlight, o garoto (sempre esperto e vivaz) percebe-se diferente ainda pequeno, e Almodóvar reforça nossa identificação ao frequentemente enquadrá-lo no terço inferior da composição, deixando-o encurralado.

Antonio Banderas entrega o que provavelmente é a melhor performance de sua carreira, ao passo que Asier Etxeandia é eficiente ao ilustrar a importância de seu personagem na vida do protagonista. E tão interessante quanto as atuações é o design de produção, que aposta em interiores coloridos, como a casa de Mallo, que, com sua enorme coleção obras de arte, tenta preencher seu vazio afetivo.

Finalizando com uma pequena (e divertida) reviravolta, Dor e Glória é o projeto mais intimista das quase quatro décadas de carreira do diretor espanhol. Ao mesclar linhas narrativas, o cineasta destaca a ambiguidade dos fatos. Desse modo, o filme se torna um claro exemplo de autoficção, na qual um narrador não confiável faz com que fiquemos indecisos sobre o que é real e o que não é. Depois do medíocre Os Amantes Passageiros (2013) e do razoável Julieta (2016), é bom vê-lo entregar uma experiência verdadeiramente inspiradora.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: UPI e Universal Pictures.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Crítica: X-Men - Fênix Negra (2019)













Dirigido e roteirizado por: Simon Kinberg. Estrelando: James McAvoy, Michael Fassbender, Jenfer Lawrence, Nicholas Hoult, Sophie Turner e Jessica Chastain.

Em certo momento de Fênix Negra, filme que teoricamente conclui a série X-Men como a conhecemos, uma personagem pergunta "quem somos nós?", questão que aqui soa terrivelmente adequada ao projeto comandado por Simon Kinberg, que parece incerto sobre seu próprio objetivo. Roteirista e produtor habitual da franquia, Kinberg estreia na direção com um longa que, convenhamos, tem uma função ingrata.


Novamente adaptando uma das mais conhecidas sagas dos X-Men nos quadrinhos, o roteiro de Kinberg retoma os acontecimentos dez anos após o medíocre Apocalipse, no qual fomos apresentados à versão mais jovem de Jean Grey, vivida por Sophie Turner. Após um acidente numa operação de resgate espacial realizada pelos X-Men, a moça vê seus poderes se tornarem cada mais maiores e fora de controle, o que atrai a atenção de uma espécie alienígena comandada por Vuk (Jessica Chastain).


Ao adotar como centro narrativo o conflito interno de Jean com seus novos poderes e o autoquestionamento de Xavier (McAvoy, sempre excelente) como líder do grupo, Fênix Negra não se torna um desastre completo. Michael Fassbender e Jennifer Lawrence pouco tem a fazer como Magneto e Mística, e a insistência desta em manter-se na maior parte do tempo em sua forma "humana" vai contra o arco dramático que os filmes anteriores estabeleceram tão bem. Já a talentosíssima Jessica Chastain pouco pode fazer como vilã, já que o roteiro a sabota com diálogos absurdos ("Você é mais poderosa do que imagina."), que combinados à decupagem pedestre e aos movimentos de câmera caóticos, quase provocam riso.


Já no quesito ação, o que temos são sequências burocráticas, amadoramente dirigidas, já que Kinberg falha em estabelecer a geografia das cenas, bem como as regras do jogo. A interação entre os mutantes e seus diversos poderes é sempre divertida de acompanhar, mas... Quantos inimigos mesmo estão lutando contra os heróis? Quem está caminhando em direção a quem? E por aí vai.


Não deixa de ser simbólico observar o esgotamento criativo de uma saga que antes era fonte inesgotável de alegorias sociais. Se afastando de qualquer atmosfera pesada e não se arriscando tematicamente, o derradeiro projeto da franquia de quase vinte anos se sustenta apenas no entretenimento genérico. Agora, sob o comando da Disney, será que os X-Men retornarão das cinzas?


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e 20th Century Fox.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Crítica: A Lenda de Golem (2018)


Dirigido por: Doron e Yoav Paz. Roteiro de: Ariel Cohen. Estrelando: Hani Furstenberg, Aleksey Tritenko, Konstantin Anikienko e Ishai Golan.

Longe de ser o terror lugar-comum que seu marketing sugere, A Lenda de Golem traz uma abordagem respeitosa ao seu material de origem. Com atuações sinceras, design de produção eficiente e personagens interessantes, o longa consegue vencer suas próprias limitações, como o montagem sem ritmo e roteiro truncado. Produção israelense falada em inglês, o filme dos irmãos Doron e Yoav Paz é o segundo de suas carreiras a atingir alguma projeção internacional, após o razoável Jeruzalem (2015).

Ambientada na Lituânia do século XVII, a narrativa acompanha a jornada de Hanna (Hani Furstenberg), mulher que perdeu seu filho há quase uma década. Habitante de um vilerajo judeu, ela espiona reuniões de rabinos e estuda secretamente a cabala. Após um conflito com gentios que culpam seu povo por uma praga, Hanna cria um Golem, espécie de servo mítico criado artificialmente, segundo a tradição judaica.

Desperdiçando a boa ideia de que o Golem funcionaria como uma extensão de seu criador e, consequentemente, de sua personalidade, a dupla de diretores peca por se entregar ao mero gore, bem como ao velho clichê da criança-assustadora-perversa. Fartamente explorado desde Cemitério Maldito (1989), o conceito aqui é absolutamente ineficaz, e o fato de o monstro ser interpretado por um péssimo ator mirim (Anikienko) também não ajuda.

Incluindo uma cena claramente inspirada pelo sublime A Bruxa, o projeto parece bem mais longo do que seus meros 95 minutos de projeção. Ao menos, os cineastas entendem que este é um filme que somente funcionará caso o espectador compreenda a ligação física e psíquica entre a criadora e sua criatura. Desse modo, ao fazê-la o centro absoluto da narrativa, conseguimos abstrair as subtramas bobas e nos concentrar no que realmente importa. No fim das contas, o saldo é positivo.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e PlayArte Filmes.

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