Dirigido por: Christopher
Nolan. Produzido por: Emma Thomas, Christopher Nolan. Estrelando: Fionn Whitehead, Tom
Glynn-Carney, Jack Lowden, Harry Styles, Aneurin Barnard e Kenneth Branagh.
Christopher Nolan é esperto. Espertíssimo. Ele faz
filmes para as massas, mas de uma forma que faz com que cada espectador se
sinta especial e inteligente ao assisti-los. É blockbuster com gostinho de “filme de arte”. Logo, criou-se toda
uma legião de fãs disposta a amá-lo e defendê-lo. Dito isto, ressalto que,
apesar de gostar de seus trabalhos, minha admiração é mais técnica do que
narrativa. E isso se repete em seu longa mais recente.
O roteiro acompanha três linhas narrativas: uma na
terra, cobrindo uma semana, uma no mar, durando um dia e outra no ar, com uma
hora. As três são entrelaçadas numa narrativa não linear. No prólogo, somos
informados que, após a invasão da França pela Alemanha nazista em 1940,
soldados aliados recuam para a cidade litorânea de Dunkirk. À medida que os
inimigos avançam, os combatentes aguardam resgate, ao som da trilha dramática e
insistente de Hans Zimmer.
Ao contrário de Interestelar,
neste Dunkirk a mixagem de áudio é
boa o suficiente para que possamos ouvir os diálogos com clareza e distinguir
todos os outros ruídos, tornando a experiência ainda mais imersiva com o
formato Dolby Atmos. Belíssima em seus elementos puramente estéticos, a
produção inclui planos que, por mais simples que pareçam, sugerem horas de
preparação, desde um plano geral numa praia até um plano detalhe nos pés de um cadáver.
E se até agora não citei nenhum personagem, é porque
estes não importam de fato. Este projeto é uma experiência sensorial, que
prioriza a ação. Assim, o roteiro não perde tempo com explicações
desnecessárias e histórias de origem dispensáveis. Não deixa de ser triste,
contudo, ver o excelente Kenneth Branagh reduzido a um mero recurso expositivo para informar o contexto da batalha. E se isto pode prejudicar o
desenvolvimento de personagens e a nossa ligação emocional com eles (sim,
prejudica), permite que apreciemos a experiência insubstituível de assistir a
um filme em grande escala como um fim em si mesmo, sem maiores pretensões. Mais uma vez, Nolan utiliza o formato IMAX, bem como películas de 70 mm e 35 mm, em sintonia com seu ceticismo acerca das plataformas de streaming e da praga do cinema digital.
Filme mais curto desde sua estreia como diretor em Following (1998), Nolan prova que, mesmo
com a carreira estabelecida e todas as opções possíveis a seu dispor, é
possível ser conciso e evitar a auto-indulgência, algo que vai contra a
tendência de muitos diretores mainstream talentosos,
que tendem a ficar progressivamente piores devido a excessos (sim, Peter
Jackson, estou falando de você).
Não creio que seja genial, sensacional ou esteja
entre o melhor que o cinema-espetáculo tenha a oferecer, mas não deixa de ser
um exercício interessante imaginar um cenário em que mais cineastas usassem os
preceitos do Nolan para nortear suas abordagens. Dunkirk é uma experiência imersiva estonteante. Entre fanboys e haters, salvam-se todos.
Por Bernardo Argollo
Agradecimentos:
Espaço Z e Warner Brothers.