quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Crítica: Homem-aranha - No Aranhaverso (2018)













Dirigido por: Bob Persichetti, Peter Ramsey, Rodney Rothman. Roteiro de: Phil Lord, Rodney Rothman. Estrelando: Shameik Moore, Jake Johnson, Chris Pine, Hailee Steinfeld, Liev Schreiber.

Novo filme da Sony Animation, Aranhaverso é a sétima aventura estrelada pelo Homem-aranha. Sem tentar imitar os traços e estilo da Disney, como tantos estúdios de animação insistem em fazer, a Sony apresenta um projeto que soará familiar para os leitores de quadrinhos, agradando também a todos os outros.

O roteiro concentra-se em Miles Morales (Moore) que, após ser mordido por uma aranha geneticamente modificada, conhece outros heróis com poderes bem similares, habitando dimensões paralelas. Agora, Morales precisa se juntar a eles para derrotar o Rei do Crime (Schreiber), antes que este execute um plano sinistro que resultará em catástrofe para todas as pessoas-aranha. Como já é de costume em narrativas protagonizadas pelo Aranha, há momentos dramáticos envolvendo relações familiares e o equilíbrio entre as ocupações do cotidiano e obrigações como super-herói.

Visualmente interessante, o longa acerta ao empregar uma linguagem bem similar à dos quadrinhos, com onomatopeias, balões, split-screens e paleta sempre saturada. Até mesmo técnicas de impressão de HQs são homenageadas aqui, como os pontos Ben-Day, algo que só aumenta o charme da produção. E, desse modo, acompanhamos a trajetória dos heróis, cada um com superpoderes únicos, ressaltados em cada batalha por meio de divertidos efeitos psicodélicos.


Trazendo como tema central a dinâmica mentor-aprendiz tão comum em filmes do gênero, o longa se diverte empregando um Peter Parker em fim de carreira como contraponto ao pai superprotetor do protagonista. E, falando em personagens, o time de dubladores escolhidos é de tirar o fôlego. Mesmo sem terem muito tempo de tela, Nicolas Cage e John Mulaney conseguiram provocar riso e dar diferentes tons ao Spider Noir e Peter Porker, respectivamente. Já Hailee Steinfeld (de Bumblebee), umas das atrizes mais versáteis da nova geração, dubla a moradora da versão mais interessante do multiverso.


Focado quase inteiramente no humor, Aranhaverso aposta em todo tipo de piada possível e imaginável. Diferente de todos os filmes baseados no personagem e ao mesmo tempo maravilhosamente familiar, merece uma grande e inequívoca recomendação, mesmo que nos limitemos a apreciá-lo como um exercício de metalinguagem.


P.S.: Há uma divertidíssima cena pós-créditos.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Sony Pictures.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Crítica: Bumblebee (2018)













Dirigido por: Travis Knight. Roteiro de: Christina Hodson. Estrelando: Hailee Steinfeld, John Cena, Jorge Lendeborg Jr., Stephen Schneider.

Se há algo que nunca devemos fazer, é criar expectativa acerca de um filme. E Bumblebee é um bom exemplo disso. Spin-off de um saga que, filme após filme, conseguiu provar que não há limites para a estupidez, este novo projeto surpreende pela leveza e roteiro afiado.

Comandado por Travis Knight (do ótimo Kubo e as Cordas Mágicas), o longa se passa em 1987, vinte anos antes dos acontecimentos vistos no primeiro Transformers. Aqui, acompanhamos a trajetória da garota Charlie (Steinfeld) que, interessada por mecânica automotiva, encontra um fusca amarelo em um ferro-velho. Esse fusca, porém, é na verdade um robô enviado por Optimus Prime para estabelecer, na Terra, uma base segura para os Autobots se refugiarem dos temíveis Decepticons.


Felizmente, o filme se concentra na relação entre a garota e o simpático transformer, e não em guerras entre facções de robôs. Se em outros longas da série éramos obrigados a acompanhar longas sequências de batalhas, diálogos absurdos, pitadas de humor racista e Mark Wahlberg como cientista (pois é), aqui temos uma narrativa mais simples e acessível.

Reminiscente de filmes como E.T.: O Extraterrestre, Bumblebee traz aquela eterna história sobre o convívio com o diferente e a amizade que ultrapassa qualquer obstáculo. A protagonista, vivida por Hailee Steinfeld como uma garota forte e determinada, tem uma química perfeita com o desajeitado Autobot. E se as referências musicais aos anos 1980 cansam pela insistência e aleatoriedade, a direção segura de Knight contorna este problema com uma mis-en-scène precisa e enquadramentos certeiros, de modo que as batalhas não se tornam uma confusão ininteligível. Tomara que Michael Bay aprenda com ele.

Em meio a tiradas divertidas e humor leve, é interessante notarmos a sutil crítica à mentalidade da Guerra Fria, ressaltada pela ótima performance de John Cena, de O Touro Ferdinando. Os personagens secundários também conseguem se estabelecer sem chamar atenção desnecessária para si mesmos ou parecer caricaturas. Por fim, Bumblebee é esteticamente interessante e divertido o suficiente para reavivar nosso interesse por batalhas envolvendo robôs gigantes.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Crítica: Aquaman (2018)













Dirigido por: James Wan. Roteiro de: David Leslie Johnson-McGoldrick, Will Beall. Estrelando: Jason Momoa, Amber Head, Willem Dafoe, Patrick Wilson, Dolph Lundgren e Nicole Kidman.

Sempre uma figura periférica no universo de heróis da DC, o Aquaman nunca recebeu qualquer tipo de destaque. Foi motivo de piada até Zack Snyder reinventá-lo para o cinema. Antes loiro e andrógino, agora é representado pela figura bem mais corpulenta de Jason Momoa, de Game of Thrones. Da mesma forma que certos heróis secundários da Marvel foram introduzidos de maneira interessante no Cinema, na DC os humilhados também estão sendo exaltados.

Dirigido por James Wan (da fantástica série Invocação do Mal), este filme é ao mesmo tempo história de origem e sequência de Liga da Justiça. Ambientado um ano depois deste, o roteiro acompanha a saga do personagem-título para reaver o trono de Atlântida, comandada por seu meio-irmão Orm (Wilson, sempre ótimo), evitando assim uma guerra entre a superfície e os diversos reinos submersos. 


Sem abusar de flashbacks ou exposições desnecessárias, o projeto é ágil ao introduzir o caráter e as motivações do herói. Em pouco tempo, vemos a negação do dever, o interesse romântico, a mãe complicada (típica da DC), bem como as pontas soltas para eventuais continuações. Felizmente, o longa encontra o equilíbrio entre se levar a sério e a autoparódia, algo até então inédito nesta franquia que, seguindo o padrão estabelecido por Snyder em O Homem de Aço, tende a apostar num tom mais sombrio.

Esquecendo a paleta dessaturada e cinzenta também típica da DC, Aquaman investe numa fotografia rica, colorida e que, mesmo pendendo para o cafona, nunca deixa de parecer épica. O design de produção concebido pelo veterano Bill Brzeski como uma mistura de Duna (1984) e Avatar não se parece com nada já visto em um filme do gênero, estabelecendo-se desde já como algo inventivo e único. No que tange à direção, Wan acerta por evitar a confusão visual, estabelecendo com eficiência a geografia das cenas ao mesmo tempo em que exercita seu estilo com belíssimos travellings circulares.

Por fim, nada disso seria viável sem o carisma de Momoa que, mesmo sem um timing cômico muito apurado, consegue nos fazer rir por sua autenticidade e expressividade sem fim. Amber Heard e Willem Dafoe estão no piloto automático e Nicole Kidman pouco tem a fazer como a rainha Atlanna. Destaque para o sueco Dolph Lundgren, ator que admiro, participando aqui de seu primeiro bom filme em uns 20 anos.


Pouco se sabe sobre o futuro da franquia expandida da DC. Há vários projetos de filmes não-canônicos e incertezas sobre a permanência de atores. De qualquer forma, é admirável perceber que esse universo compartilhado só está de pé graças a uma obra estrelada e dirigida por mulheres e, agora, outra realizada por um asiático e protagonizada por um havaiano. "O brave new world that has such people in it. Let's start at once."


P.S.: Os soteropolitanos muito atentos notarão que sua cidade fez uma pontinha :)


Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Crítica: Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald (2018)

Dirigido por: David Yates. Roteiro de: J.K. Rowling. Produzido por: David Heyman, J.K. Rowling, Steve Kloves, Lionel Wigram. Estrelando: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Jude Law, Johnny Depp, Ezra Miller, Alison Sudol, Zoë Kravitz. 

Expandindo o universo explorado nos sete livros e oito filmes de Harry Potter, Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016), estabeleceu-se como um interessante capítulo inicial de uma franquia derivada que, conduzida pela fértil imaginação de J.K. Rowling. Inteligente ao apresentar uma história com início, meio e fim, aquele longa deixou pequenas pontas soltas. Dois anos depois, finalmente chegou o projeto destinado a explorá-las. 

O roteiro começa exibindo o que foi feito com Gellert Grindelwald (Depp), agora prisioneiro do Ministério da Magia norte-americano, três meses após os acontecimentos vistos no longa anterior. Numa linda sequência de fuga envolvendo vassouras e testrálios, o bruxo foge para a França, onde vai em busca de Credence (Miller), de modo a utilizar os poderes do obscurial em sua tentativa de provocar uma cisão no mundo bruxo. Desse modo, Newt Scamander (Redmayne) mais uma vez é recrutado para impedi-lo. Isto é, pondo de maneira simplista (mais sobre isso em breve). 

Com mais de vinte novos personagens (pois é), o projeto conta com participação de figuras conhecidas como Dumbledore, McGonagall e até Nicolau Flamel, numa quase ponta inspiradíssima. Os companheiros de Newt reprisam seus papéis de maneira afiada, com exceção talvez de Kowalski (Fogler). Se antes o padeiro representava o próprio espectador, à medida que era inserido naquele universo, agora encontra-se sem propósito. Em 2016, ele servia de alívio cômico, e agora suas piadas destoam do tom mais sombrio da narrativa. 

As quatro linhas narrativas se cruzam de maneira desajeitada, de modo que o longa se mostra mais complexo do que qualquer um dos outros nove filmes do Wizarding World. Dependendo excessivamente de flashbacks, a narrativa se mostra atrapalhada e confusa, fundindo suas subtramas de maneira improvisada num terceiro ato que, apesar disso, funciona bem. Dito isto, sinto-me compelido a acrescentar que, mesmo dando imenso valor a uma boa história e lamentando a tendência dos blockbusters atuais em sacrificá-la em detrimento da ação, creio que Os Crimes de Grindelwald é um projeto que tem mais do que deveria. Tentou dar um passo maior que a perna. 

Mais uma vez irrepreensível visualmente, o longa nos apresenta novas criaturas mágicas, com destaque para o Zouwu, uma espécie de fusão entre gato de Cheshire e dragão chinês, incrivelmente carismático e movimentando-se com absoluto realismo. Como de costume, mudanças nos figurinos auxiliam a demarcar arcos dramáticos. Logo, Queenie (Sudol) passa a vestir tons escuros, ao passo que Leta Lestrange (Zoë Kravitz, sempre apática), é vista de roxo num momento chave. Simultaneamente, exploramos novos cenários, como o requintado ministério da magia francês e um circo mágico. Nele, há uma integrante destinada a se transformar para sempre numa cobra. 

É lamentável, no entanto, que um filme tão inteligente em suas alegorias políticas se mostre tão covarde em outras frentes, insinuando de maneira tímida o óbvio envolvimento romântico entre Dumbledore e Grindelwald. Falando neste, é impossível não compará-lo a outros líderes extremistas do passado, com sua filosofia do "bem maior". Oferecendo uma performance razoável, Johnny Depp consegue nos convencer da força de seu personagem, ainda que para isso invista em sotaque carregado e maneirismos. 

Apesar dos tropeços, a incrível reviravolta do terceiro ato nos coloca para fora da sala ansiosos por mais. Rowling pode até ter falhado no roteiro, mas é uma das maiores escritoras de todos os tempos. Seu talento para conceber um universo envolvente é maior do que suas limitações (temporárias, espero) como roteirista. A magia prevaleceu. 

Por Bernardo Argollo 

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros. Pictures.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Crítica: Megatubarão (2018)













Dirigido por: Jon Turteltaub. Roteiro de: Dean Georgaris, Jon Hoeber, Eric Hoeber. Estrelando: Jason Statham, Li Bingbing, Rainn Wilson, Ruby Rose e Winston Chao.

De tempos em tempos, novos filmes tentam emular o sucesso de Jaws (1975), considerado por muitos o primeiro blockbuster da História. Eventualmente, surgem pequenos milagres como o ótimo Águas Rasas (2014), que apostam mais no conflito humanidade vs. natureza do que no puro espetáculo.

O roteiro deste Megatubarão acompanha o ex-militar Jonas Taylor (Statham) que, especialista em resgates, é convocado para resgatar sua ex-esposa, presa em um submarino após este ser atacado por uma espécie de tubarão pré-histórico. Curiosamente, os roteiristas merecem crédito por ter conseguido tornar tal premissa aceitável, ou pelo menos, conseguido justificá-la por meio de teorias científicas minimamente palatáveis.


E por falar em Jason Statham, aqui ele interpreta mais um personagem "Jason Statham". Carismático, porém incapaz de variar a composição de um filme para outro, o ator mais uma vez aparece com barba por fazer, forte sotaque cockney, expressão fechada e sempre inteiro, não importando o que aconteça. O resto do elenco está lá apenas para dar suporte ao protagonista, já que os personagens secundários são descartados assim que cumprem seus propósitos na narrativa. Dessa forma, várias subtramas e pequenos arcos ficam em aberto. Nunca ficamos sabendo, por exemplo, se certa carta escrita por um pesquisador chega ao seu destino.

Inchado em seus 113 minutos de duração, o longa apela para todo tipo de muleta narrativa imaginável, mas é eficiente em suas cenas de ação. Explorando ao máximo o conceito de "tubarão gigante", o diretor não hesita em utilizar a criatura para criar uma atmosfera de horror, aventura, comédia e até mesmo romance. Destaque para a sequência que envolve uma praia lotada de banhistas, inventiva em sua concepção e execução.

Prontamente concebido para o mercado asiático, onde este tipo de filme é consumido com avidez, Megatubarão tem boas cenas de ação, um protagonista carismático e um tubarão gigante. Não dá para esperar mais.


Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Warner Bros. Pictures e Espaço Z.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Crítica: Vidas à Deriva (2018)













Dirigido por: Baltasar Kormákur. Roteiro de: Aaron Kandell, Jordan Kandell. Estrelando: Shailene Woodley, Sam Claflin, Grace Palmer, Jeffrey Thomas, Elizabeth Hawthorne.

Muita gente deve estar mais do que acostumada com os filmes de drama que se baseiam em histórias reais de acidentes e tentativas de sobrevivência. Várias dessas obras oscilam entre o medíocre e o (com o perdão do trocadilho) catastrófico, visto que há limitações naturais em fatos que, muitas vezes, não formam um “enredo” cinematográfico – o que pode resultar numa obra entediante, ou forçada em suas liberdades artísticas. No filme "Vidas à Deriva", temos aspectos bem criativos e envolventes... assim como alguns fatores falhos e incômodos.

Dirigido pelo pouco conhecido Baltasar Kormákur, o longa se passa em 1983, e conta a história real de Tami Oldham e Richard Sharp, um casal de velejadores que tenta sobreviver no meio do oceano pacífico, após terem sido atingidos por uma terrível tempestade. A opção por uma narrativa entrecortada (momentos do presente e do passado, alternados) se mostrou acertada, visto que precisamos conhecer toda a história do casal, ao mesmo tempo em que somos jogados, desde os primeiros minutos, em vários momentos-chave da “jornada”.

Tal narrativa poderia ser ainda mais interessante se não fosse pelo excesso de clichês românticos, cafonas e sentimentais ao longo do desenvolvimento da dupla enquanto casal. Aqui temos um comprometimento do diretor com o gênero de romance propriamente dito, o que traz resultados bem mistos: da funcionalidade total para história, até uma pieguice que, por vezes, é mais nauseante do que um enjoo marítimo.

Richard Sharp é um personagem insosso como um isopor, mas consegue nos atrair de alguma forma, devido à exemplar atuação de Sam Claflin. Já a protagonista Tami Oldham, interpretada com maestria por Shailene Woodley, é multidimensional, carismática, e cheia de surpresas – inclusive por apresentar um pouco de vulnerabilidade e carência, apesar de toda a sua força.

Na aventura propriamente dita, Kormákur acerta em cheio, especialmente por não se render a apelações narrativas, visuais e sonoras. Todos os momentos tensos são diretos e realistas. Destaque especial para o seu ato final, que não apenas justifica a narrativa entrecortada, como também nos presenteia com uma reviravolta que eleva os últimos minutos do filme a um patamar que beira o brilhantismo.

No final das contas, "Vidas à Deriva" se faz valer como um filme levemente diferente de outros exemplares do gênero “histórias reais de catástrofe e sobrevivência”. Com valores interessantes de produção e fotografia – em especial, nas lindas e recorrentes tomadas embaixo d’água -, Baltasar Kormákur se mostra um diretor que ainda pode crescer bastante, inclusive por nos fazer pensar sobre formas paradoxais de nos mantermos “com a cabeça no lugar” em situações de vida ou morte.


Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Diamond Films Brasil e Lakeshore Entertainment.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Crítica: Missão Impossível – Efeito Fallout (2018)













Dirigido e escrito por: Christopher McQuarrie. Produzido por: Tom Cruise, J.J. Abrams, Christopher McQuarrie. Estrelando: Tom Cruise, Henry Cavill, Ving Rhames, Simon Pegg, Rebecca Ferguson, Sean Harris.

Oscilando entre o cafona e o clichê, a série Missão Impossível começou a se estabelecer como franquia icônica a partir de seu quarto filme, quando o padrão de qualidade subiu, com uma narrativa mais coesa, interessante e inteligente. Além disso, a franquia se tornou menos episódica com a adição de elementos que seriam resgatados pelos filmes seguintes.

O roteiro, escrito pelo próprio McQuarrie, mais uma vez acompanha o espião Ethan Hunt (Cruise) que, sempre correndo contra o tempo, precisa recuperar uma carga de plutônio que fora roubada, ao mesmo tempo em que a IMF entra no escrutínio da CIA, com a segunda passando a interferir nas ações da primeira. Ainda que peque pela exposição excessiva por algumas reviravoltas previsíveis (consegui antecipar a maioria delas antes que acontecessem), o carisma do protagonista e de seus companheiros Benji (Pegg) e Luther (Rhames) é suficiente para que estes problemas se tornem praticamente imperceptíveis.

Conhecido por suas cenas de ação bem montadas e enquadramentos elegantes, McQuarrie não decepciona nestes aspectos. Como bom conhecedor de linguagem cinematográfica, ele compreende que não é necessário tornar a ação incompreensível para imprimir tensão. Assim, o espectador sempre está consciente de onde estão os personagens, para onde se movimentam e em que posição se encontram em relação aos demais.

Além disso, o apuro estético da franquia se elevou a um nível nunca antes visto. O que não falta neste filme são planos memoráveis, como aquele que traz dois personagens conversando entre árvores, um plano plongé numa escadaria e aquele que retrata um corredor que vai em direção a um banheiro. E se um certo momento que envolve dois personagens caminhando emoldurados por estátuas douradas merecia ser impresso e pendurado na parede, o ato final é belíssimo em sua montagem, coreografia e impacto emocional.

Sempre ágil, inteligente e divertido, Efeito Fallout mantém a coesão de uma série que, desde 1996, nunca deu motivos reais para desapontamentos.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Crítica: Hereditário (2018)













Dirigido por: Ari Aster. Roteiro de: Ari Aster. Estrelando: Toni Collette, Gabriel Byrne, Alex Wolff, Milly Shapiro, Ann Dowd.

Alguém se lembra de uma época em que o gênero “terror” ainda não havia se tornado aquele tipo de produto “enlatado” que conhecemos muito bem nos dias de hoje? Filmes como "O Bebê de Rosemary" (1968) e "Carrie, a Estranha" (1976) conseguiam ir além do mero cinema de gênero, graças ao enfoque no mistério (muitas vezes sem violência explícita), na construção das situações, e também no drama dos seus personagens. Logo, é correto afirmar que o filme “Hereditário” (2018), dirigido pelo iniciante Ari Aster, faz parte dessa mesma “família”.

E por falar em família, o longa acompanha uma que precisa lidar com fenômenos potencialmente sobrenaturais, os quais começam ocorrer logo após a morte de sua matriarca. Apesar dessa premissa um tanto simples e pouco inventiva, vale lembrar que, de acordo com a tradição citada inicialmente, “Hereditário” não se rende aos prazeres efêmeros do terror comum. Pelo contrário: temos aqui um investimento lento, gradual, e inesperadamente sufocante... no bom sentido.

A protagonista é Annie Graham, interpretada com versatilidade e absurda intensidade por Toni Collette - e não será surpresa se ela for indicada ao Oscar -, em sua angustiante busca por respostas para o que ocorre na família. Já o marido Steve Graham, interpretado por Gabriel Byrne, representa um contraponto no sentido de aparente serenidade em seus atos e postura. Os filhos Peter e Charlie, interpretados respectivamente por Alex Wolff e Milly Shapiro, são personagens interessantes, multidimensionais e absolutamente funcionais na trama (sem spoilers aqui), cada um à sua forma.

Graças à abrangência em sua abordagem, o filme nos choca de forma genuína em seus sustos, reviravoltas e momentos grotescos, após longas sequências que se alternam entre o mistério e a contemplação masoquista. Quase todos os seus planos, objetos de cena e nuances sonoras (atenção a um simples “klock”!) são úteis, seja no fato de enquadrar tudo aquilo que precisa ser digerido, como também na sensação meio claustrofóbica e macabra que precisamos ter ao longo da experiência.

Apesar de um seríssimo problema de narrativa e ritmo na metade da história, Ari Aster faz do seu “Hereditário” um filme marcante em vários momentos - com destaque para aquele envolvendo um “mero” acidente. Sem contar os simbolismos e rimas relacionados a traumas e tradições familiares, algo que pode render boas discussões após o término da sessão. Por fim, esperemos que essa obra se mostre “hereditária” o bastante no sentido de trazer um novo rumo para indústria do cinema de terror. 


“Klock”!

Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Diamond Films Brasil e PalmStar Media.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Crítica: Jurassic World - Reino Ameaçado (2018)













Dirigido por: J.A. Bayona. Roteiro de: Colin Trevorrow, Derek Connolly. Estrelando: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Rafe Spall, James Cromwell, Jeff Goldblum.

O fenômeno de “Jurassic Park” (1993), dirigido pelo mestre Steven Spielberg, resultou em uma franquia de grande sucesso. A (criminalmente) injustiçada sequência “O Mundo Perdido” (1997) e o medíocre “Jurassic Park III” (2001) fecharam o que seria uma mera trilogia dos queridos dinossauros... até que o diretor Colin Trevorrow se mostrou bem sucedido em trazer a franquia de volta aos eixos, com o ótimo “Jurassic World” (2015). Agora temos a sequência direta do último filme, intitulada "Jurassic World: Reino Ameaçado", uma obra que se alterna entre ideias novas (para a saga) e outras bem batidas...

Dirigido por J.A. Bayona (de “O Impossível”), o longa traz um clima mais sombrio, o que remete sutilmente ao “Mundo Perdido”. Por sinal, a adorável - e curta - aparição do clássico personagem Ian Malcolm (Jeff Goldblum) nos deixa preparados para uma dose extra de pessimismo, o que era de se esperar após o clima “pra cima” e revivalista do filme anterior. Dessa vez, os dinossauros da ilha podem ser naturalmente extintos mais uma vez, e os humanos possuem seus motivos (bons ou maus) para salvar os “pobres bichinhos”.


Bryce Dallas Howard incorpora uma Claire Dearing bastante ativista, o que a deixa meio descaracterizada (positiva e negativamente) em relação ao filme anterior. Já Chris Pratt continua brilhando com o seu Owen Grady divertido e intenso de sempre. James Cromwell é o "Hammond" do momento, trazendo bons resultados. Já os vilões são caricatos, previsíveis e irritantes... com exceção do ótimo Ted Levine, que soube se divertir com o seu personagem. Por fim, Daniella Pineda e Justice Smith interpretam ativistas tão agradáveis quanto uma bela indigestão... sendo superados até pelo carisma de alguns dos dinossauros.


Apesar de trazer algumas situações burocráticas e esquemáticas, além de problemas de ritmo - especialmente na segunda metade -, o filme mantém a capacidade de deixar o espectador tenso e empolgado nas cenas de ação, especialmente na excepcional sequência que ocorre durante uma erupção. A fotografia e os efeitos também se mostram eficientes o bastante. E o final representa um comovente acerto, visto que abre brecha para uma saudável discussão sobre evolução, sobre o espaço dos dinossauros no mundo, e sobre a possível estupidez que faz parte até das pessoas “de bom coração”.


Sem novidades para o cinema como um todo, “Jurassic World: Reino Ameaçado” flerta com algumas ideias que nos levam a querer ver ao menos mais uma continuação para essa extensa - e um tanto cansada - saga. Temos aqui um “filme pipoca” que se faz valer, e que fica um pouco acima do que seria apenas uma obra genérica. Felizmente, a franquia ainda não está ameaçada, e sua extinção pode esperar mais um pouco...


Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

Crítica: Oito Mulheres e um Segredo (2018)













Dirigido por: Gary Ross. Roteiro de: Gary Ross, Olivia Milch. Estrelando: Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter, Rihanna.

Durante a década passada, o diretor Steven Soderbergh resolveu se divertir, e transformou a ideia de um ‘remake’ do filme Onze Homens e um Segredo em uma trilogia de fórmula bem simples e descompromissada: um elenco de grandes astros, interpretando criminosos que planejam e executam grandes - e criativos - roubos.  Após um inevitável esgotamento de ideias, eis que a franquia nos traz um sutil sopro de ar fresco em “Oito Mulheres e um Segredo”, seu primeiro exemplar “feminino”. Temos aqui a história de Debbie Ocean (Sandra Bullock), irmã do ex-protagonista Danny Ocean (George Clooney).

Dirigido por Gary Ross (de “Jogos Vorazes”), o novo filme pode se enquadrar tanto na categoria de “reboot” (reinicialização da franquia) quanto “spin off” (derivado). Os valores de produção, as transições de cenas, o ritmo ágil e recheado de informações, e até as músicas certeiras - sejam canções pop, ou temas instrumentais “estilosos” - remetem aos mesmos padrões da trilogia inicial. Para completar, a dinâmica hipnótica das protagonistas Sandra Bullock e Cate Blanchett nos remete àquela anteriormente explorada por George Clooney e Brad Pitt.


Ross não consegue atingir níveis de maestria, mas é bem sucedido ao evitar qualquer pastiche de ideias anteriores, além de evitar excessos na utilização de personagens e fatos dos primeiros filmes. A história flui de uma forma que não ofende a memória afetiva do espectador antigo, ao mesmo tempo em que se mostra independente para o recém-chegado. Cenas como aquela envolvendo um óculos ‘scanner’, e os desdobramentos posteriores ao roubo ainda fazem valer o investimento nesse tipo de trama.


Além da excelente dupla principal, vale destacar o desempenho convenientemente surtado de Anne Hathaway, o estilo criativo e diferenciado de Awkwafina, e o uso moderado da cantora Rihanna (a qual consegue convencer bem como ‘hacker’). Sarah Paulson faz uma atuação apenas 'ok', e Helena Bonham Carter se alterna entre ótimos momentos e alguns abusos dos seus velhos maneirismos “assustados”. Já o elenco masculino chega a passar praticamente batido, o que é uma pena.


Sim, é verdade que “Oito Mulheres e um Segredo” bebe de uma fórmula que, para espectadores desencantados desde o segundo filme, pode parecer defasada. Por outro lado, ainda temos aquela essência focada em altas doses de pose, charme, e deboche constante “nas entrelinhas”. E como diria Sandra Bullock em uma das cenas mais cômicas do longa: “isso tudo é pela criança criminosa que existe dentro de todos nós”. O menino já foi bastante destacado. Agora é a vez da menina..
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Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

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