terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Crítica: Matrix Resurrections (2021)

Dirigido por: Lana Wachowski. Roteiro de: Lana Wachowski, David Mitchell e Aleksandar Hemon. Fotografia de: Daniele Massaccesi. Estrelando: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jessica Henwick, Jonathan Groff, Neil Patrick Harris, Priyanka Chopra Jonas e Jada Pinkett Smith.

Em maio de 1999, quem assistiu Matrix nos cinemas sofreu um impacto como nunca antes visto no cinema. Repleto de cenas de ação fantásticas e filosofia, era diferente de tudo que se tinha visto até então. Depois de duas sequências, animações, livros e referências em várias outras mídias, será que havia ainda o que contar depois de vinte anos?

Depois de assistir Matrix Ressurections, a resposta é sim! O filme começa com um deja vù, mas com a introdução de, uma nova personagem, Bugs (a espetacular Jessica Henwick) que nos apresenta o novo Morpheus, percebemos que muita coisa mudou na Matrix desde o sacrifício de Neo na cidade das máquinas.

Repleto de metalinguagem, o filme acerta no tom de nostalgia, com Lana Wachovski sugerindo uma história dentro da história, com o conceito que a trilogia original foi uma criação de Thomas Anderson (Keanu Reaves), um designer de videogame que revolucionou a cultura pop com sua criação e que agora vive sob a sombra dela. Instigado pelo seu sócio a criar uma sequência para seu jogo original, o filme reintroduz elementos familiares, como a escolha entre manter-se na fantasia ou encarar o mundo real, e personagens repaginados, como o já citado Morpheus, com sua missão de despertar Neo de sua apatia, e o agente Smith, a Nêmesis perfeita do Escolhido.

Com cenas de ação espetaculares, que flertam até com a nova onda de zumbis de Hollywood e uma trilha sonora instigante, Matrix Ressurections nos mostra que o conceito criado há 20 anos atrás está mais atual do que nunca, com o mundo virtual quase substituindo o mundo real.  

Mas é na relação entre Neo e Trinity que o filme ganha coração, mais do que nunca fica evidente que Matrix sempre foi uma história de amor. Com uma química incrível, Carrie-Anne Moss e Keanu Reaves dão credibilidade a todo o universo de Matrix, injetando conexão emocional que contrasta com a frieza das máquinas. A sua jornada de descoberta e empoderamento faz justiça a sua história na trilogia original, resgatando seu papel de coprotagonista da história. 

O filme não possui só acertos. Revisitar uma história que amarrou todas as suas pontas soltas no final é sempre arriscado, e muitas explicações podem soar forçadas, mas Matrix Ressurections soa mais como um epílogo, uma forma de proporcionar um final feliz para Neo e Trinity, respeitando toda a mitologia da trilogia original, e demostrando que a necessidade de reinvenção faz parte da natureza humana. 

Por Ronaldo Acácio

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Bros. e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Matrix Ressurections, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Crítica: Eternos (2021)

Dirigido por: Chloé Zhao. Roteiro de: Chloé Zhao, Patrick Burleigh, Ryan Firpo e Kaz Firpo. Fotografia de: Ben Davis. Estrelando: Gemma Chan, Richard Madden, Kumail Nanjiani, Lia McHugh, Don Lee, Harish Patel, Kit Harington, Salma Hayek e Angelina Jolie.

Após Chloé Zhao ter sido agraciada com o Oscar de direção em abril deste ano, toda e qualquer notícia relacionada a Eternos gerou um hype enorme. Cada poster, trailer ou declaração do elenco deixava os fã alvoroçados. De fato, o novo longa da Marvel toma direções intrigantes, ainda que confusas. De todo modo, o projeto tem uma missão ingrata: expandir o lado místico do MCU, bem como explicar vários pontos de sua mitologia.

Desviando da fórmula tradicional do "filme de origem", Eternos traz um olhar mais artístico, autoral. O roteiro acompanha os heróis-título, um grupo composto por seres amortais (e não imortais) que foram enviados à Terra para proteger a humanidade dos Deviantes, criaturas que aterrorizaram nosso planeta na antiguidade e, claro, estão de volta. 

E se até agora não citei o nome de um único membro do elenco, é porque todos têm tempo de tela similar, sendo desenvolvidos quase que igualmente, algo bastante incomum em narrativas sobre múltiplos heróis. Ou seja, não temos a overdose de Angelina Jolie que muitos aventaram, o que é bastante positiva, pois a atriz emprega aqui o mesmo tom monocórdico com o qual recitava as falas de Malévola. Destaco, no entanto, a atuação impecável de Gemma Chan, no seu segundo papel no MCU e Don Lee, ator sul-coreano cujo carisma já se fazia sentir desde Train to Busan (2016).

Bastante inchado em suas duas horas e meia de projeção, o longa aposta numa narrativa não-linear. Mesmo eficiente, lembra a auto-indulgência de Batman v Superman em certos momentos. A bela fotografia de Ben Davis (o mesmo de Cry Macho) chega a incluir trechos rodados em 16mm, contribuindo para uma estética própria em meio ao mundo de produções rodadas em formatos digitais.

Apesar de todos os pontos positivos, creio que Eternos jamais será unanimidade. Primeiro, por mergulhar em questões apenas tangenciadas anteriormente. Em segundo lugar, talvez uma parte do público estranhe certos incidentes da narrativa. Se esse for o seu caso, sugiro que interprete-os de maneira alegórica, não literal. O novo projeto da Marvel é um esforço interessante, que acerta em algumas propostas e falha em muitas outras. Não deixa de ser sintomático, portanto, que a cena pós-créditos seja mais empolgante do que todo o clímax.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Walt Disney Studios Motion Pictures e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Eternos, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Crítica: Cry Macho - O Caminho Para a Redenção (2021)

Dirigido por: Clint Eastwood. Roteiro de: Nick Schenk e N. Richard Nash. Fotografia de: Ben Davis. Estrelando: Clint Eastwood, Dwight Yoakam, Eduardo Minett, Natalia Traven e Fernanda Urrejola.

Clint Eastwood sempre foi uma presença carismática. Sempre conseguiu transmitir uma riqueza de ideias por meio de uma atuação contida, econômica. E já que falei em economia, está é talvez a palavra que melhor descreve este projeto. Lançado com uma campanha de marketing que consistiu basicamente de um único poster e um trailer, o filme acompanha o ex-peão de rodeio Mike Milos, que recebe a missão de resgatar o filho de seu patrão, que se encontra no México.

O que parece interessante na teoria, acabou se tornando, basicamente, uma reciclagem. E reciclar roteiros que não funcionaram é sempre uma ideia arriscada. O enredo de Cry Macho, inspirado pelo romance de N. Richard Nash, basicamente recria o argumento de Gran Torino, também dirigido por Eastwood em 2008. Como se não bastasse, o companheiro de cena do protagonista, aqui interpretado por Eduardo Minett, é quase tão ruim quanto sua contraparte da década retrasada.

Recitando suas falas em tom monocórdico e incapaz de esboçar qualquer emoção, Minett deixa para o protagonista todo o peso dramático da obra. Só que o nonagenário Eastwood, infelizmente, faz aqui um personagem claramente concebido para ser vivido por um ator mais jovem, já que sua óbvia dificuldade de locomoção é um atentado à suspensão de descrença. Mesmo com o uso de dublês em diversas cenas, fica difícil acreditar que o cowboy Mike seria capaz de realizar uma tarefa que exige, acima de tudo, fisicalidade. 

Apostando numa conclusão de conflito digna de novela da Globo, o longa nos envia para fora da sala com um gosto amargo na boca. É inacreditável que tenha sido comandado pelo mesmo cineasta que realizou tantos filmes inesquecíveis. Resta-nos torcer para que ele não se aposente e retome a antiga forma em sua próxima empreitada.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Brothers e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Cry Macho, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Crítica: Maligno (2021)

Dirigido por: James Wan. Roteiro de: Akela Cooper. Fotografia de: Michael Burgess. Estrelando: Annabelle Wallis, Maddie Hasson, George Young e Michole Briana White.

Responsável por Jogos Mortais, Sobrenatural, Aquaman e pelos dois primeiros Invocação do Mal, este Maligno representa um retorno às origens para James Wan. Distante do (belo) padrão estabelecido pela A24, o cineasta malaio propõe uma mistura de giallo com slasher, de modo a resgatar o terror B da era das locadoras. Dessa forma, temos um filme que, embora irregular em seus resultados, é capaz de arrancar suspiros de todos aqueles que, como eu, foram colecionadores do saudoso formato VHS.

O roteiro acompanha a jovem Madison (Wallis) que, após sofrer um trauma pelas mãos de seu próprio marido, começa a ter sonhos envolvendo assassinatos brutais. A partir dessa tímida crítica social às relações abusivas, Wan constrói o primeiro ato num ritmo lento e deliberado. Aos poucos, Madison percebe que os assassinatos estão conectados a Gabriel, entidade oriunda de seu passado, cuja natureza terá de investigar com a ajuda de sua irmã Sydney (Maddie Hasson).

Desinteressante em sua premissa, o longa consegue nos engajar pela curiosidade no que virá a seguir, ainda que o quebra-cabeça proposto seja relativamente fácil de resolver. O já esperado plot twist é dolorosamente óbvio. O humor involuntário, tão presente nos slashers, também existe aqui, especialmente numa sequência envolvendo detentas interpretadas por atrizes com talento para o sitcom e figurinos que remetem a várias décadas diferentes. 

Bastante inspirado visualmente, o projeto chega a incluir um plano-detalhe mostrando o interior de um videocassete, o que, convenhamos, não poderia ser mais adequado. Há também referências visuais a Jogos Mortais, Suspiria e O Chamado, além de obras de autoria do próprio Wan. Tudo isso embalado pela ótima performance de Annabelle Wallis, que aqui demonstra um talento inexistente em seus trabalhos anteriores. 

Maligno é um daquelas produções que, independente de sua qualidade, comprovam o talento de seu diretor, já que, se fosse conduzida por qualquer outra pessoa, seria uma bomba inacreditável. Finalmente foi feito um tributo decente a Wes Craven e Dario Argento.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Brothers e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Maligno, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Crítica: A Lenda de Candyman (2021)

Dirigido por: Nia DaCosta. Roteiro de: Jordan Peele, Win Rosenfeld e Nia DaCosta. Fotografia de: John Guleserian. Estrelando: Yahya Abdul-Mateen II, Teyonah Parris, Nathan Stewart-Jarrett e Colman Domingo.

Sequência do "clássico" de 1992, A Lenda de Candyman é o que alguns chamam de spiritual sucessor (ou sucessor espiritual, em tradução livre). Não é exatamente uma continuação no sentido tradicional da palavra, mas também não é um reboot, pois não ignora os acontecimentos de projetos anteriores. É um longa que traz elementos de estilo e temas similares, mas os ressignifica em algo novo. Há inúmeros exemplos de filmes que tentaram uma abordagem similar, mas nenhum foi tão bem sucedido.

Produzido por Jordan Peele, Candyman traz comentários que já esperaríamos, dado o envolvimento do responsável pelos sublimes Corra! e Nós. A gentrificação de Chigago, o racismo, o poder da arte em evocar sentimentos... Só para citar alguns. O roteiro, escrito a seis mãos, acompanha o pintor Anthony (Yahya Abdul-Mateen II) que, decidido a lançar uma nova exposição, encontra na lenda de Candyman inspiração para novos trabalhos. Aos poucos, essa lenda vai se tornando real, mais uma vez. 

DaCosta faz o que pode para evitar os famigerados jump scares, construindo sua trama em ritmo lento e deliberado. Certa de que o terror efetivo se faz com atmosfera, não com sustos, a diretora investe numa fotografia sóbria, enquadramentos elegantes e numa trilha sonora inspiradíssima. Destaque para uma cena de assassinato de adolescentes que, desconectada da enredo principal, contém um simbolismo pungente em sua construção.

Encerrado com uma nota alta, o projeto deixa um gancho para uma continuação, mas de uma maneira elegantíssima. Entrelaçando o poder das lendas urbanas com a força da figura maligna, a cineasta faz escolhas ousadas, em todos os âmbitos. A futura diretora de Capitã Marvel 2 sabe ser provocante.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Brothers, Universal Pictures e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de A Lenda de Candyman, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Crítica: Caminhos da Memória (2021)

Escrito e dirigido por: Lisa Joy. Fotografia de: Paul Cameron. Estrelando: Hugh Jackman, Rebecca Ferguson, Thandiwe Newton e Cliff Curtis.

A estreia de Lisa Joy como diretora foi aguardada com ansiedade. Produtora e cocriadora da série Westworld, a cineasta gravou seu primeiro longa ainda em 2019. Adiado diversas vezes até ter sua estreia marcada para 20 de agosto nos EUA, o projeto terá uma dura batalha pela frente nas bilheterias, tendo que encarar O Esquadrão Suicida e Free Guy. Terá fôlego para tal? Provavelmente não.

A narrativa se passa numa Miami inundada (devido às mudanças climáticas), onde o ex-militar Nick Bannister (Jackman), que trabalha como uma espécie de investigador da mente. Operando uma máquina que permite às pessoas reviver antigas memórias, Bannister ajuda seus clientes a acessarem lembranças perdidas ou reviverem momentos marcantes. Dono de uma existência tranquila, ele vê sua vida mudar quando se apaixona por uma de suas clientes (Ferguson), que desaparece sem deixar vestígios.

Vendido pela Warner como uma ficção científica, o projeto acaba sendo uma mistura de neo-noir, thriller de ação e, sobretudo, romance. Embora Hugh Jackman e Rebecca Ferguson, que já atuaram juntos em O Rei do Show, consigam vender a paixão avassaladora de seus personagens, no fim das contas acabam remetendo a filmes muito melhores, apesar da ideia original. Ainda que evite a pieguice, o roteiro chega a ser chato, até sufocante. Há belas cenas de ação e cenários inspirados, mas também há o homem que faz tudo pela amada, a mulher bonita e misteriosa, a conspiração envolvendo gente poderosa, a velha música usada para recordar uma memória... Eu acho que já vi isso em algum lugar.

Arrastado em suas quase duas horas de duração, o longa talvez agrade os fãs do noir, já que a investigação conduzida pelo protagonista é interessante o suficiente para torná-lo assistível. Além disso, é preciso dizer que Lisa Joy tocou, de leve, num ponto sempre válido, o dos perigos de reviver o passado e se esquecer do presente. E, claro, é preciso dizer que nem todo noir tem o privilégio de ter Rebecca Ferguson interpretando sua femme fatale.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Brothers e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Caminhos da Memória, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

Crítica: Free Guy - Assumindo o Controle (2021)

Dirigido por: Shawn Levy. Roteiro de: Matt Lieberman e Zak Penn. Fotografia de: George Richmond. Estrelando: Ryan Reynolds, Jodie Comer, Lil Rel Howery, Utkarsh Ambudkar, Joe Keery e Taika Waititi.

Mais cuidadoso com os projetos dos quais participa desde o desastroso Lanterna Verde, Ryan Reynolds conseguiu de fato se estabelecer como ator cômico. Dono de um senso de humor que, felizmente, inclui gags físicas, Reynolds se equilibra bem entre o ousado, o cativante e o amável.

O roteiro de Matt Lieberman e Zak Penn conta a história de Guy (Reynolds), um bancário que, embora curioso e questionador, segue à risca sua nada interessante rotina. Ao se interessar por uma garota, o rapaz reflete sobre a natureza de sua própria existência, descobrindo então ser um NPC (personagem não jogável, na sigla em inglês) do jogo Free City, um RPG. Enquanto isso, no mundo real, a programadora Millie Rusk (Comer) tenta provar que o empresário Antwan (Waititi, inspiradíssimo) roubou o código de um jogo criado por ela e o inseriu em Free City.

Combinando Ready Player One com O Show de Truman (e algumas pitadas de Grand Theft Auto), o projeto ainda consegue ser também uma comédia romântica eficaz. Isto só foi possível, claro, graças à química perfeita entre Jodie Comer e Joe Keery (de Stranger Things), cativantes e vulneráveis na medida certa. E tudo isso embalado pela música-tema de um curta que prefiro manter em segredo.

O longa é inteligente até mesmo na forma com a qual insere comentários sociais sobre questões importantes que ainda fazem parte do mundo dos games, e ainda flerta com ideias mais profundas sobre consciência, sentimentos, e amor. Trazendo pontas de figuras como Chris Evans, Hugh Jackman e The Rock, o projeto agradará também àqueles pouco familiarizados com jogos eletrônicos, sendo capaz de colocar um sorriso no rosto até do mais cético dos espectadores.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, 20th Century Studios e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Tempo, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Crítica: O Esquadrão Suicida (2021)

Escrito e dirigido por: James Gunn. Fotografia de: Henry Braham. Estrelando: Margot Robbie, Idris Elba, John Cena, Joel Kinnaman, Sylvester Stallone & Viola Davis.

O Esquadrão Suicida finalmente abraçou sua própria natureza absurdista. A contratação de James Gunn, após o decepcionante primeiro capítulo, foi mesmo uma decisão acertada. Aproveitando o hiato entre sua demissão (e recontratação) pela Disney, o estúdio da AT&T deu ao cineasta liberdade criativa total para conduzir o projeto à sua maneira. O primeiro filme, de David Ayer, foi impiedosamente picotado pelos executivos da Warner. O restultado, todos conhecemos.

Após resetar o universo num prólogo simples e divertido, o roteiro segue os "heróis" numa missão na ilha de Corto Maltese. O país, claro, tem um governo autoritário, daquele tipo já visto centenas de vezes em produções de Hollywood. A Força Tarefa X deve, portanto, derrubá-lo, conforme os interesses do governo americano, aqui representado pela pragmática Amanda Waller (Davis).

Descartando impiedosamente todos os personagens desnecessários, o longa acerta ao encontrar um centro emocional em meio à violência e ao gore. E ninguém melhor para fazer isso do que Margot Robbie, que reprisa o papel de Arlequina e, simultaneamente, mantém a "evolução" conquistada no ótimo Aves de Rapina. Já o britânico Idris Elba consegue fazer com que o Pistoleiro de Will Smith se transforme numa memória distante, nebulosa. John Cena, como era de se esperar, está excelente como o Peacemaker que, em breve, vai ganhar sua própria série.

Pincelando uma discussão política da qual se esquiva logo em seguida, O Esquadrão Suicida é um recomeço otimista. Não é o ápice da criatividade em termos de linguagem, mas provavelmente é o filme mais honesto que James Gunn poderia entregar. Resta-nos torcer para que, uma vez que a Disney finalize Guardiões da Galáxia 3, a Warner capte o cineasta para si definitivamente.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Brothers e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de O Esquadrão Suicida, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Crítica: Tempo (2021)

Escrito e dirigido por: M. Night Shyamalan. Fotografia de: Mike Gioulakis. Estrelando: Gael García Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell, Alex Wolff, Thomasin McKenzie, Abbey Lee, Nikki Amuka-Bird e Ken Leung.

Shyamalan possui uma filmografia interessante, no mínimo. Alçado ao estrelato pelos excelentes O Sexto Sentido e Corpo Fechado, o diretor foi deixando a desejar a cada novo trabalho. O "novo Hitchcock" ficou progressivamente pior, até chegar em atrocidades que sequer me atrevo a mencionar. Eis que, em 2016, o cineasta recuperou um pouco de sua antiga forma, em Fragmentado. O longa estrelado por James McAvoy é irregular, mas aqui e ali mostra alguns dos elementos que transformaram Shyamalan num nome difícil de ser ignorado, mesmo em meio a tantas controvérsias.

Inspirado pela HQ franco-suíça Sandcastle, Tempo conta a história de uma família que vai passar o fim de semana num hotel paradisíaco. Indo relaxar em um local isolado da costa, eles descobrem que estão, inexplicavelmente, envelhecendo rápida e progressivamente. A praia, por algum motivo, tem esse efeito sobre os que a habitam. Segundos tornam-se dias. Minutos tornam-se meses. Horas tornam-se anos.

E é com essa premissa (bem interessante, convenhamos) que o cineasta conduz seu projeto. Ele se prejudica, contudo, pela obrigação que impôs a si mesmo de sempre trazer uma reviravolta surpreendente no terceiro ato. O que antes era uma carta na manga, virou uma armadilha. Aqui, tal reviravolta não é somente previsível para todo e qualquer espectador (não somente os familiarizados com a filmografia), como também sabota o próprio longa, diluindo boa parte de seu peso dramático.

Por mais que eu seja cético com relação a tudo que vem de Shyamalan, sou obrigado a admitir que ele é capaz de criar cenas absolutamente angustiantes. Seu talento como cineasta é inegável. Não tenho vergonha de dizer que me peguei várias vezes cobrindo a boca com a mão durante a projeção. Tudo isso, é claro, não seria possível sem a fotografia de Mike Gioulakis que, com sua vasta experiência rodando filmes de suspense, consegue evocar angústia apenas com uma mudança sutil no brilho e contraste.

E, após todos esses momentos de tensão, temos um final que traz respostas honestas, porém insossas. Evitando, desta vez, uma explicação excessivamente sobrenatural, o projeto exagera nas exposições, mostrando eventos que poderíamos facilmente imaginar nós mesmos. E nada pode ser mais forte, mais assustador ou mais completo do que a nossa própria imaginação.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Brothers, Universal Pictures e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Tempo, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Crítica: Um Lugar Silencioso - Parte II (2020)

Escrito e dirigido por: John Krasinski. Fotografia de: Polly Morgan. Estrelando: Emily Blunt, Cillian Murphy, Millicent Simmonds, Noah Jupe, Djimon Hounsou e John Krasinsk.

Um Lugar Silencioso II teve sua prèmiere há exatos 499 dias, em 8 de março de 2020, no Rose Theater do Lincoln Center, Nova York. Estrearia para o público no dia 20 daquele mês. Chegou a ser exibido para a imprensa em alguns países, críticas e reviews ficaram prontos para serem publicados e, claro, um artista estava ansioso para mostrar seu novo trabalho ao mundo. Ainda guardo, na minha caixa de e-mail, o convite para a sessão de imprensa que nunca fora realizada. Assim como o da família Abbott, nosso mundo também nunca mais foi o mesmo.

Mais uma vez roteirizado por John Krasinski, que dirige e escreve ainda melhor do que atua, acompanhamos aqui Evelyn (Blunt) e seus filhos imediatamente após o fim dos eventos do primeiro filme. Revelando a origem das criaturas num prólogo de tirar o fôlego, esta continuação consegue nos manter ainda mais engajados. Além de já conhecermos bem os personagens, agora também sabemos o ponto fraco dos vilões.

Eficiente em sua estrutura e explorando temas diversos, o projeto abre ainda mais espaço para a jovem Millicent Simmonds que, talentosíssima, protagoniza um dos planos mais antológicos de 2020, no qual, acreditando ter sido enganada, olha desolada para o horizonte. Já o recluso Emmet (Murphy, da ótima Peaky Blinders) faz um contraponto interessante ao falecido patriarca, já que, apesar do mindset distinto, exibe trejeitos que remetem, intencionalmente ou não, ao personagem de Krasinski.

Mais uma vez fotografado em 35mm anamórfico, desta vez por Polly Morgan (de Lucy in the Sky), Parte II aposta na insubstituível estética da película para realçar suas ideias, indiferente ao digital que domina o Cinema. Assim, a diretora de fotografia aproveita ao máximo as possibilidades do celuloide, especialmente em certa sequência envolvendo luzes azuis e vermelhas. O alcance dinâmico espetacular do film stock da Kodak (provavelmente da série Vision) realça uma lógica cromática óbvia, mas perfeita.

E, claro, não poderia encerrar este texto sem destacar os momentos de cooperação, conexão e comunidade vistos aqui, que certamente adquiriram novos contornos interpretativos, dada a atual conjuntura. Juntando-se à "Parte I" como uma das obras de suspense mais eficientes dos últimos anos, este projeto leva o espectador para fora da sala com uma sensação intensa de angústia. A abordagem, portanto, foi assertiva. No fim das contas, é só isso que importa. Falta de originalidade nunca será problema para um cineasta talentoso.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Paramount Pictures e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Um Lugar Silencioso II, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Crítica: Space Jam - Um Novo Legado (2021)

Dirigido por: Malcolm D. Lee. Roteiro de: Juel Taylor, Tony Rettenmaier, Keenan Coogler, Terence Nance, Jesse Gordon e Celeste Ballard. Fotografia de: Salvatore Totino. Estrelando: LeBron James, Don Cheadle, Khris Davis e Sonequa Martin-Green. 

Space Jam conseguiu atrair um cult following inexplicável ao longo dos anos, mesmo tendo sido lançado em uma das épocas mais prolíficas da história da animação. Eclipsado na época de seu lançamento e medíocre na melhor das hipóteses, o longa de 1996 atraiu um legião de fãs, com sucessivas reprises e novas tiragens em DVD e Blu-ray.

Espécie de híbrido remake-reboot do "clássico", Um Novo Legado recria basicamente a mesma história, desta vez com o astro do basquete LeBron James no lugar de Michael Jordan, e Don Cheadle no lugar dos pequenos alienígenas. Por outro lado, aqui não vemos apenas os Looney Tunes, mas todo e qualquer personagem cujos direitos pertençam à Warner, numa chuva de pontas de fazer inveja à The Lego Batman Film. Nem Casablanca e Laranja Mecânica escaparam.

Como em todo filme carregado de cameos e referências, nem todas são igualmente interessantes. Há momentos inspirados, claro, como uma piada envolvendo certo ator, cuja identidade manterei em segredo. Mas o menos inspirado de tudo é, infelizmente, a performance de LeBron James. O atleta demonstra não possuir talento algum como ator, ficando pouco à vontade e artificial em cena. Temos, então, um longa vazio, já que seu centro emocional não funciona. O wrestling, pelo visto, continua sendo único esporte que capaz de gerar bons atores.

Se o desempenho do elenco de carne e osso é questionável, o mesmo não pode ser dito dos sempre simpáticos Looney Tunes, mas mesmo estes pouco têm a fazer, pois o roteiro apela para todo tipo de pieguice imaginável ("você não me deixa ser quem eu sou"). Dito isso, creio que o projeto provavelmente agradará as crianças menores, bem como aos fãs de cultura pop, que se divertirão identificando as centenas de personagens homenageados. Resta-nos torcer para que a Warner chame um wrestler para a continuação.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Bros. e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Space Jam, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Crítica: Velozes & Furiosos 9 (2021)













Dirigido por: Justin Lin. Roteiro de: Daniel Casey e Justin Lin. Fotografia de: Stephen F. Windon. Estrelando: Vin Diesel, Michelle Rodriguez, Tyrese Gibson, John Cena e Jordana Brewster.

Décimo filme (há um spin-off) da "saga" que começou narrando a história de uma gangue de LA que roubava aparelhos de DVD, a série Velozes se transformou na franquia mais lucrativa da Universal. Começou despretensiosamente. Vinte anos depois, atravessou a última fronteira: o espaço. O que virá nos próximos filmes, viagens intergaláticas? Se houver uma ponta da Helen Mirren, poderia ser interessante...

Evitando uma trama excessivamente complexa, erro comum de tantos filmes do gênero, o roteiro agora nos apresenta o espião Jakob (Cena), irmão perdido de Dom (Diesel), que, nunca antes citado, reapareceu com um plano terrível de dominação mundial (e podia ser diferente?). Assim, Dom se vê obrigado a reunir seus colegas para uma última (cof cof) missão, interrompendo a vida tranquila que iniciara ao lado de Letty (Rodriguez).

Tendo comandado quatro Velozes (seu último foi o eficiente sexto capítulo, em 2013), Justin Lin retorna para a direção após um hiato de dois filmes, com a consciência de que aqui tudo precisa ser maior e mais grandioso. Um dos responsáveis pelo rebranding da franquia, Lin agora encara seu protagonista como um quase super-herói.

Por outro lado, vemos novamente situações que já se tornaram clichê de tão usadas pela série, como os famigerados personagens que voltam à vida. E, claro, a invasão de um sistema enquanto uma barra de progresso mostra a ação, em pleno 2021. Desta vez, no entanto, a tradicional conversão de um vilão em mocinho no terceiro ato é perdoável, já que o carisma e energia infindáveis de John Cena merecem ser aproveitados nas continuações. 

Divertido ao fazer piadinhas com seus próprios absurdos, o longa recria cenas, repete fórmulas e introduz até mesmo uma hero's journey para Vin Diesel em meio aos carros de ponta e efeitos visuais sem fim. A Universal reinventou sua franquia e, agora, prefere não mexer em time que está ganhando. É sempre bom ser prudente, especialmente numa indústria que raramente dá uma segunda chance.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Bros., Univesal Pictures e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Velozes & Furiosos 9, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Crítica: Em Um Bairro de Nova York (2021)













Dirigido por: Jon M. Chu. Roteiro de: Quiara Alegría Hudes. Fotografia de: Alice Brooks. Estrelando: Anthony Ramos, Corey Hawkins, Leslie Grace, Melissa Barrera e Olga Merediz.

In the Heights (que título nacional ruim, né?) é o segundo filme do diretor Jon M. Chu que, apesar de reconhecer os méritos, aprecio moderadamente. O primeiro, Crazy Rich Asians (2018), inovou na representação de minorias ao mesmo tempo em que se estabelecia como uma comédia efetiva. Aqui, temos uma proposta parecida, só que em forma de musical.

Adaptado do espetáculo homônimo da Broadway, o roteiro não segue uma trama definida. Com a narração do jovem Usnavi (Ramos), acompanhamos as jornadas dos habitantes de Washington Heights, bairro nova-iorquino de população predominantemente latina. Assim, os personagens cantam sobre seus sofrimentos, anseios, dificuldades, desejos, e o que mais aparecer.

Esteticamente interessante, sem criar confusão visual, o projeto soa inchado em suas mais de duas horas de duração. Não dá para deixar de citar, claro, o plano envolvendo o reflexo de dançarinos na vitrine de uma loja (vocês reconhecerão imediatamente ao assistir), que certamente merece figurar em qualquer antologia de melhores momentos do Cinema em 2021. Quanto aos números musicais, estes variam entre o divertido, o tedioso e o intragável (Paciencia y Fe é particularmente ruim), comprometendo a consistência da trilha sonora. Falando em trilha, a participação de Lin-Manuel Miranda (compositor/letrista do musical original e produtor do longa) soa pouco inspirada e descartável, já que seu personagem não desempenha função alguma na narrativa, e além disso protagoniza uma constrangedora cena pós-créditos. 

Evoluindo na representatividade latina no cinema hollywoodiano, In the Heights infelizmente também invisibiliza outros grupos, já que não conta com um único personagem brasileiro ou afro-latino. A comunidade brasileira nos EUA tem quase meio milhão de habitantes, portanto é quase ofensiva a ausência de qualquer referência ou mesmo uma simples fala em português. De todo modo, o projeto convence pela entrega absoluta de todos os envolvidos, numa vibe escancaradamente política. Seria pedir muito um brasileiro na continuação?

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Bros. e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Em Um Bairro de Nova York, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Crítica: Espiral - O Legado de Jogos Mortais (2021)

Dirigido por: Darren Lynn Bousman. Roteiro de: Josh Stolberg e Peter Goldfinger. Fotografia de: Jordan Oram. Estrelando: Chris Rock, Max Minghella, Marisol Nichols, Samuel L. Jackson.

Há 17 anos, um certo Jogos Mortais revolucionou o subgênero dos slasher films, introduzindo uma linguagem diferente ao mesmo tempo em que iniciava (claro) uma franquia. Sempre interessantes, mas nunca realmente memoráveis, os infindáveis capítulos da "saga" chegaram ao fim. O que fazer em seguida? Reboot, é claro.

Dessa forma, acompanhamos aqui o detetive Ezekiel Banks (Rock, sempre carismático), encarregado de investigar uma série de assassinatos com características bem familiares. Trabalhando à sombra de seu pai (Samuel L. Jackson, que rivaliza com Jason Statham o posto de ator mais typecasted da história do Cinema), Ezekiel acaba ficando bem no centro do jogo.

Mudando a estratégia pretérita, a direção aposta mais no mistério em si do que no horror, o que se revela uma péssima decisão, já que a investigação é confusa, cheia de furos e, claro, a estupidez dos detetives acaba com qualquer suspensão de descrença. Certos diálogos parecem até uma paródia dos cop films dos anos 1980, e a incerteza dos realizadores sobre qual rumo tomar desperdiça a boa química entre Jackson e Rock.

Num sinal óbvio de fadiga criativa, as cenas de tortura vistas aqui são bem menos inventivas do que as de capítulos anteriores, ao passo que a montagem apela para cortes excessivos que fracassam em gerar suspense. Nos Saw anteriores, ficava claro que havia chance de a vítima da "brincadeira" sair viva, ainda que lhe custasse seus membros, já aqui essa opção parece impossível. Não darei detalhes para evitar spoilers, mas, de todo modo... Seria uma metáfora do diretor para o estado desta franquia, que está fadada a morrer não importa o quanto se debata?

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Paris Filmes e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Espiral, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Crítica: Invocação do Mal 3 - A Ordem do Demônio (2021)








Dirigido por: Michael Chaves. Roteiro de: David Leslie Johnson-McGoldrick. Fotografia de: Michael Burgess. Estrelando: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Ruairi O'Connor, Sarah Catherine Hook e Julian Hilliard.

Maior e mais ambiciosa franquia de terror de todos os tempos, The Conjuring Universe abriga obras com resultados muito diversos, desde o pavoroso A Maldição da Chorona, passando pelo mediano Annabelle 3 até o sublime Invocação do Mal 2. Oitavo filme da série e segunda continuação do original de 2013, Invocação 3 foi comandado pelo mesmo Michael Chaves que dirigiu Chorona. Mais bem acessorado do que antes, o cineasta conduziu aqui um projeto eficaz, mesmo que sem a graça e energia que James Wan imprimiu nos capítulos anteriores.

Ambientado em 1981, quatro anos após os eventos de Invocação 2, o roteiro acompanha o casal Ed e Lorraine Warren enquanto investigam o notório assassinato cometido pelo jovem Arne Johnson, que alega ter estado possuído quando cometeu o crime. O filme abre-se com uma sequência eletrizante que, embora aqui e ali apele para os famigerados jump scares, consegue estabelecê-lo como um evento suntuoso. Um blockbuster de terror.

De cara, já temos uma novidade. É o primeiro longa sobre os Warren que não é sobre uma casa assombrada. Isto abre novas e interessantes possibilidades, já que a química de Vera Farmiga e Patrick Wilson consegue vender a história, independente da opinião que o público possa ter sobre a veracidade dos casos por eles investigados. O que nos traz à segunda novidade: é a primeiro Invocação que possui uma vilã humana (mais sobre isso daqui a pouco).

Embora competente em seus aspectos técnicos, o projeto lança mão de uma fotografia menos inventiva que seus predecessores, apostando numa paleta tendendo ao sépia. E, claro, uma das criaturas aqui vistas é tão ridícula que me pergunto como conseguiu sobreviver aos test screenings

É lamentável que, após um primeiro e segundo ato bem construídos, o terceiro desperdice tanto potencial naquela que foi a reviravolta mais artificial da série, resultando num clímax fraquíssimo, não somente inutilizando a recém-introduzida vilã, como tendendo à propaganda religiosa, algo que Wan tomava o cuidado de evitar. Mas ainda há tempo para ele retornar e colocar ordem na casa, já que mais um spin-off foi anunciado, além de uma sequência para A Freira. E é melhor ele se apressar, pois os arquivos Warren podem se esgotar em breve.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Warner Bros. e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Invocação do Mal 3, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Crítica: Aqueles Que Me Desejam a Morte (2021)

Escrito e dirigido por: Taylor Sheridan. Fotografia de: Ben Richardson. Estrelando: Angelina Jolie, Finn Little, Nicholas Hoult, Aidan Gillen, Jake Weber, Medina Senghore e Jon Bernthal.

Aqueles Que Me Desejam a Morte é, no mínimo, anacrônico. Ainda que seja um representante do gênero neo-western, que ganhou força nos anos 2010 graças à série Breaking Bad, o projeto parece saído diretamente dos anos 1990. Finalizado desde a metade de 2019, o longa não teve uma campanha de marketing muito incisiva por parte de Warner, apesar do elenco estelar.

Dirigido por Taylor Sheridan (responsável pelo roteiro do magnífico Hell or High Water), o projeto acompanha um garoto (Little, excelente) que, fugindo de dois assassinos profissionais, encontra na bombeira florestal Hannah (Jolie) sua única chance de escape. Hannah, por sua vez, ainda se recupera da perda de três pessoas num incêndio do último verão.

Baseado no livro de Michael Koryta, que co-escreveu o roteiro, o longa aposta numa estrutura esquisita que nunca se justifica, inciando-se com uma bela sequência que estabelece seus vilões e ignorando completamente a protagonista até o segundo ato, o que não só configura grave erro narrativo, como também gera pistas que jamais conduzem a uma recompensa. Certo personagem, cuja identidade não revelarei, surge em uma única cena e, mesmo tendo seu regresso insinuado, jamais aparece novamente ou diz a que veio. Conhecendo a obra de Sheridan, a única explicação possível é uma remontagem após maus resultados em test screenings. Como diz Peter Jackson, mais tempo disponível nem sempre resulta num filme melhor,

Aparentemente mais seleta nos papéis que interpreta, e ao mesmo tempo incapaz de ignorar os paychecks da Disney, Jolie faz aqui uma heroína de ação como já não interpretava há bons anos. Ainda que suas motivações nunca sejam exploradas, ela tem carisma suficiente para ignoremos os vilões que, embora inteligentíssimos, tomam decisões convenientemente erradas em momentos chave. De todo modo, o que não dá mesmo para perdoar é o uso da gravidez de certa personagem como recurso apenas dramático, sem qualquer função ou objetivo na narrativa. Se fosse Spielberg eu até entenderia, mas Sheridan?

Reciclando o tema de homem vs. natureza numa área isolada dos EUA, o projeto recria todos os elementos que já esperaríamos, como as perseguições em locais remotos, os planos amplos que descortinam paisagens e a fotografia sempre drenada de cores. Só que, desta vez, temos um roteiro mediano e personagens unidimensionais. Taylor Sheridan se contentou com o básico pela primeira vez em sua carreira. Temos a Angelina Jolie, pelo menos.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Warner Bros., Espaço Z e todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Aqueles Que Me Desejam a Morte, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

#filmenocinema

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Crítica: Monster Hunter (2020)








Escrito e dirigido por: Paul W. S. Anderson. Fotografia de: Glen MacPherson. Estrelando: Milla Jovovich, Tony Jaa, Tip "T.I." Harris, Meagan Good, Diego Boneta, Josh Helman, Jin Au-Yeung e Ron Perlman.

Em uma dimensão paralela onde humanos e monstros gigantes coabitam, um guerreiro é separado de seus companheiros e deve lutar pela sobrevivência sozinho. No planeta Terra, uma capitã do exército e seu time vasculham o deserto em busca de soldados perdidos, quando uma tempestade os transporta para o Novo Mundo, onde encontram os restos dos colegas e, claro, perigo mortal.

E é com esse fiapo de história que o diretor Paul W. S. Anderson tenta sustentar seu novo longa. Baseado na série de vídeo games da Capcom (os quais confesso não ter jogado), o cineasta investe numa estética provavelmente oriunda destes. No Novo Mundo, onde quase toda narrativa se passa, as cores são obviamente saturadas e os figurinos estilizados, aos poucos passando a vestir também a protagonista, interpretada pela esposa e colaboradora habitual de Anderson, Milla Jovovich.

Ainda que peque pelo roteiro frágil e unidimensionalidade de seus personagens, Anderson consegue prender nossa atenção com suas longas e grandiosas cenas de ação. É uma pena que estas sejam ligadas umas às outras por fade-outs tão, mas tão insistentes (parei de contar no sexto) que cheguei a me perguntar se o montador Doobie White não conhecia outra forma de transição. Ao menos sua montagem permite que vejamos quem luta contra quem.

Se as sequências de ação entretém, o design das criaturas é o que já esperaríamos de uma pradução desse tipo. Ainda que concebidas com eficiência e realizadas com CGI irrepreensível, os kaiju aqui vistos apresentam anatomias que, em 2021, só conseguem remeter a filmes muito melhores. O que nos traz à química entre Jovovich e o ator tailandês Tony Jaa. A dinâmica entre eles, bonitinha até, acerta por estabelecer suas (únicas) características definidoras com economia, e merece também aplausos por evitar o irritante clichê do estrangeiro que, antes confinado à sua língua nativa, já está falando inglês sem sotaque duas cenas depois.

Finalizado com um gancho mais escancarado que o habitual, Monster Hunter parece confiante em sua própria capacidade de resistir às intempéries e, quem sabe, tornar-se a primeira franquia surgida durante a pandemia de COVID-19. Paul W. S. Anderson entrará para a História do Cinema?

Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Sony Pictures, Espaço Z e a todos aqueles presentes na sessão de imprensa de Monster Hunter, por acreditarem na experiência inesquecível de assistir um filme no cinema.

#filmenocinema

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Grants For Single Moms