terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Crítica: Wish (2023)

Dirigido por: Chris Buck e Fawn Veerasunthorn. Roteiro de: Jennifer Lee e Allison Moore. Fotografia de: Rob Dressel e Adolph Lusinsky. Estrelando: Ariana DeBose, Chris Pine, Alan Tudyk, Angelique Cabral e Victor Garber.

Há 100 anos, os curtas e longas produzidos no estúdio fundado pelo velho Walt transportam crianças de 5 a 100 anos em jornadas belas, marcantes e inesquecíveis. Um ponto central em quase todas as narativas é o poder de desejos que, se feitos à uma estrela, têm grande chance de se tornarem realidade. Não importa quem você seja ou de onde venha. No belo reino de Rosas, o Rei Magnífico (Pine) controla todos os pedidos feitos por seu povo, e escolhe quais serão realizados ou não.

O roteiro acompanha a jovem Asha (DeBose) que, vivaz e sonhadora, descobre que o Rei não é tão benevolente quanto parece. Desse modo, ela apela à uma estrela para que os desejos de todos se tornem realidade. A partir disso, a Estrela vai até o reino e temos o nosso filme. Os números musicais não chegam a ser tão memoráveis quanto os da Renascença (1989-1999), mas, a bem da verdade, é difícil competir com os longas daquele período. No quesito visual, a narrativa usa um estilo de animação reminiscente de Aranhaverso, que ao misturar elementos computadorizados com outros feitos à mão, combinou perfeitamente com a atmosfera de fantasia medieval.

Recheado de referências aos clássicos do estúdio, o longa as usa de maneira orgânica e moderada, sem depender delas, de modo a evitar o caos que se tornou o Universo Marvel. No entanto, há alguma dificuldade em conciliar os tropes antigos com a era do cancelamento e do politicamente correto. Asha, naturalmente, não tem um interesse romântico, o que, por algum motivo, se tornou tabu na empresa. É uma pena que isso tenha acontecido, afinal de contas ela teria formado um belo casal com o impetuoso Simon (Evan Peters). Por outro lado, vemos a maturidade dos realizadores ao evitar clichês de outrora, como o do vilão que é castigado numa queda de grande altura.

Tropeços à parte, ao final de um ano difícil para a The Walt Disney Company, temos aqui um projeto que reverencia o passado, homenageia o presente e olha para o futuro. O filme, que só chega ao Brasil em janeiro do próximo ano, é um alento para corações infantis fatigados pelo entretenimento juvenil atual, que substituiu a inocência pelo exagero, os sonhos pela ironia e o encanto pela apelação. Como não poderia faltar, há uma emocionante surpresa após os créditos finais.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Crítica: Wonka (2023)

Dirigido por: Paul King. Roteiro de: Simon Farnaby e Paul King. Fotografia de: Chung-hoon Chung. Estrelando: Timothée Chalamet, Calah Lane, Keegan-Michael Key, Paterson Joseph, Matt Lucas, Mathew Baynton e Sally Hawkins.

Há mais de 50 anos, a adaptação estrelada por Gene Wilder (e refeita por Tim Burton) encantou desde o jovem até o jovem de coração. Eis que, em 2023, os executivos da Warner deciriam que era hora de oferecer respostas para perguntas que ninguém fez. Com alguma inventividade visual (e pieguice atroz), o longa talvez consiga divertir as crianças menores.

O roteiro, obviamente, relata a origem de Willy Wonka, aqui interpretado por Timothée Chalamet, um ator moderadamente carismático, magricela e com traços femininos pelo qual Hollywood parece nutrir certo apreço. Tendo feito bons trabalhos em Call Me By Your Name e Dune, Chalamet consegue incutir leveza em Wonka. Homem ambicioso e doce (pois é), o inventor sonha em abrir sua própria loja de chocolates.

Olivia Colman, divertidíssima, interpreta a vilã Mrs. Scrubbit quase como um troll, que surge rosnando na primeira oportunidade. Já a novata Calah Lane não tem muito o que fazer com sua personagem, pois o roteiro fornece apenas uma dimensão com a qual trabalhar. Por fim, um dos melhores momentos da projeção envolve a participação de certo ator cuja identidade não vou revelar.

E se não citei até agora o fato do projeto ser um musical, é porque nenhum dos números encenados é particularmente memorável. De todo modo, cumprem com alguma competência a função de empurrar a história para a frente. Diferentemente da versão mais fria e sádica de Johnny Depp, o Wonka visto aqui protagoniza uma bobagem divertida, que provavelmente deveria ter ido direto para o streaming.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Crítica: Resistência (2023)

Dirigido por: Gareth Edwards. Roteiro de: Gareth Edwards e Chris Weitz. Fotografia de: Greig Fraser e Oren Soffer. Estrelando: John David Washington, Gemma Chan, Ken Watanabe, Sturgill Simpson e Allison Janney.

Diretor do bem sucedido Rogue One, Gareth Edwards lança agora seu novo projeto. Apesar de mais “pessoal” e ambicioso, o longa investe numa familiaridade com filmes amados que oscila entre o curiosa e irritante. Claramente inspirado em Apocalipse Now (1979), Blade Runner (1982), Akira (1988) e Baraka (1992), Edwards falha em agregar algo relevante ao gênero. Estilisticamente rodado na rara razão de aspecto de 2.76:1, a produção infelizmente não será aproveitada como deveria pela maioria dos espectadores. A maioria dos cinemas comerciais possui telas mais estreitas, o que culminará no uso tarjas pretas para exibição que, neste caso, diluem o efeito pretendido.

Ambientado numa distopia (claro), o roteiro retrata o banimento da Inteligência Artificial nos EUA após esta lançar uma ogiva nuclear em Los Angeles. Dessa forma, a IA é banida no ocidente, mas continua sendo usada na ásia, onde foi completamente incorporada à cultura e sociedade. A trama, coescrita pelo próprio Edwards, traz John David Washington (nepo baby do momento) na pele de Joshua, agente do governo americano que, traumatizado com o desaparecimento da esposa (Chan, de Eternos), busca um misterioso engenheiro que, supostamente, criou uma arma capaz de encerrar o conflito. De uma maneira ou de outra, reciclam-se alegorias já vistas milhões de vezes.

No entanto, a maior inconveniência aqui são as observações inoportunas feitas sobre IA, ainda que possam um dia se mostrar acertadas. Em certo momento, fiquei a imaginar o que leva um cineasta a, no momento atual, ter o desplante de fazer tais sugestões, e ainda se apropriar da cultura asiática e de motifs da Guerra do Vietnã para fazê-lo. Só o tempo mostrará se ele foi audacioso, visionário ou apenas tapado. Questiono, também, quais sentimentos os membros da WGA e SAG-AFTRA, em greve há meses, teriam ao conferir a “visão” do diretor.

O máximo que dá para dizer sobre Resistência é que, mesmo com méritos técnicos e efeitos visuais competentes, parece apenas um arremedo, daqueles feitos por alguém que acredita piamente estar fazendo algo sublime. Além disso, o mundo pensado pelos produtores é esteticamente desinteressante e visualmente cansativo. Na ânsia de ser original num mundo de remakes, reboots e sequels, trouxe apenas tédio e moral duvidosa.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Crítica: Som da Liberdade (2023)

Dirigido por: Alejandro Monteverde. Roteiro de: Rod Barr e Alejandro Monteverde. Fotografia de: Gorka Gómez e Andreu Aec. Estrelando: Jim Caviezel, Mira Sorvino e Bill Camp.

Finalmente o filme independente mais polêmico de 2023 veio para os cinemas brasileiros. Exemplo clássico de "sleeper hit" (lançamento morno que ganha notoriedade posteriormente), a ficção dirigida pelo mexicano Alejandro Monteverde retrata as memórias do ex-agente da CIA Timothy Ballard, pai de nove filhos (aparentemente, ele faltou a aula de planejamento familiar) e também mórmon, claro. Antenado aos problemas sociais, o rapaz abdica da profissão estável e da família anacronicamente numerosa, colocando a própria vida em risco para combater o crime e as forças do mal.

Ainda que a construção arquetípica do personagem e seus impulsos force a Suspensão da Descrença (nem o Capitão América é tão divino), os produtores acertaram na escolha do intéprete. Ator outrora considerado promissor, mas cuja estupidez o tornou irrelevante, Jim Caviezel foi merecidamente ostracizado em Hollywood. Dono de algum talento dramático, mas portador de notória deficiência intelectual, o americano ficou relegado a produções questionáveis há vários anos. Depois de resgatar um menino de uma quadrilha de tráfico de crianças, seu personagem se transforma em vigilante e Batman tropical, investindo numa missão arriscada para resgatar centenas de jovens raptados.

Vale lembrar, no entanto, que os acontecimentos do roteiro diferem significativamente dos relatos do próprio Ballard. Não que isso seja desabonador per se, pois a obra cinematográfica deve se sustentar sozinha e não tem obrigação de reproduzir cada detalhe do material fonte. De acordo com a narrativa o ex-agente, ele nunca adentrou uma floresta sozinho para resgatar a garota, tampouco matou um homem nesse processo. Além disso, a Operação Triple Take envolveu tanto menores quanto adultos, ao passo que o filme retrata todas as vítimas como crianças. Claro que todo tipo de adaptação pode (e deve) ser feita em benefício da narrativa. Dessa forma, mesmo admirando a força emocional de certas passagens, o fato é que a inclusão delas sugere motivações absolutamente escusas, ou simplesmente cínicas.

Conspiracionista em seu cerne, o longa não funciona nem como filme de ação, nem como de espionagem, nem mesmo como uma espécie de dossiê ficcional/pseudodocumentário. Ainda que tente capturar o horror do tráfico humano, as controvérsias do projeto conseguem eclipsar o esforço. Ao mesmo tempo que evita passagens mais explícitas que o impediriam de se tornar mainstream, o longa é curioso o suficiente para despertar o interesse de espectadores comuns, o que certamente contribuiu para a bilheteria vultosa (com investimento financeiro mínimo). E como não apreciar uma boa bilheteria? Aparentemente, ela fez com que os anti-sistema se rendessem a ele, já que há boatos sobre uma continuação. Pois é.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paris Filmes.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Crítica: A Freira 2 (2023)

Dirigido por: Michael Chaves. Roteiro de: Ian Goldberg, Richard Naing e Akela Cooper. Fotografia de: Tristan Nyby. Estrelando: Taissa Farmiga, Jonas Bloquet, Storm Reid, Anna Popplewell e Bonnie Aarons.

Responsável pelo pavoroso A Maldição da Chorona e pelo mediano Invocação do Mal 3, Michael Chaves ataca novamente. Por algum motivo que só os executivos da Warner sabem, o "cineasta" ganhou mais um voto de confiança, recebendo a tarefa de comandar a continuação (do já problemático) A Freira. O filme de 2018 trouxe inconsistências narrativas imperdoáveis, mas fez algum sucesso com sua atmosfera carregada e performances contumazes.

O roteiro, escrito a seis mãos, acompanha novamente a noviça Irene (Taissa Farmiga). Agora acompanhada da colega Debra (a medíocre Storm Reid), ela mais uma vez tem que enfrentar o demônio Valak. Já o jovem Maurice (Bloquet), agora trabalha como servente num internato francês, onde uma capela bombardeada durante a Segunda Guerra permanece sempre trancada.

A Freira 2 é um terror de inspiração gótica que não sabe o que fazer com seus elementos. Com a exceção de uma cena afiada envolvendo uma banca de revistas, os set pieces vistos aqui pouco têm de eficazes, e adicionam apenas sustos vazios para o rico universo da franquia concebida por James Wan. Lançado no mesmo ano de Fale Comigo e Evil Dead Rise, fica difícil defender este projeto.

Esta continuação é, sem sombra de dúvidas, o segundo pior filme da fraquia. O primeiro, é claro, já foi citado no início do texto. Sustentado pelo carisma de Taissa Farmiga e por um ou outro jump scare mais inspirado, o longa é prejudicado por um roteiro pedestre e ritmo irregular, com reviravoltas dignas de uma novela da Globo. É triste quando um storytelling ruim suga todo o potencial de um filme. Que falta faz uma Annabelle...

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Crítica: Besouro Azul (2023)

Dirigido por: Ángel Manuel Soto. Roteiro de: Gareth Dunnet-Alcocer. Fotografia de: Pawel Pogorzelski. Estrelando: Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Adriana Barraza, Damián Alcázar, Raoul Max Trujillo e Susan Sarandon.

Primeiro filme da DC centrado num herói latino e penúltimo filme do DCEU, antes de sua repaginada, Besouro Azul é um projeto no mínimo interessante. É certo que os executivos da Warner esperam um desempenho melhor do que The Flash. Ao que parece, o novo herói já é membro do novo Universo Compartilhado da DC, porém este só começará oficialmente com Superman Legacy (pois é).

O roteiro acompanha Xolo Maridueña (de Cobra Kai) como Jaime Reyes que, recém graduado no college, retorna para sua cidade natal, a fictícia Palmera City. Inadvertidamente, o rapaz é escolhido como hospedeiro de uma inteligência alienígena que, claro, concede a ele um exoesqueleto poderoso. Temos, então, nosso super-herói. A supervilã da vez é interpretada, de modo absolutamente caricatural, por Susan Sarandon.

É triste, no entanto, que o projeto reforce todo tipo de estereótipo sobre latinos. A família grande e numerosa, a falta de individualidade (todos sempre sabem o que se passa na vida de todos), a alegria onipresente (tristeza aqui é tabu), a baixa escolaridade, o gosto por entretenimentos de qualidade duvidosa... Enfim, tudo que o norte-americano médio associa ao imigrante latino. Se já está irritante na franquia do Vin Diesel, imagina num gênero já absolutamente saturado.

E se falei sobre estereótipos, tenho que mencionar também quem não os reproduz. Bruna Marquezine faz um bom trabalho como Jenny, o interesse amoroso do protagonista. O fato dela ser brasileira é mencionado casualmente pelo roteiro, mas sua graça e energia engrandecem o projeto. Sem falar na pronúncia afiada, fugindo ao clichê da atriz latina com inglês questionável. Com bom valor de entretenimento e sequências de ação interessantes, o filme tem uma missão difícil pela frente, ao tentar reacender um gênero fadigado e, especialmente para a Warner, financeiramente decepcionante em 2023.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Crítica: Fale Comigo (2022)

Dirigido por: Danny e Michael Philippou. Roteiro de: Danny Philippou e Bill Hinzman
. Fotografia de: Aaron McLisky. Estrelando: 
Sophie Wilde, Alexandra Jensen, Joe Bird, Otis Dhanji e Miranda Otto.

Horror exibido pela primeira vez ainda em 2022, no Adelaide Film Festival, Austrália, Talk to Me (milagrosamente, não ganhou subtítulo no Brasil) gerou hype suficiente para chegar ao Festival de Sundance e ganhar distribuição pela A24. Ambientado na mesma cidade que sediou sua première, e dirigido por dois irmãos gêmeos já conhecidos no YouTube, o projeto explora o sobrenatural por meio de temas já batidos, é verdade, mas o roteiro e atuações conseguem ser envolventes o suficiente para cativar o espectador. Primeiro trabalho cinematográfico da dupla, o filme é extremamente promissor tanto em narrativa quanto em linguagem. No Brasil, a distribuição ficou a cargo da Diamond Films.

A trama, concebida por Danny Philippou e Bill Hinzman, gira em torno de um grupo de jovens que, claro, descobrem uma maneira nada prudente de se entreter em festas: uma mão embalsamada, capaz de contactar o mundo dos mortos. Até aí, tudo bem, é uma premissa tradicional de filmes sobre espíritos. À princípio temerosa com a "brincadeira", a jovem Mia (Wild) descobre segredos obscuros a partir do objeto sobrenatural, e a linha entre os vivos e os mortos começa a desaparecer.

O roteiro toma o cuidado de retratar seus personagens como figuras multidimensionais (ainda que indubitavelmente irresponsáveis), dotadas de dores, traumas e necessidade de escapismo e conexão. Assim, foge-se do clichê do(a) jovem descartável, tão comum no terror, cuja disponibilidade sexual habitualmente determina o momento de seu fim (ou possibilidade de sobrevivência). Sophie Wild capta perfeitamente a vulnerabilidade e a determinação de Mia, de modo a proporcionar uma performance carregada pela emoção advinda da possibilidade de conexão com sua falecida mãe. A novata Alexandra Jensen, no papel da triste Jade, serve de bússola moral para o grupo. Os mais atentos talvez reconheçam a veterana Miranda Otto (a Éowyn, de O Senhor dos Anéis), em mais uma performance contumaz.

A cinematografia e design de produção merecem aplausos, pois criam uma atmosfera intensa, que remete ao pesadelo sem apelar para a estilização excessiva. Enquadramentos precisos e uso criativo da iluminação, aliados à maquiagem impecável, adicionam uma sensação de tensão palpável, aumentando o suspense e aprofundando a imersão na narrativa. Esta, por sua vez, mesmo não inovando do ponto de vista temático, agrada pelo peso dramático que confere à decadência física, mental e espiritual de sua protagonista.

Fale Comigo é uma estreia cinematográfica triunfal, realizada por uma dupla que sempre foi promissora em todas mídias nas quais já atuou. Enquanto o anúncio de uma sequência entusiasma os fãs, é importante notar que o projeto não sacrifica sua estrutura em prol de novos capítulos, finalizado numa nota pungente. Desse modo, saímos da sala de projeção compelidos a refletir sobre as pontes entre o mundo físico e o oculto.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Diamond Films.

terça-feira, 25 de julho de 2023

Crítica: Mansão Mal-Assombrada (2023)

Dirigido por: Justin Simien. Roteiro de: Katie Dippold. Fotografia de: Jeffrey Waldron. Estrelando: LaKeith Stanfield, Tiffany Haddish, Owen Wilson, Danny DeVito, Rosario Dawson, Dan Levy, Jamie Lee Curtis e Jared Leto.

Provavelmente lançada num momento não muito favorável, a nova adaptação inspirada no brinquedo clássico da Disneylândia (posteriormente levado também ao Magic Kingdom e filiais internacionais) evita os erros que levaram o filme estrelado por Eddie Murphy a amargar 14% de aprovação no Rotten Tomatoes. O projeto de 2003 não era assustador e muito menos engraçado, no entanto conseguiu algum sucesso comercial.

Haunted Mansion (desta vez, sem o artigo) acompanha Ben (Stanfield), um guia turístico especializado em atrações paranormais de New Orleans. Cético a respeito do próprio trabalho, o rapaz é procurado por uma mãe e seu filho para combater espíritos que assombram a mansão no qual estão vivendo (quem diria?). A esta equipe, acabam se juntando um padre (Wilson), uma vidente (Haddish, sensacional como sempre) e um professor universitário (DeVito, inspiradíssimo).

A coesão e química do elenco são perfeitas, destoando-se apenas Jared Leto que, prejudicado por efeitos visuais discutíveis e voz alterada digitalmente, poderia facilmente ter sido criado por inteligência artificial. Também destaco a fluidez com que os personagens mantém diálogos casuais sobre temas sensíveis, sem ignorar o peso destes, mas considerando o fato de que o além-morte também pode ser celebratório e não precisa ser tabu. Alguns momentos envolvendo o mundo dos mortos remetem ao ótimo A Noiva Cadáver.

É divertido constatar que, embora clichê em sua construção visual, o projeto consiga algum êxito ao empregar de maneira orgânica muitos tropes marcantes do brinquedo, como a sala de jantar, o imenso corredor "rotativo" e a marcante Madame Leota, desta vez interpretada por ninguém menos que Jamie Lee Curtis. A vibe levemente desconcertante (desta vez a Disney optou, acertadamente, pela classificação PG-13 ao invés da PG do filme de 2003) combina bem com o entretenimento descontraído que a atração do parque proporciona. Há instantes que me lembraram do Casper de 1995, com Cristina Ricci, clássico da Sessão da Tarde.

Sempre em busca de lançar uma nova franquia que possa alçar voos como os de Harry Potter ou mesmo Piratas do Caribe, a Disney faz aqui uma tímida, ingênua tentativa. Tentou-se Crônicas de Nárnia, Príncipe da Pérsia e (oh, céus) John Carter... A má notícia é que provavelmente não foi desta vez, a boa é que há talento aqui. 

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

terça-feira, 27 de junho de 2023

Crítica: Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Dirigido por: James Mangold. Roteiro de: Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, David Koepp e James Mangold. Fotografia de: Phedon Papamichael. Estrelando: Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Antonio Banderas, John Rhys-Davies, Toby Jones, Boyd Holbrook, Ethann Isidore e Mads Mikkelsen.

Exatos quinze anos após o polêmico O Reino da Caveira de Cristal, temos o quinto e, teoricamente, último projeto da série Indiana Jones que, iniciada há 42 anos, homenageava os romances pulp e os serials de décadas anteriores. Ao contrário de muitos, eu aprecio o longa de 2008, porém aprecio mais ainda o fato deste novo capítulo ter se livrado de todos os elementos questionáveis do quarto filme. Personagem de Shia LaBeuf? Morto. A Marion de Karen Allen? Desta vez é uma simples ponta. E assim por diante.

Primeiro Indiana não dirigido por Spielberg, Relíquia do Destino apresenta-nos um roteiro que se passa em 1969 e acompanha um Indy prestes a se aposentar. O arqueólogo, no entanto, vê-se obrigado a retornar à ativa para impedir que um poderoso artefato caia nas mãos de um cientista alemão (Mikkelsen) que, mesmo após o fim da Segunda Guerra, ainda se apega a ideais nazistas. Desta vez acompanhado por sua afilhada Helena (Waller-Bridge, excepcional), o professor luta para se adaptar a um mundo em constante transformação, ao passo que lida também com seu próprio envelhecimento.

Competente em seus aspectos técnicos, o filme faz jus ao orçamento vultoso e consegue disfarçar bem o uso do CGI e, com exceção e um ou dois momentos, o uso do chroma key também é bem discreto. O rejuvenescimento digital aplicado na sequência inicial é de tirar o fôlego, provavelmente o melhor já feito até hoje. A fotografia pode não ser tão inventiva quanto já fora, mas certa sequência de perseguição em meio a um desfile está entre as melhores de toda a franquia.

Ciente de interpretar um personagem quase mítico, Harrison Ford encarna-o esta última vez com leveza e propósito. Há algo de reconfortante em saber que, no meio de uma indústria onde quase nada parece ter fim, esta franquia, ao menos por enquanto, tem um.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, The Walt Disney Company e Paramount Pictures.

terça-feira, 13 de junho de 2023

Crítica: The Flash (2023)

Dirigido por: Andy Muschietti. Roteiro de: Christina Hodson. Fotografia de: Henry Braham. Estrelando: Ezra Miller, Sasha Calle, Michael Shannon, Ron Livingston, Maribel Verdú, Michael Keaton e George Clooney.

O conceito de multiverso tem sido cada vez mais explorado pelas franquias de super-heróis. Apesar de ser algo empolgante do ponto de vista teórico, na prática traz complicações por depender de um conhecimento que envolve não apenas o material-fonte, mas inúmeras obras derivadas e mesmo séries de tevê. Já passou a época do "você não entendendeu o filme porque não leu o livro". É bem mais complexo agora.

Alçado ao estrelato após dirigir o fraco Mama (2013) e a bilogia It (2017-2019), o argentino Andy Muschietti captura bem a essência cartunesca do herói, ao passo que o roteiro de Christina Hodson não perde tempo com exposições desnecessárias. Aqui, vemos Barry Allen (Miller) descobrir que possui a capacidade de interferir em eventos passados e, a partir daí, tenta evitar a perda da mãe (Verdú). Tal empreitada traz todo tipo de consequencia indesejada. Quem poderia imaginar...

Ezra Miller, sempre polêmico, compreende bem a essência do personagem. Barry Allen é um underachiever, ele não faz nada direito. E isso torna sua química com o "Barry alternativo" ainda mais interessante. O que nos traz ao incrível avanço tecnológico na construção dos planos nos quais os dois personagens interagem. Efeitos especiais e visuais evoluíram bastante desde que Lindsay Lohan interpretou duas gêmeas há 25 anos. Também destaco a excelente participação de Michael Keaton, que desperta no público o mesmo fascínio que Barry sente ao encontrá-lo. No terceiro ato, há uma ponta inspiradíssima.

Mesmo havendo, sim, competência técnica no projeto, é impossível não notar a irregularidade do CGI usado em muitas sequências. Como tem sido hábito há alguns anos, grandes estúdios terceirizam a animação e renderização de elementos para empresas menores espalhadas pelo mundo, aproveitando-se de incentivos fiscais e coisas do gênero. Talvez ajude a explicar a imensa irregularidade dos efeitos visuais vistos aqui. Compósitos ruins, chroma keys escancaradas, elementos sem motion blur e (socorro) texturas dignas de um jogo de PS3.

Lançado uma semana após a estupenda continuação de Aranhaversoo projeto forma uma rima interessante com seu concorrente, mesmo tendo uma estrutura fechada em três atos. Ambos terminam com um cliffhanger admirável. Resta saber se haverá sucesso comercial que justifique novos investimentos. Na concorrência, a sequência já está garantida.

Por Bernardo Argollo

Obs.: há uma cena pós-créditos.

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros. Discovery.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Crítica: Super Mario Bros. (2023)

Dirigido por: Aaron Horvath e Michael Jelenic. Roteiro de: Matthew Fogel. Estrelando: Chris Pratt, Anya Taylor-Joy, Charlie Day, Jack Black, Keegan-Michael Key e Seth Rogen.

Transpor Super Mario para a tela grande não é uma tarefa simples. Em 1993, a franquia de jogos da Nintendo foi adaptada num longa que, de tão ruim, deixou a empresa japonesa com um pé atrás na hora de licenciar seus produtos para adaptações cinematográficas. Eis que, 30 anos depois, chega este novo projeto feito pela Illumination Studio, que produziu Meu Malvado Favorito (2010) e suas continuações caça-níqueis.

O roteiro acompanha a história de Mario e Luigi, dois encanadores de ascendência italiana que vivem no Brooklyn, e deixam seus empregos para investir no próprio negócio. Desprezados pela própria família, que duvida de seus potenciais, os irmãos bigodudos encontram um cano verde mágico que os leva para o familiar universo de fantasia dos games.

O enredo, como já era de se esperar, é superficial e frágil, já que trata-se de um game que nunca teve um enredo bem definido. Qual a motivação do vilão dublado por Jack Black? De onde veio a Princesa Peach? São perguntas que ficam sem resposta, mas que, a bem da verdade, provavelmente não serão feitas pelos espectadores mais jovens. Há, no entanto, referências e easter eggs reconhecíveis mesmo para quem, como eu, nunca jogou um game da série.

Tecnicamente irrepreensível, o longa traz à tona o universo visualmente rico dos games, e aposta na nostalgia ao empregar os acordes já conhecidos da triha sonora. Há também músicas incidentais que, embora óbvias, valem pela nostalgia. As duas cenas pós-créditos, por sua vez, apontam para o futuro da franquia. Teremos um Mario Extended Universe?

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

quarta-feira, 15 de março de 2023

Crítica: Shazam! - Fúria dos Deuses (2023)

Dirigido por: David F. Sandberg. Roteiro de: Henry Gayden and Chris Morgan. Fotografia de: Gyula Pados. Estrelando: Zachary Levi, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Rachel Zegler, Adam Brody, Ross Butler, Meagan Good, Lucy Liu, Djimon Hounsou e Helen Mirren.

É difícil não se render à energia da família Shazam. Com um charme que conquistou o público em 2019, ao romper de vez com a atmosfera "sombria" dos projetos do DCEU, o projeto de David F. Sandberg (do ótimo Anabelle 2: A Criação do Malé uma aventura envolvente, despretensiosa e, sobretudo, alegre. Agora, quatro anos depois, esta continuação tenta manter o tom do original, ainda que falhe aqui e ali.

Mantendo o tom de comédia do longa original, o roteiro escrito a quatro mãos segue o jovem Billy (Angel) e sua família adotiva, que agota têm de enfrentar as filhas de Atlas, um trio de deusas que querem roubar os poderes que Billy e seus colegas usam. Ainda que tenham conquistado certo sucesso em sua missões, o grupo de heróis é tratado pela cidade da Filadélfia como perdedor, só que agora terão que enfrentar um desafio (claro) ainda maior.

Ainda que exibindo um CGI competente, o projeto peca pelas cenas de ação genéricas, permeadas por diálogos profundamente expositivos. Pouco à vontade como as vilãs Kalipso e Héspera, Lucy Liu e Helen Mirren se esforçam para imprimir alguma personalidade ao texto caricato. Já Zachary Levi mais uma vez se diverte extraindo humor da obviedade da trama.

Membro de um DCEU prestes a ser transformado em DCU por James Gunn e sua equipe, o projeto deixa pontas soltas que podem eventualmente ser exploradas em novos filmes, já que a cena pós-créditos planta uma semente interessante. De todo modo, é difícil não sair do cinema com um sentimento positivo. O filme atinge seu objetivo dentro de sua proposta, o que é bastante, considerando que a concorrência muitas vezes falha no básico.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Crítica: As Múmias e o Anel Perdido (2023)

Dirigido por: Juan Jesús García Galocha. Roteiro de: Javier Barreira e Jordi Gasull. Estrelando: Joe Thomas, Eleanor Tomlinson, Celia Imrie, Hugh Bonneville e Sean Bean.

O longa As Múmias e o Anel Perdido, co-produção entre Reino Unido e Espanha, provávelmente não será lembrado como um marco na história da animação, mas é divertido o suficiente para entreter crianças pequenas. Dirigido pelo estreante Juan Galocha, a animação nao se preocupa em trazer uma trama minimamente plausível, mas poderá agradar o público mais jovem.

O roteiro acompanha as aventuras de três múmias egípcias que, habitando uma cidade subterrânea sob as pirâmides do Egito, acabam indo parar na Londres atual à procura de um anel ancestral, de propriedade da Família Real das Múmias, roubado pelo arqueólogo Lorde Carnaby (Bonneville). O provável apelo que estes personagens terão junto ao público provavelmente justifica o fato de que o longa tenha sido lançado nos cinemas, e não diretamente em streaming.

Não que o filme seja ruim - muito pelo contrário. Ao narrar uma trama ingênua, e bem intencionada, o longa cativa por sua simplicidade. Longe de ser uma animação com o padrão Disney de qualidade, Múmias encanta por suas piadas divertidas, personagens carismáticos e sequências de ação eficientes, como a perseguição de ônibus pelas ruas de Londres.

Dito isto, é possível dizer que As Múmias é um passatempo agradável, e se preocupa em abordar temas como amizade, lealdade e sinceridade, ainda que de maneira superficial. No final das contas, os pequenos devem gostar das músicas e, principalmente, do simpático crocodilo mumificado.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros.

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Grants For Single Moms