sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Crítica: Dois Irmãos (2020)













Dirigido por: Dan Scanlon. Roteiro de: Dan Scanlon, Jason Headley e Keith Bunin. Fotografia de: Sharon Calahan e Adam Habib. Estrelando: Tom Holland, Chris Pratt, Julia Louis-Dreyfus e Octavia Spencer.

Primeiro filme original da Pixar em três anos, Dois Irmãos se passa em um mundo habitado por criaturas míticas, no qual magia é de grande ajuda. Só que praticá-la é relativamente difícil, já que bem poucos têm o dom. Então, ao longo dos anos, a tecnologia começou a ser usada como alternativa mais prática, deixando a magia esquecida.


O roteiro, escrito a seis mãos, acompanha Ian e Barley Lightfoot, irmãos que descobrem uma carta, deixada por seu falecido pai, com instruções para realizar um feitiço que pode trazê-lo de volta por 24 horas. Eles só conseguem, no entanto, conjurar a metade inferior paterna, ou seja, as pernas. Desesperados com o problema, partem em busca de uma gema (um MacGuffin?) que poderá completar o encantamento.


Adotando uma estrutura claramente inspirada em RPGs como Dungeons & Dragons, o projeto retrata as diferentes fases de uma quest de maneira eficiente, explorando bem as habilidades das diversas criaturas. É interessante acompanhar a dinâmica entre os dois irmãos, ainda que esta seja permeada pela pieguice das daddy issues, os complexos envolvendo a figura paterna tão comuns na cultura americana e que, década após década, demonstram ser impossíveis de superar. Tecnicamente perfeitos, como de costume, os animadores da Pixar mostram atenção aos mínimos detalhes, como vento, poeira e, claro, a coerência física, marca registrada das animações do estúdio. Todos os objetos se movimentam de maneira absurdamente crível e fluida, com destaque para um dragão formado por pedaços de concreto.


Mesmo sofrendo em comparação à clássicos como Wall-E, Up ou Monstros S.A., este primeiro longa da Pixar em 2020 (sim, serão dois) faz uso efetivo da fórmula do estúdio, ainda que ela já não empolgue como antigamente. Confesso que, em alguns momentos, senti falta do nó na garganta que eu sabia que os realizadores tentavam provocar. Incluindo algumas referências divertidas, bem como contemporâneo em sua exposição da diversidade, Dois Irmãos mostra uma Pixar que, embora presa a um processo criativo que dá sinais de fadiga, mostra-se disposta a incorporar elementos de outras fontes.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Crítica: O Preço da Verdade - Dark Waters (2019)













Dirigido por: Todd Haynes. Roteiro de: Mario Correa e Matthew Michael Carnahan. Fotografia de: Edward Lachman. Estrelando: Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins, Bill Camp, Mare Winningham e Bill Pullman.

Inpirado num artigo do The New York Times, este thriller ambiental produzido por Mark Ruffalo e dirigido por Todd Haynes (Carol) traz uma mensagem contundente. Ancorado no roteiro eficiente de Matthew Michael Carnahan (Guerra Mundial Z) e na atuação de Ruffalo, o projeto remete a Mal do Século (1995), ao mesmo tempo em que apresenta uma solução diferente para o mesmo dilema.


O roteiro acompanha o advogado Rob Billot, oriundo de um escritório especializado em defender grandes empresas da indústria química. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal, ele descobre que uma das instituições para as quais advoga despeja resíduos tóxicos na região, afetando não só p gado, mas a saúde de boa parte da população.


Discreto em sua direção, Haynes acerta ao ancorar todo esse processo no fazendeiro e sua família. Começando numa perspectiva mais intimista e gradativamente ampliando a escala, o projeto aborda tanto luta individual quanto a de um grupo social contra uma corporação. Ainda que invista em clichês do gênero, como longas exposições e letreiros finais, Dark Waters tem um momento particularmente inspirado, quando a montagem intercala o nascimento do filho de Billot com uma explicação sobre os efeitos colaterais da exposição ao produto.


Atual em sua crítica ao consumo irresponsável e busca cega por conforto, o filme-denúncia de Haynes foi ignorado pela Academia. Mais otimista que em Mal do Século, o cineasta aqui defende que a luta é sempre válida. Combater o sistema pode ser desgastante, mas é necessário.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Paris Filmes.

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