A franquia X-Men foi, ao longo
de dezesseis anos, merecidamente reconhecida como referência no que diz
respeito a filmes de super-heróis. Sem sacrificar a história em detrimento da
ação, os filmes da franquia se arriscam tematicamente sem deixar de ter apelo
comercial.
Dez anos após os
acontecimentos vistos em Dias de Um
Futuro Esquecido, o roteiro acompanha as versões mais jovens dos mutantes,
quando o trio Magneto (Fassbender), Mística (Lawrence) e Xavier (McAvoy) se
reúnem novamente para enfrentar o mutante Apocalipse (Isaac). Mais antigo dos
mutantes, Apocalipse foi reverenciado como um deus no Egito Antigo e agora,
decepcionado com a humanidade, decide eliminá-la.
Extremamente parecido com o
Ronan de Guardiões da Galáxia (a
comparação é inevitável), Apocalipse utiliza maquiagem e figurino pesados que
não permitem que apreciemos as nuances da atuação do ótimo Oscar Isaac. Além
disso, a voz alterada digitalmente o fez soar como um vilão genérico, do tipo
que já pôde ser visto em uns dez filmes.
No elenco mais jovem, os destaques
ficam por conta de Sophie Turner, Jennifer Lawrence e Nicholas Hoult, que
conseguem transmitir com um olhar o que muitos de seus colegas precisariam de
diálogos para passar. McAvoy e Fassbender estão no piloto automático, este
último prejudicado por repetir o arco dramático do tipo erro-queda-redenção que
já se tornou marca de seu personagem em quase todos os filmes da franquia. O
onipresente Wolverine (Jackman), é reduzido a uma simples ponta. Ademais, o
roteiro incomoda pelo excesso de diálogos constrangedoramente expositivos, mas
isso é um pecadilho diante da qualidade do elenco.
Visualmente impressionante
como esperado, o longa investe numa
fotografia dessaturada que evidencia o clima de tensão dos personagens, ao
passo que aqui e ali o espectador atento notará dicas visuais do que irá acontecer
a seguir, como a camiseta roxa que o Prof. Xavier utiliza em certo momento, por
exemplo. As cenas de ação são bem coreografadas, com destaque para a engenhosa
sequência envolvendo Mercúrio (Peters).
Felizmente, Apocalipse consegue retratar o clima dos anos 1980 sem apelar
para o cafona ou fazer referências excessivas. A música do período é utilizada
brilhantemente e a piada envolvendo Retorno
de Jedi (“o terceiro filme é sempre
o pior”) foi simplesmente hilária. Além de alfinetar um filme da própria
franquia, momentos como esse mostram que Bryan Singer sabe ser inteligente sem
se levar a sério demais.
É uma pena que, no terceiro
ato, uma franquia que sempre apostou na riqueza de suas ideias e subtextos em
detrimento do puro entretenimento acabe se rendendo a uma simples luta do bem
contra o mal, que culmina numa resolução apressada que não faz jus aos dois
primeiros atos. Ainda assim, o projeto se solidifica como um forte
entretenimento, em um ano lotado de adaptações de quadrinhos. Resta-nos torcer
para que Bryan Singer continue a injetar energia nessa franquia (talvez a única
do gênero) que nunca apresentou motivos reais para decepções.
OBS.: há uma cena
pós-créditos.
OBS2.: a versão em 3D
é bem pensada, mas acaba por escurecer um filme cuja fotografia já tende ao
acinzentado.
Por Bernardo Argollo
Agradecimentos:
Espaço Z e 20th Century Fox.