quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Crítica: Green Book - O Guia (2018)



Dirigido por: Peter Farrelly. Roteiro de: Nick Vallelonga, Brian Hayes Currie, Peter Farrelly. Estrelando: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini.

Tony Vallelonga (Mortensen, de O Senhor dos Anéis) é um segurança de boate ítalo-americano que, sem emprego, aceita virar motorista de um pianista negro (Ali) em turnê no sul dos EUA, nos anos 1960. O título é uma referência a um guia de viagem que indicava para os afro-americanos os hotéis e restaurantes mais seguros, de modo a evitar "problemas".


Espécie de Conduzindo Miss Daisy com papéis invertidos, o longa toca em questões delicadas ao contrapor a (doce) ignorância de Tony à erudição de Shirley. Após um extenso prólogo no qual estudamos o estilo de vida, os empregos incertos e a dinâmica familiar de Tony, acompanhamos o tour pelo sul dos Estados Unidos. É aí que o roteiro se perde um pouco, falhando em não aproveitar as trocas de cenários típicas do road movie, repetindo situações com uma certa autoindulgência.


Se valendo do selo "história real" para conferir autenticidade a uma série de eventos que, embora bonitos, soam improváveis, Farrelly investe numa fotografia colorida dissociada da temática pesada. Diretor de boas comédias como Quem vai ficar com Mary? e Debi & Loide, ele aborda o material com extrema confiança, de modo que reduzir o filme a um mero esforço documental é, sem dúvida, subestimar a capacidade de seu realizador em contar histórias significativas, tenham sido inspiradas por fatos ou não.


Sem medo de se entregar ao estereótipo do glutão italiano, Viggo Mortensen exibe a presença marcante que o transformou em astro internacional, carregando o filme com segurança absoluta. Já Mahershala Ali, ator igualmente competente, percorre um caminho diferente com seu Dr. Shirley, desconstruindo-o durante a narrativa.


Green Book é divertido, ágil e despretensiosamente tocante. Sensível sem ser piegas, Farrelly sai da zona de conforto ao abraçar outro gênero. Ainda que evite qualquer aprofundamento nas questões que pretende discutir, o filme é um belo retrato da construção da tolerância. A indicação ao Oscar de Melhor Filme é mais do que justa.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Diamond Films.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Crítica: A Favorita (2018)













Dirigido por: Yorgos Lanthimos. Roteiro de: Deborah Davis, Tony McNamara. Estrelando: Olivia Colman, Emma Stone, Rachel Weisz, Nicholas Hoult, Joe Alwyn.

Terceiro filme em inglês do grego Yorgos Lanthimos, A Favorita é um projeto que não teme dividir-se entre a irreverência, o absurdo, o humor e o desconforto. Assim como nos seus dois últimos filmes, Lanthimos não teme incomodar os puritanos com seu humor ácido. Ao contrário de alguns realizadores, que utilizam o choque como um fim em si mesmo, ele demonstra sua visão por meio de uma lógica interna tangível, mas nem sempre óbvia.


Ambientado no início do século XVIII, quando a Inglaterra travava uma guerra com a França, o filme acompanha a rainha Anne (Colman) que, propensa a enfermidades, encontra conforto no auxílio de Lady Marlborough (Weisz). Misto de dama de companhia, amante, governanta e secretária de Estado, Marlborough vê sua posição ser ameaçada pela chegada de uma moça mais nova (Stone), que logo se torna a preferida de Sua Majestade.


A Favorita faz o que é esperado em termos de figurino, maquiagem e design de produção. Vemos em tela o capricho típico de produções de época, que certamente será indicado a vários prêmios. Já a fotografia foge do convencional ao empregar lentes grandes angulares e luz natural, ressaltando o universo tortuoso no qual aquelas figuras vivem (e tornando-as ainda mais vulneráveis). O desenho de som, contudo, foge do tom estritamente histórico ao empregar composições atuais em sua trilha, utilizando também ruídos diegéticos para tornar certas passagens ainda mais inquietantes.


Atriz desconhecida do grande público, a britânica Olivia Colman se junta ao rol de intérpretes que se consagraram interpretando rainhas inglesas. Numa composição impecável, Colman abraça a repugnância daquela mulher com entrega total, de modo a evocar compaixão e nojo simultaneamente, o que não é tafera fácil. De modo semelhante, Stone é capaz de despertar nossa simpatia com performance cheia de nuances. Já Weisz faz um belo trabalho ao criar uma figura que luta pelo poder, carregando na fala e no olhar o ressentimento por ser mulher.


Trazendo ainda uma divertida referência a um de seus trabalhos anteriores, o longa encerra-se com uma nota alta. Certamente, continuará com o espectador após a projeção, despertando reflexões sobre seus simbolismos e ideias, que oscilam entre o humor pastelão e o puro horror.


Por Bernardo Argollo


Agradecimentos: Espaço Z e Fox Searchlight.

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