Em 2013, o malaio James Wan surpreendeu com seu Invocação do Mal. Baseado em fatos
reais, o longa conquistou o público e a crítica com seu roteiro envolvente, boas
atuações e tom angustiante. Eis que, ao contrário de filmes como Pânico e Atividade Paranormal, que deram origem a sequências pavorosas, esta
continuação da história do casal Ed e Lorraine Warren prova que continuações de
terror podem, sim, fazer jus à obra original.
O roteiro acompanha mais um caso documentado pelo
demonologista Ed Warren e sua esposa, a médium Lorraine. Num bairro humilde no
subúrbio de Londres, a família Hodgson percebe que está sendo atormentada por
algum espírito malévolo, e então os protagonistas, que já enfrentam seus
próprios dilemas, são convocados pela Igreja para investigar. Inteligentemente
e sem precipitações, a narrativa começa explorando nossos medos mais primitivos
(escuro, desconhecido, sons inexplicáveis) e daí partindo para ameaças mais
palpáveis.
É aí que começam os acertos do roteiro que, escrito
a oito mãos (o que nunca é um bom sinal), evita situações do tipo “ninguém-acredita-no-que-a-criança-diz”
ou ainda “meus-amigos-pensam-que-estou-louco”, comuns em filmes do gênero.
Assim, a mãe interpretada por Frances O’Connor não demora a aceitar como
verdadeiros os acontecimentos que se desenrolam em sua casa, o que só ajuda a
empurrar a narrativa para frente. Curiosamente coeso para um roteiro que
carrega visões claramente distintas, apenas algumas passagens soam deslocadas,
como os planos inseridos para mostrar a situação econômica do Reino Unido dos
anos 1970.
É sempre louvável quando um filme de terror encontra
tempo para o desenvolvimento dos personagens e da dinâmica entre eles, o que,
em última análise, contribui para a identificação do espectador e fortalece a
atmosfera do filme. Não deixamos, portanto, de torcer por aquelas figuras por
um momento sequer e o temor por seus destinos tem uma intensidade louvável. Assim,
Wan inclui cenas tocantes e de beleza triste, como a versão improvisada de “Can’t
Help Falling in Love”, de Elvis Presley. O longa ainda encontra tempo para uma
inspirada gag física envolvendo o excesso
de peso de um personagem, ainda que o riso involuntário seja logo substituído
por um suspiro de preocupação.
É notável a segurança com que Wan conduz o projeto,
e seu esmero técnico fica patente em diversos momentos, como no complexo plano
sem cortes que acompanha o percurso dos personagens na residência dos Hodgson. A
fotografia, ainda que óbvia, merece aplausos por mergulhar a casa da família em sombras sem torná-la excessivamente escura. A trilha sonora, ainda
que caia no clichê dos acordes altos em momentos-chave, consegue ser eficiente,
ao comentar a narrativa sem tentar guiá-la. Já os efeitos visuais são bastante
eficientes, sem cair no cartunesco ou no excesso de CGI.
Vera Farmiga e Patrick Wilson exibem uma química em
cena ainda melhor do que no filme anterior, e Madison Wolfe, a jovem atriz que
interpreta Janet, a moradora mais afetada pela presença demoníaca, chama atenção
por sua expressividade.
Assim como o excelente The Babadook (2014), Invocação
é um longa aposta numa atmosfera ameaçadora e sombria em detrimento de simples
sustos. Juntando-se ao primeiro filme como belo exemplar do gênero terror, Invocação do Mal 2 é um daqueles filmes
que leva o espectador recém-saído do cinema a refletir sobre o que acabou de
assistir. Afinal de contas, não é para isso que o Cinema serve?
Por Bernardo Argollo
Agradecimentos:
Espaço Z, Warner Bros. Pictures e New Line Cinema.