segunda-feira, 22 de abril de 2024

Crítica: Rivais (2024)

Dirigido por: Luca Guadagnino. Roteiro de: Justin KuritzkesCinematografia de: Sayombhu Mukdeeprom. Estrelando: Zendaya, Josh O'Connor e Mike Faist.

Novo filme do diretor dos ótimos Me Chame Pelo Seu Nome e Suspiria, Challengers provavelmente ficaria restrito a festivais, se não fosse pela presença de Zendaya. A jovem atriz, bastante promissora, tem feito algum esforço para se livrar de papéis colegiais. Seu recente esforço em Duna Parte 2 evidencia sua versatilidade como intérprete.

A trama se alterna entre dois períodos, 2006 e 2019, e acompanha a tenista Tashi (Zendaya), que se envolve num triângulo amoroso com Patrick (O'Connor) e Art (Faist). Talvez "triângulo amoroso" seja uma expressão algo reducionista para descrever a dinâmica entre eles, já que a atração magnética exercida pela garota provoca desdobramentos mais complexos do poderíamos antecipar.

Rodado em película de 35mm, com lente esférica e enquadrado em 1.85:1, o projeto é algo desinteressante em seus aspectos plásticos, a despeito do meio de captura superior. No entanto, destaca-se a sequência em que os personagens são vistos através de certo objeto cênico. O roteiro do estreante Justin Kuritzkes não apela para nenhuma revelação de última hora a fim de justificar a estrutura não-linear, que é complementada de maneira inteligente com uma montagem fluida e trilha sonora inspirada no eurodance.

O projeto consegue articular momentos de tensão, enquanto especula acerca das intenções de sua protagonista. A despeito de certa gordura no segundo ato, o terço final aposta num clímax grandioso e finaliza-se numa nota alta. Não, Zendaya não chega a ser uma "força da natureza", mas é certamente mais interessante do que seus superestimados colegas de Euphoria.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Amazon MGM Studios e Warner Bros.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Crítica: Abigail (2024)

Dirigido por: Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. Roteiro de: Stephen Shields e Guy Busick. Cinematografia de: Aaron Morton. Estrelando: Melissa Barrera, Dan Stevens, Kathryn Newton, William Catlett, Kevin Durand, Angus Cloud, Alisha Weir e Giancarlo Esposito.

Os cineastas Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett possuem bons olhos para identificar clichês e, claro, reutilizá-los. Foi o que fizeram com a franquia Pânico. Agora, a dupla tenta novamente cativar um público já cansado pelas mesmas narrativas, e para isso lançam mão, novamente, de Melissa Barrera. Outro nome que chama a atenção aqui é Dan Stevens, que há poucas semanas atrás estreou em O Novo Império.

O roteiro acompanha um grupo de criminosos que recebe a missão de sequestrar uma garota de 12 anos. O que eles não sabem é que a bailarina é filha de ninguém menos que Drácula. Quem será a final girl do grupo é uma informação que qualquer um que já viu meia dúzia de filmes de terror advinhará logo nas primeiras cenas. O elenco conta também com o já falecido (e fraquíssimo) Angus Cloud, alçado injustamente à condição de ator respeitado pela série Euphoria.

Abigail brinca com quase todos os tropes dos filmes criminais. No entanto, o roteiro peca ao não deixar muito claras quais as regras que regem aquele universo sobrenatural, bem como opta pela rendição a clichês de tramas sobre vampiros. Alisha Weir (do musical Matilda) demonstra muita segurança como a personagem-título, com potencial para ser uma das boas atrizes de sua geração. Já Melissa Barrera, dotada sim de algum talento dramático, pouco tem a fazer com sua personagem, já que o roteiro a obriga a repetir boa parte do que ela fez em Pânico.

Um tanto longo em seus 109 minutos de duração, o projeto prolonga uma história que já não tinha para onde ir, e o terceiro ato se perde em reviravoltas sem sentido. De todo modo, o filme é cativante o suficiente, com piadas eficazes. O projeto misturou gore, slasher, thriller de sequestro, flertou com o terror psicológico e, no final, não se tornou uma bagunça completa, a despeito de ter perdido força. Não dá para dizer que foi ruim.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

domingo, 14 de abril de 2024

Crítica: Guerra Civil (2024)

Escrito e dirigido por: Alex Garland. Cinematografia de: Rob Hardy. Estrelando: Kirsten Dunst, Cailee Spaeny, Wagner Moura, Stephen McKinley Henderson e Nick Offerman.

Alex Garland, roteirista do consagrado 28 Days Later e diretor dos ótimos Ex Machina e Aniquilação, comanda agora o filme mais caro já produzido pela A24. Desta vez, ele aposta não numa ficção científica, mas numa distopia causada pela eclosão de um conflito armado interno nos EUA. Há um trabalho razoável na tensão e urgência do combate, porém não há qualquer debate político ou ideológico. O longa, basicamente, afirma que guerras são ruins porque são ruins e pronto. Longe de mim argumentar contra, mas ressalto que é algo quase tão infantiloide quanto defender a pena de morte com a alegação de "quem mata deve morrer".

O roteiro acompanha a jornada de quatro jornalistas (Dunst, Moura, Spaeny e Henserson) numa viagem de Nova York a Washington, onde a Casa Branca e o presidente (Offerman) estão sitiados pela Forças Ocidentais, sobre as quais o filme não se preocupa em dar mais detalhes. O objetivo do grupo é que o repórter interpretado por Moura consiga entrevistar o presidente, e que as duas fotógrafas (uma novata e outra já consagrada) registrem imagens do conflito. Ao contrário do que pode parecer, haja vista o material publicitário, Guerra Civil não é um filme de ação, mas um road movie dramático.

Um dos pontos positivos é que o roteiro não se envergonha de retratar o fato que, apesar dos pesares, a adrenalina de uma zona de guerra pode sim ser viciante. O projeto, infelizmente, não se interessa em explorar os motivos da contenda e de suas alianças improváveis. Afinal de contas, o que fez com que o Texas e a Califórnia resolvessem se unir? É uma pergunta que certamente será feita por muitos espectadores. Pode-se argumentar que esse não é o ponto do filme, é claro, mas fica difícil imaginar um cenário crível em que os dois estados concordariam em muita coisa atualmente.

A cinematografia de Rob Hardy, realizada digitalmente, abraça a estética plástica deste método de captura, sem tentar emular o celuloide. No entanto, é difícil não observar que uma película com grão marcado provavelmente beneficiaria o projeto. Há belíssimos planos, como o que envolve centelhas à noite e um com brilhante uso do foco envolvendo a personagem de Dunst num campo de flores. O design de produção é eficaz ao conceber parques abandonados e carros depredados, num cenário apocalíptico crível, mas tão desesperador quanto o visto em The Walking Dead.

Guerra Civil está mais preocupado com o choque e estudo de personagem do que em fazer qualquer comentário político. Isso não é um problema per se, mas não deixa de ser o desperdício de uma oportunidade de elaborar ideias sobre um tema relevante. De todo modo, o cineasta é eficaz ao abordar o cinismo parasitário da mídia, em especial dos fotógrafos, decididos a criar obras de arte com o desastre alheio. Em última instância, o projeto nos lembra de que um conflito armado (mesmo sem contexto) raramente vale a pena.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, A24 e Diamond Films.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Crítica: A Primeira Profecia (2024)

Dirigido por: Arkasha Stevenson. Roteiro de: Tim Smith, Arkasha Stevenson e Keith Thomas. Cinematografia de: Aaron Morton. Estrelando: Nell Tiger Free, Tawfeek Barhom, Sônia Braga, Ralph Ineson e Bill Nighy.

The Omen é um filme de 1976 que surfou na onda d'O Exorcista, lançado três anos antes. Inspirado por ele, mas sem imitá-lo, o projeto teve charme suficiente para ganhar muitas continuações, quase todas de gosto discutível. Eis que a Disney, agora dona dos direitos, resolve lançar uma prequel 18 anos após o último filme. A boa notícia é que o resultado não foi tão ruim quanto o que costumamos ver nesse tipo de projeto. The First Omen é ótimo.

O roteiro narra os acontecimentos que culminaram no nascimento de Damien, ninguém menos que o Anticristo. Aqui, acompanhamos Margaret (Tiger Free, de Servant), uma garota americana que, destinada a ser freira, viaja a Roma para prestar seus votos num antigo convento. De repente, a moça se vê envolvida numa trama para provocar o nascimento do Anticristo. Os roteiristas ainda conseguem ser eficientes em fornecer motivações, até plausíveis, para a empreitada.

A narrativa é burocrática em sua estrutura, porém o projeto conta com momentos de força notável, já que os realizadores não caíram na tentação de forçar uma classificação indicativa mais baixa. Há gore suficiente para deixar os fãs da franquia satisfeitos, e realizado de maneira elegante. Sim, existem tropeços eventuais, pois qualquer um que já assistiu a meia dúzia de filmes de terror advinhará a causa mortis de certo rapaz momentos antes que ela se concretize. De todo modo, o longa é magnífico em seus aspectos puramente plásticos.

Apesar de certo abuso de establishing shots, a cinematografia de Aaron Morton é a melhor que vi num terror em muito tempo, apesar das lentes esféricas e razão de aspecto de 1.85:1. Dificilmente esquecerei o belíssimo plano envolvendo um espelho e duas garotas conversando, ou o momento em que um tilting faz com que várias velas, vistas a partir de um ângulo específico, formem os contornos de um olho. Indiscutivelmente (e surpreendentemente), é o melhor terror de 2024 até agora.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e The Walt Disney Company.

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