sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Crítica: Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald (2018)

Dirigido por: David Yates. Roteiro de: J.K. Rowling. Produzido por: David Heyman, J.K. Rowling, Steve Kloves, Lionel Wigram. Estrelando: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Jude Law, Johnny Depp, Ezra Miller, Alison Sudol, Zoë Kravitz. 

Expandindo o universo explorado nos sete livros e oito filmes de Harry Potter, Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016), estabeleceu-se como um interessante capítulo inicial de uma franquia derivada que, conduzida pela fértil imaginação de J.K. Rowling. Inteligente ao apresentar uma história com início, meio e fim, aquele longa deixou pequenas pontas soltas. Dois anos depois, finalmente chegou o projeto destinado a explorá-las. 

O roteiro começa exibindo o que foi feito com Gellert Grindelwald (Depp), agora prisioneiro do Ministério da Magia norte-americano, três meses após os acontecimentos vistos no longa anterior. Numa linda sequência de fuga envolvendo vassouras e testrálios, o bruxo foge para a França, onde vai em busca de Credence (Miller), de modo a utilizar os poderes do obscurial em sua tentativa de provocar uma cisão no mundo bruxo. Desse modo, Newt Scamander (Redmayne) mais uma vez é recrutado para impedi-lo. Isto é, pondo de maneira simplista (mais sobre isso em breve). 

Com mais de vinte novos personagens (pois é), o projeto conta com participação de figuras conhecidas como Dumbledore, McGonagall e até Nicolau Flamel, numa quase ponta inspiradíssima. Os companheiros de Newt reprisam seus papéis de maneira afiada, com exceção talvez de Kowalski (Fogler). Se antes o padeiro representava o próprio espectador, à medida que era inserido naquele universo, agora encontra-se sem propósito. Em 2016, ele servia de alívio cômico, e agora suas piadas destoam do tom mais sombrio da narrativa. 

As quatro linhas narrativas se cruzam de maneira desajeitada, de modo que o longa se mostra mais complexo do que qualquer um dos outros nove filmes do Wizarding World. Dependendo excessivamente de flashbacks, a narrativa se mostra atrapalhada e confusa, fundindo suas subtramas de maneira improvisada num terceiro ato que, apesar disso, funciona bem. Dito isto, sinto-me compelido a acrescentar que, mesmo dando imenso valor a uma boa história e lamentando a tendência dos blockbusters atuais em sacrificá-la em detrimento da ação, creio que Os Crimes de Grindelwald é um projeto que tem mais do que deveria. Tentou dar um passo maior que a perna. 

Mais uma vez irrepreensível visualmente, o longa nos apresenta novas criaturas mágicas, com destaque para o Zouwu, uma espécie de fusão entre gato de Cheshire e dragão chinês, incrivelmente carismático e movimentando-se com absoluto realismo. Como de costume, mudanças nos figurinos auxiliam a demarcar arcos dramáticos. Logo, Queenie (Sudol) passa a vestir tons escuros, ao passo que Leta Lestrange (Zoë Kravitz, sempre apática), é vista de roxo num momento chave. Simultaneamente, exploramos novos cenários, como o requintado ministério da magia francês e um circo mágico. Nele, há uma integrante destinada a se transformar para sempre numa cobra. 

É lamentável, no entanto, que um filme tão inteligente em suas alegorias políticas se mostre tão covarde em outras frentes, insinuando de maneira tímida o óbvio envolvimento romântico entre Dumbledore e Grindelwald. Falando neste, é impossível não compará-lo a outros líderes extremistas do passado, com sua filosofia do "bem maior". Oferecendo uma performance razoável, Johnny Depp consegue nos convencer da força de seu personagem, ainda que para isso invista em sotaque carregado e maneirismos. 

Apesar dos tropeços, a incrível reviravolta do terceiro ato nos coloca para fora da sala ansiosos por mais. Rowling pode até ter falhado no roteiro, mas é uma das maiores escritoras de todos os tempos. Seu talento para conceber um universo envolvente é maior do que suas limitações (temporárias, espero) como roteirista. A magia prevaleceu. 

Por Bernardo Argollo 

Agradecimentos: Espaço Z e Warner Bros. Pictures.

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