sexta-feira, 15 de junho de 2018

Crítica: Hereditário (2018)













Dirigido por: Ari Aster. Roteiro de: Ari Aster. Estrelando: Toni Collette, Gabriel Byrne, Alex Wolff, Milly Shapiro, Ann Dowd.

Alguém se lembra de uma época em que o gênero “terror” ainda não havia se tornado aquele tipo de produto “enlatado” que conhecemos muito bem nos dias de hoje? Filmes como "O Bebê de Rosemary" (1968) e "Carrie, a Estranha" (1976) conseguiam ir além do mero cinema de gênero, graças ao enfoque no mistério (muitas vezes sem violência explícita), na construção das situações, e também no drama dos seus personagens. Logo, é correto afirmar que o filme “Hereditário” (2018), dirigido pelo iniciante Ari Aster, faz parte dessa mesma “família”.

E por falar em família, o longa acompanha uma que precisa lidar com fenômenos potencialmente sobrenaturais, os quais começam ocorrer logo após a morte de sua matriarca. Apesar dessa premissa um tanto simples e pouco inventiva, vale lembrar que, de acordo com a tradição citada inicialmente, “Hereditário” não se rende aos prazeres efêmeros do terror comum. Pelo contrário: temos aqui um investimento lento, gradual, e inesperadamente sufocante... no bom sentido.

A protagonista é Annie Graham, interpretada com versatilidade e absurda intensidade por Toni Collette - e não será surpresa se ela for indicada ao Oscar -, em sua angustiante busca por respostas para o que ocorre na família. Já o marido Steve Graham, interpretado por Gabriel Byrne, representa um contraponto no sentido de aparente serenidade em seus atos e postura. Os filhos Peter e Charlie, interpretados respectivamente por Alex Wolff e Milly Shapiro, são personagens interessantes, multidimensionais e absolutamente funcionais na trama (sem spoilers aqui), cada um à sua forma.

Graças à abrangência em sua abordagem, o filme nos choca de forma genuína em seus sustos, reviravoltas e momentos grotescos, após longas sequências que se alternam entre o mistério e a contemplação masoquista. Quase todos os seus planos, objetos de cena e nuances sonoras (atenção a um simples “klock”!) são úteis, seja no fato de enquadrar tudo aquilo que precisa ser digerido, como também na sensação meio claustrofóbica e macabra que precisamos ter ao longo da experiência.

Apesar de um seríssimo problema de narrativa e ritmo na metade da história, Ari Aster faz do seu “Hereditário” um filme marcante em vários momentos - com destaque para aquele envolvendo um “mero” acidente. Sem contar os simbolismos e rimas relacionados a traumas e tradições familiares, algo que pode render boas discussões após o término da sessão. Por fim, esperemos que essa obra se mostre “hereditária” o bastante no sentido de trazer um novo rumo para indústria do cinema de terror. 


“Klock”!

Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Diamond Films Brasil e PalmStar Media.

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