segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Crítica: mãe! (2017)













Escrito e dirigido por: Darren Aronofsky. Produzido por: Darren Aronofsky, Scott Franklin, Ari Handel. Estrelando: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris, Michelle Pfeiffer.

Mestre em criar experiências viscerais que permanecem com o espectador após este deixar a sala de projeção, o Aronofsky de Réquiem para um Sonho e Cisne Negro apresenta agora uma de suas obras mais perturbadoras. Curiosamente bancado por grande estúdio, mãe! mostra que, felizmente, ainda há espaço para narrativas pouco convencionais numa Hollywood cada vez mais povoada por adaptações, franquias, sequências, prequels, remakes, reboots...

O roteiro acompanha a mulher vivida por Jennifer Lawrence, que se dedica a restaurar a casa em que vive com seu marido, destruída por um incêndio. Quando um misterioso casal (Pfeiffer e Harris) chega de repente, Ele e Ela (seus nomes jamais são revelados), veem sua existência tranquila ser perturbada de formas absolutamente insanas.

Trazendo uma riqueza de simbolismos e ideias similar à de trabalhos anteriores, o realizador mantém o clima de tensão do primeiro ao último frame. Com a câmera sempre próxima ao rosto de Lawrence, nos identificamos imediatamente com esta. Vemos o que ela vê. Sabemos apenas o que ela sabe. Sentimos o desconforto crescente que ela sente. A sensação de que algo está errado é muito intensa, beirando o insuportável, algo que o desenho de som do filme torna ainda mais incômodo.

É bastante provável, contudo, que muitos saiam do cinema querendo uma explicação para o que acabaram de contemplar. Este não é o tipo de filme que se explica, é um filme que se interpreta. E em como toda obra complexa, as interpretações são diversas. Afinal, é isto que torna a Arte tão fascinante.

Dando continuidade à seu fascínio por histórias bíblicas (bem explorado pelo ótimo Noé), Aronofsky, desta vez, constrói algo que pode ser visto como uma alegoria para o paraíso. O escritor (ou melhor, Criador) seria Deus, o casal intruso seria Adão e Eva e a personagem de Lawrence seria a mãe-terra, sempre explorada, estuprada, invadida e desconfortável. E a casa, é claro, com sua pulsação interna, paredes que parecem ter vida própria e força vital que se esvai constantemente, seria o Jardim do Éden.

Além disso, o isqueiro utilizado por certo personagem traz o símbolo Wendehorn, que significa vida e morte. mãe! é o tipo de filme que deixará o espectador incerto sobre o que acabou de assistir. Talvez tenha muitos significados, talvez tenha poucos. Como diria Roger Ebert, não importa sobre o que um filme é, mas como ele é sobre o que é. E esse "como" é a especialidade de Aronofsky.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

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