domingo, 14 de abril de 2024

Crítica: Guerra Civil (2024)

Escrito e dirigido por: Alex Garland. Cinematografia de: Rob Hardy. Estrelando: Kirsten Dunst, Cailee Spaeny, Wagner Moura, Stephen McKinley Henderson e Nick Offerman.

Alex Garland, roteirista do consagrado 28 Days Later e diretor dos ótimos Ex Machina e Aniquilação, comanda agora o filme mais caro já produzido pela A24. Desta vez, ele aposta não numa ficção científica, mas numa distopia causada pela eclosão de um conflito armado interno nos EUA. Há um trabalho razoável na tensão e urgência do combate, porém não há qualquer debate político ou ideológico. O longa, basicamente, afirma que guerras são ruins porque são ruins e pronto. Longe de mim argumentar contra, mas ressalto que é algo quase tão infantiloide quanto defender a pena de morte com a alegação de "quem mata deve morrer".

O roteiro acompanha a jornada de quatro jornalistas (Dunst, Moura, Spaeny e Henserson) numa viagem de Nova York a Washington, onde a Casa Branca e o presidente (Offerman) estão sitiados pela Forças Ocidentais, sobre as quais o filme não se preocupa em dar mais detalhes. O objetivo do grupo é que o repórter interpretado por Moura consiga entrevistar o presidente, e que as duas fotógrafas (uma novata e outra já consagrada) registrem imagens do conflito. Ao contrário do que pode parecer, haja vista o material publicitário, Guerra Civil não é um filme de ação, mas um road movie dramático.

Um dos pontos positivos é que o roteiro não se envergonha de retratar o fato que, apesar dos pesares, a adrenalina de uma zona de guerra pode sim ser viciante. O projeto, infelizmente, não se interessa em explorar os motivos da contenda e de suas alianças improváveis. Afinal de contas, o que fez com que o Texas e a Califórnia resolvessem se unir? É uma pergunta que certamente será feita por muitos espectadores. Pode-se argumentar que esse não é o ponto do filme, é claro, mas fica difícil imaginar um cenário crível em que os dois estados concordariam em muita coisa atualmente.

A cinematografia de Rob Hardy, realizada digitalmente, abraça a estética plástica deste método de captura, sem tentar emular o celuloide. No entanto, é difícil não observar que uma película com grão marcado provavelmente beneficiaria o projeto. Há belíssimos planos, como o que envolve centelhas à noite e um com brilhante uso do foco envolvendo a personagem de Dunst num campo de flores. O design de produção é eficaz ao conceber parques abandonados e carros depredados, num cenário apocalíptico crível, mas tão desesperador quanto o visto em The Walking Dead.

Guerra Civil está mais preocupado com o choque e estudo de personagem do que em fazer qualquer comentário político. Isso não é um problema per se, mas não deixa de ser o desperdício de uma oportunidade de elaborar ideias sobre um tema relevante. De todo modo, o cineasta é eficaz ao abordar o cinismo parasitário da mídia, em especial dos fotógrafos, decididos a criar obras de arte com o desastre alheio. Em última instância, o projeto nos lembra de que um conflito armado (mesmo sem contexto) raramente vale a pena.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, A24 e Diamond Films.

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