segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Crítica: Som da Liberdade (2023)

Dirigido por: Alejandro Monteverde. Roteiro de: Rod Barr e Alejandro Monteverde. Fotografia de: Gorka Gómez e Andreu Aec. Estrelando: Jim Caviezel, Mira Sorvino e Bill Camp.

Finalmente o filme independente mais polêmico de 2023 veio para os cinemas brasileiros. Exemplo clássico de "sleeper hit" (lançamento morno que ganha notoriedade posteriormente), a ficção dirigida pelo mexicano Alejandro Monteverde retrata as memórias do ex-agente da CIA Timothy Ballard, pai de nove filhos (aparentemente, ele faltou a aula de planejamento familiar) e também mórmon, claro. Antenado aos problemas sociais, o rapaz abdica da profissão estável e da família anacronicamente numerosa, colocando a própria vida em risco para combater o crime e as forças do mal.

Ainda que a construção arquetípica do personagem e seus impulsos force a Suspensão da Descrença (nem o Capitão América é tão divino), os produtores acertaram na escolha do intéprete. Ator outrora considerado promissor, mas cuja estupidez o tornou irrelevante, Jim Caviezel foi merecidamente ostracizado em Hollywood. Dono de algum talento dramático, mas portador de notória deficiência intelectual, o americano ficou relegado a produções questionáveis há vários anos. Depois de resgatar um menino de uma quadrilha de tráfico de crianças, seu personagem se transforma em vigilante e Batman tropical, investindo numa missão arriscada para resgatar centenas de jovens raptados.

Vale lembrar, no entanto, que os acontecimentos do roteiro diferem significativamente dos relatos do próprio Ballard. Não que isso seja desabonador per se, pois a obra cinematográfica deve se sustentar sozinha e não tem obrigação de reproduzir cada detalhe do material fonte. De acordo com a narrativa o ex-agente, ele nunca adentrou uma floresta sozinho para resgatar a garota, tampouco matou um homem nesse processo. Além disso, a Operação Triple Take envolveu tanto menores quanto adultos, ao passo que o filme retrata todas as vítimas como crianças. Claro que todo tipo de adaptação pode (e deve) ser feita em benefício da narrativa. Dessa forma, mesmo admirando a força emocional de certas passagens, o fato é que a inclusão delas sugere motivações absolutamente escusas, ou simplesmente cínicas.

Conspiracionista em seu cerne, o longa não funciona nem como filme de ação, nem como de espionagem, nem mesmo como uma espécie de dossiê ficcional/pseudodocumentário. Ainda que tente capturar o horror do tráfico humano, as controvérsias do projeto conseguem eclipsar o esforço. Ao mesmo tempo que evita passagens mais explícitas que o impediriam de se tornar mainstream, o longa é curioso o suficiente para despertar o interesse de espectadores comuns, o que certamente contribuiu para a bilheteria vultosa (com investimento financeiro mínimo). E como não apreciar uma boa bilheteria? Aparentemente, ela fez com que os anti-sistema se rendessem a ele, já que há boatos sobre uma continuação. Pois é.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Paris Filmes.

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