Dirigido
por: Joe Wright. Produzido por: Tim Bevan, Eric Fellner, Paul Webster. Roteiro
de: Tom Stoppard. Estrelando: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson, Kelly
Macdonald.
Tentando usar a forma e o
estilo como recurso para conferir autenticidade e tornar interessante sua
versão do famoso romance de Leo Tolstoy (que não li), o cineasta Joe Wright
apresenta um experimentalismo estético indubitavelmente eficaz e belo, mas
indiscutivelmente vazio. A criativa e ao mesmo tempo excessiva teatralidade
distancia o público da história, não permitindo que nos envolvamos
verdadeiramente com aquelas figuras nem por um segundo.
Colaboradora habitual de
Wright, Keira Knightley dessa vez surge como a rica socialite Anna Karenina que em 1874, na Rússia Imperial, vive um
frio casamento com Alexei Karenin (Jude Law). Ao conhecer o oficial da
cavalaria Alexey Vronsky, Anna se envolve em um romance sem precedentes que
mudará irreversivelmente o curso de sua vida.
Anna
Karenina já tem início assumindo sua condição de ópera over ao abrir uma cortina e revelar de
cara o cenário onde a história será encenada. Assim, é razoável perdoar certos
exageros de Wright (como os personagens secundários unidimensionais) que, de
certa forma, não se intimida em ter concebido uma produção para externar todo
tipo de fantasia estética. O que vemos, portanto, é um exercício criativo
composto por cenários feitos de palcos, cortinas e bastidores teatrais.
Se a natureza operesca
disfarça o fato de estarmos diante de uma Rússia onde todos falam inglês, não
consegue imprimir dramaticidade ao fraco roteiro de Tom Stoppard. Com muita
pose e pouca ação, o roteiro jamais deixa claro o porque de Karenin aceitar
passivamente a relação extraconjugal de sua esposa, ao passo que a introspecção
de Vronsky (Taylor-Johnson) jamais permite que o conheçamos um pouco melhor, o
que dificulta a relação do público com o longa.
Funcionando pelo menos como
templo para externar as fantasias de seu diretor, a produção é visualmente
memorável. A montadora Melanie Oliver faz um trabalho simplesmente genial,
criando transições elegantíssimas, muitas vezes realizadas dentro da própria
sequência. O trabalho conjunto da montagem de Oliver e da fotografia de Seamus
McGarvey é admirável, como no momento que mostra o personagem de Jude Law
rasgando uma carta cujos pedaços se convertem em flocos de neve, funcionando
brilhantemente. E o que dizer do magnífico plano em que Anna se olha no espelho
em um baile e, refletido, vemos o trem se aproximando? Anna Karenina é uma verdadeira aula para os montadores brasileiros
que, a julgar pelo trabalho que fazem (em sua maioria), parecem ter visto
apenas um ou dois filmes na vida.
Sendo uma excepcional integração entre duas diferentes linguagens artísticas, é notório que as intenções dos realizadores merecem crédito. Anna Karenina decepciona por ser justamente isso, um esforço estético. Nada mais. Dizer que ele é fiel ao livro não é argumento, pois a obra cinematográfica existe independente da literária e deve se sustentar sozinha. Aliás, se tivesse o bom senso de se reconhecer como um romance-bobagem, o longa seria mais uma besteira bem realizada, mas ao levar-se a sério (como comprova o terceiro ato) acaba forçando o espectador a enxergá-lo como o que é: um experimentalismo cujos conceitos vão ser melhor aproveitados mais tarde.
Por Bernardo Argollo
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