Dirigido por: Duncan Jones. Roteiro de: Duncan Jones, Charles Leavitt. Produzido por: Thomas Tull, Jon Jashni. Estrelando: Travis Fimmel, Ben Foster, Paula Patton, Dominic Cooper, Toby Kebbell.
Eis que, quase uma década depois
de começar a ser idealizado, Warcraft
– O Primeiro Encontro de Dois Mundos,
sai do papel. Tendo dado origem a quadrinhos, livros e outros derivados, World of Warcraft é uma bem-sucedida
série de videogames que, apostando num universo fantasioso ao mesmo tempo
original e familiar, conquistou legiões de fãs e o interesse de hollywood ao
longo de vinte e dois anos. O resultado foi, no mínimo, irregular.
Dirigido pelo novato Duncan
Jones, o filme se passa no universo fantástico de Azeroth, concentrando sua
narrativa sob a perspectiva do orc Durotan (Kebbell), que luta para proteger
sua família e de Lothar (Fimmel), general humano que também visa defender seu
povo. A trama cobre basicamente os eventos iniciais do jogo, mostrando como
começou a rivalidade entre as diversas raças.
É justamente aí que reside o
maior problema do projeto que, ávido para agradar aos fãs, simplesmente vomita
conceitos sem o devido desenvolvimento. Dessa forma, o espectador que não teve
nenhum tipo de contato com o material fonte terá sérias dificuldades em entender
as regras e vicissitudes daquele universo, o que é totalmente absurdo, já que
uma obra cinematográfica deve se sustentar por si mesma. Assim como as fãs da “saga”
Crepúsculo, que argumentavam dizendo
que “não gostou do filme porque não leu o livro”, certamente fãs do videogame
dirão que “não gostou porque não jogou”. Assim como Cinema não é literatura,
também não é videogame. Novos tempos, velhos dilemas...
As figuras ali presentes,
contudo, são razoavelmente interessantes e conseguem sustentar o projeto. Não
duvidamos por um momento sequer da dedicação de Durotan à sua família, assim
como o conflito interno da orquisa Garona (Patton) nunca deixa de soar
convincente. É uma pena que Travis Fimmel, ator que, de um modo geral, admiro,
apresente uma composição absolutamente idêntica à que usa no Ragnar Lothbrok da
série Vikings, o que só limita o
potencial dramático do personagem. Os demais personagens são unidimensionais e,
portanto, jamais tememos pelos seus destinos. A morte de certo soldado, cuja
identidade não revelarei, deveria ter forte impacto emocional, mas acaba sendo
inócua.
Visualmente impressionante
como esperado, o longa investe em cenários grandiosos - meu favorito é o prédio
inspirado na Basílica de Santa Sofia - e figurinos eficientes, embora
excessivamente artificiais. Como todo projeto que depende pesadamente de CGI,
os efeitos visuais ora são convincentes, ora cartunescos. Assim, cenas de ação
carecem de fisicalidade e alguns personagens incomodam pelos olhos sem vida,
comuns em criaturas digitais. Como algumas delas remetiam a Labirinto (1986), não deixa de ser
interessante especular o que o mestre Jim Henson seria capaz de fazer com um
projeto desses.
A fotografia investe em cores marcantes, que se contrapõem à tonalidade sombria presente em quase todos
os épicos de fantasia. A versão 3D (convertida) é razoável, com boa
profundidade e sem cometer o pavoroso erro de atirar objetos em direção ao
espectador. O diretor de fotografia Simon Duggan, porém, utiliza recursos adequados
somente ao 2D, como a mudança brusca de foco e profundidade de campo mínima.
Deixando diversas pontas
soltas, que deverão ser amarradas em possíveis continuações (como o preguiçoso subtítulo prenuncia), Warcraft
é suficientemente eficaz para agradar o espectador casual e ainda mais os
fãs do jogo. Mesmo assim, acaba se parecendo demais com o que realmente é, um Senhor dos Anéis água-com-açúcar e bem menos envolvente. A comparação pode ser injusta, talvez, mas é derradeira e
inevitável.
Por Bernardo Argollo
Agradecimentos:
Espaço Z e Universal Pictures.
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