sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Crítica: E o Vento Levou (1939)













“As God is my witness, as God is my witness they're not going to lick me. I'm going to live through this and when it's all over, I'll never be hungry again. No, nor any of my folk. If I have to lie, steal, cheat or kill. As God is my witness, I'll never be hungry again.”

Título original: Gone with the Wind. Dirigido por: Victor Fleming, Sam Wood e George Cukor. Produzido por:  David O. Selznick. Roteiro de: Sidney Howard. Montado por: Hal C. Kern, James E. Newcom. Fotografia de: Ernest Haller, Lee Garmes. Música de: Max Steiner. Estrelando: Clark Gable, Vivien Leigh, Leslie Howard, Olivia de Havilland, Hattie McDaniel, Butterfly McQueen.

Passaram-se 73 anos. E mesmo os indivíduos de repertório mais limitado já ouviram falar de uma tal de Scarlett que, com Deus por sua testemunha, jurou que nunca mais passaria fome novamente. Hollywood sempre foi hábil ao criar produções que atinjam a todos os públicos, ultrapassando as barreiras do tempo, marcando gerações e maximizando os lucros.


Maior bilheteria da história (corrigida pela inflação), E o Vento Levou acompanha a jornada de Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) e seus encontros e desencontros amorosos incluindo Ashley Wilkes (Leslie Howard) e Rhett Butler (Clark Gable). Quando estoura a Guerra Civil Americana (1861-1865), vê-se a desconstrução do universo da moça e sua posterior reconstrução, constituindo uma tocante história de superação. Tudo isso embalado por uma trilha sonora memorável.


Frequentemente exibido (com cortes) na programação noturna de emissoras, esse longa de quase quatro horas consegue, mesmo na contemporaneidade, manter o espectador atento. Ainda que excessivamente romântico, o roteiro acerta por articular personagens principais complexos com personagens secundários unidimensionais (ou seja, totalmente bons ou totalmente maus). O recurso é útil, pois torna a narrativa universal, atingindo ao máximo possível de espectadores e propondo discussões acerca das atitudes ambíguas das personagens centrais.

Há um cuidado admirável na concepção dos figurinos e cenários. Scarlett começa vestindo branco, logo no primeiro ato. Depois usa variadas cores, como verde e vermelho, simbolizando, respectivamente, esperança e pecado. E, finalmente, finda a narrativa de preto. Se o uso de tais cores tão explicitamente em situações-chave não soa sofisticado como linguagem, é louvável por explorar um recurso incipiente para a época (a cor).


O apuro técnico também pode ser sentido na cena do incêndio em Atlanta. Num período em que não havia CGI e sequer chroma key, os produtores não tiveram outra opção senão criar um verdadeiro incêndio. Matéria-prima? Os cenários de King Kong (1933). Mas é realmente lastimável que um filme desses tenha sido feito na era do cinema 4x3 (1.37:1). Em várias cenas, ele “grita” por uma razão de aspecto maior, obrigando os diretores a serem bem óbvios em suas composições de quadro enquanto poderiam ser mais sutis.

Outra característica que não sobreviveu ao avanço do cinema e da linguagem cinematográfica foi a estrutura de ópera em que E o Vento Levou se apóia. Com direito a overture, intermission, entr’acte e exit music. Talvez por ser mais adequada a apresentações não-projetáveis, tal construção soa, hoje, deslocada e desinteressante.

Em meio à trilha sonora evocativa e ao excesso de fade-outs, há um enfoque na questão da ligação do homem com a terra (com letra minúscula mesmo). Tais valores são endeusados pela obra, pois, afinal, a terra é a única coisa que restou para a personagem principal, é dela que ela deve tirar força para continuar vivendo. Assim, esse filme eterno passa sua mensagem há mais de sete décadas.


Por Bernardo Argollo

All the frames used here belong to Blu-ray.com and Warner Brothers.

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