terça-feira, 3 de abril de 2018

Crítica: Um Lugar Silencioso (2018)













Dirigido por: John Krasinski. Roteiro de: Bryan Woods, Scott Beck. Estrelando: Emily Blunt, John Krasinski, Noah Jupe, Millicent Simmonds, Cade Woodward.

Em uma era dominada por filmes de suspense que estabeleceram o barulho (repentino ou não) como um atrativo obrigatório, já era de se esperar que o som se tornasse cada vez mais genérico nesse nicho, juntamente com vários outros clichês que permeiam a maioria das obras recentes do gênero. Seria este também o caso do filme “Um Lugar Silencioso”, dirigido pelo ainda iniciante John Krasinski? Para a nossa surpresa, temos aqui uma guinada no sentido contrário...

Na história, a família Abbott se encontra nos arredores de uma pequena cidade, em uma realidade (aparentemente mundial) dominada por criaturas assassinas que, apesar de cegas, possuem extrema agilidade, força, e uma capacidade absurda de detecção de sons. O filme apresenta tal premissa de forma direta e sem qualquer cerimônia (logo, não há spoilers aqui), o que também deixa claro que estamos assistindo a uma obra “de gênero”, a qual se mostra isenta de qualquer grandiosidade autoindulgente e filosófica.

O excepcional trabalho de imersão realizado por Krasinski nos coloca no meio desse novo tipo de ambiente apocalíptico, através de enquadramentos convenientes para cada situação, além do foco constante em cada minúsculo som (um deleite à parte, diga-se de passagem) que se apresenta nas situações em que o silêncio é fundamental para a sobrevivência dos personagens. O resultado seria ainda melhor se não houvesse uma trilha sonora tradicional que nos prepara para alguns dos sustos, o que não deixa de ser apenas um pecadilho no meio de uma premissa que é carregada de tensão natural.

Ainda na contramão da maioria das obras de suspense, o diretor entrega personagens muito bem desenvolvidos – incluindo um comovente arco para uma pessoa que possui pouquíssimos minutos em tela. Somos levados a “abraçar” cada membro “de poucas palavras” daquela família, com destaque para o estratégico pai (interpretado pelo próprio diretor), a intensa e resistente mãe (Emily Blunt), e a filha surda-muda (Millicent Simmonds) que nos traz perspectivas diferenciadas - inclusive a nível narrativo do próprio filme - sobre tudo o que acontece por ali.

Com uma galeria de cenas que se tornam inesquecíveis pela subversão do uso de sons - o que também transforma várias atividades e incidentes “barulhentos” do dia-a-dia em casos de vida ou morte -, “Um Lugar Silencioso” não se contenta apenas com a criatividade natural do seu roteiro, mas também flerta com valores de produção que permanecem no nosso imaginário após os seus corridos 90 minutos. Quando o roteiro e os personagens de um suspense são envolventes com tão pouco, basta que o espectador se entregue ao “lugar”... e em silêncio.


Por Fábio Cavalcanti

Agradecimentos: Espaço Z e Paramount Pictures.

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