„Der Ball ist rund. Das Spiel dauert 90 Minuten.“
Título
original: Lola Rennt. Dirigido por: Tom Tykwer. Produzido por: Stefan Arndt.
Roteiro de: Tom Tykwer. Estrelando: Franka Potente, Moritz Bleibtreu.
Corra
Lola, Corra é um filme, no mínimo, pouco usual. Diferente do estilo
alemão tradicional e cercado de personagens carregados de problemas ou com
fortes dilemas pessoais, a película do cineasta Tom Tyker não se intimida em
ousar. Assim, vê-se uma narrativa envolvente mergulhada num estilo marcante e
expressivo.
Mistura de Adrenalina e Morto ao Chegar, mas com um controle de ritmo superior, o roteiro acompanha
a jornada de Lola, a filha de um bem-sucedido bancário. Extravagante em seu
visual e “rebelde” em suas atitudes, a moça tem um namorado, digamos,
encrenqueiro. Manni, interpretado pelo ótimo Moritz Bleibtreu, faz parte de uma
quadrilha e carregava uma bela quantia de dinheiro do bando, que estava
testando sua confiança. Após perder o dinheiro em um trem da cidade, o rapaz liga,
desesperado, para sua namorada, que começa uma eletrizante corrida, tendo como
objetivo conseguir 100.000 marcos em aproximadamente vinte minutos.
O roteiro inteligentíssimo
inicia-se criando uma poderosa analogia entre sua narrativa e as fases de um video
game, quando a frase que T.S. Elliot (que não revelarei) é substituída por um
relógio implacável, marca visual da narrativa, e por uma animação que explicita
o tom surreal daquilo que estamos prestes a assistir. A fusão entre os
elementos funciona perfeitamente. Abordando com maestria a dinâmica das
relações modernas, o roteiro ainda encontra tempo para incluir flashforwards mostrando o destino de
certas pessoas que cruzam, ao acaso, o caminho da protagonista.
Sem dúvida o mais poderoso
elemento temático da obra, o acaso, surge como mais que um mero produtor de acontecimentos.
É simplesmente genial a forma com a qual os realizadores mostram que pequenas
mudanças aleatórias de conduta podem acarretar significativas alterações no
futuro. Tudo isso embalado por uma trilha tecno
que estabelece o clima frenético. E se eu fizesse isso? E isso? E isso?
Em todos os três “episódios”
Lola consegue o dinheiro e o deposita em bolsas. No primeiro, em bolsas
vermelhas. No segundo, o dinheiro do assalto ao banco do pai é colocado em uma
bolsa verde. No terceiro, o dinheiro do cassino é colocado numa bolsa amarela.
É uma metáfora visual que utiliza as cores do semáforo: pare, siga e preste
atenção. Ou seja, a primeira corrida é a corrida da insensatez, do desespero e
da submissão, a segunda é a da atitude, do desafio e do enfrentamento. E,
finalmente, a terceira corrida é a da inspiração divina e da atuação de forças
sobrenaturais. O diretor dá uma pista de como devemos encarar cada episódio
através das cores.
As escolhas de cor e a
fotografia do incrível Frank Griebe não só estabelecem o clima da história e o
estado de espírito dos personagens, como mergulham deixam o espectador tenso e
ansioso. A cor vermelha se faz presente todo o tempo (desde o telefone que Lola
atende no início da projeção até seus próprios cabelos), servindo como um
verdadeiro combustível visual para a protagonista. Até que atinge seu ápice nas
dream sequences, quando vemos Lola e
Manni decidindo entre viver ou morrer em uma fotografia extremamente
avermelhada. Quanto ao cabelo de Lola, é impossível vê-la correndo e não se
lembrar de um portador da tocha olímpica.
A montagem, obviamente, é
frenética e, assim como a fotografia, atira para todos os lados. Cortes secos,
interpolações com animações, telas divididas, etc. Esse último recurso é útil
ao confrontar o universo de Lola, vermelho em essência, com o de Manni,
dominado pelo amarelo. A cabine telefônica de onde Manni faz sua derradeira
ligação é amarela. Assim vemos dois personagens com aspirações e atitudes
diferentes. Lola é quem vai atrás e Manni é quem fica parado esperando. Ele sabe que alguém resolverá as coisas para ele. Como
diria a especialista em cores Patti Bellantoni, vermelho é a cor que te chama,
o amarelo, por sua vez, é a cor que vai até você. Lola é provocada pelo vermelho,
Manni é estagnado pelo conforto do amarelo.
A mais intrincada ideia que
permeia a película é, contudo, a presença constante das espirais. Lola parece
estar sofrendo um aprimoramento como ser humano, desde a sua morte trágica até
o momento que, como um anjo, salva um homem numa ambulância com um simples
toque. A cada episódio, Lola estaria num estágio superior como ser humano. Na maquiagem
e fotografia, espirais são recorrentes. Na apresentação dos créditos, no início
da cada corrida, no ornamento na porta de seu prédio. Até movimentos de câmera
em espiral são realizados pelo diretor, como no plano onde a mãe de Lola fala
ao telefone, onde um percurso em espiral transporta para a TV, que contém o
plano em animação. Até o nome do prédio de onde se encontra a cabine telefônica
de onde Manni liga para Lola é Spiralle.
Jovem clássico da história
do Cinema, Corra Lola, Corra é um
marco na história do cinema alemão e uma verdadeira revolução que influenciou
muitas obras posteriores. A dupla Neveldine e Taylor que o diga.
Por Bernardo Argollo
OBS.: As duas referências a Vertigo, de Hitchcock, são
divertidíssimas.
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