“You're capable of more than you know...”
Título original: Oz - the Great and Powerful. Dirigido por: Sam Raimi. Produzido por:
Joe Roth. Roteiro de: David Lindsay-Abaire. Montado por: Bob Murawski.
Fotografia de: Peter Deming. Música de: Danny Elfman. Estrelando:
James Franco, Mila Kunis, Rachel Weisz, Michelle Williams, Zach Braff, Joey
King, Tim Holmes.
Assim
como fez em Alice no País das Maravilhas,
a Disney parece mesmo decidida a revisitar grandes clássicos e, ocasionalmente,
diluir as questões neles discutidas e as vicissitudes abordadas. Comandado por
Sam Raimi que, após um hiato de quatro anos, volta a dirigir, este longa
irregular surge como mais um item de qualidade discutível na sua já inconstante filmografia.
Baseado
nas obras de L. Frank Baum, o filme começa em 1905, onde o ilusionista Oscar
Diggs sobrevive trabalhando como ilusionista em um circo itinerante no
estado americano do Kansas. Quando uma tempestade atinge o circo, Oscar escapa
em um balão de ar quente e vai parar na terra de Oz, onde uma profecia já
previa sua chegada.
Limitado
juridicamente por não poder usar informações contidas justamente no livro que
deu origem ao maravilhoso musical da MGM (e agora da Warner), o longa
adequadamente inclui homenagens à obra cinematográfica que se tornou marco
inquestionável na história do cinema. Ainda assim, o início em preto e branco e
em razão de aspecto 4:3 soam adequados, mas apenas repetem uma fórmula e são
indubitavelmente óbvios.
Contando com um ótimo design de produção, aliado a um potente processamento digital da
imagem, o filme apresenta efeitos visuais irregulares. Enquanto criaturas como
o macaco alado Finley e a boneca de porcelana são totalmente convincentes, os
babuínos parecem ter sido feitos no fim da década de 90, empalidecendo
diante dos outros. Outro aspecto a ser considerado é a interação
precária dos personagens em CGI com os atores, como nos planos em que as mãos
dos atores tocam a boneca, no terceiro ato.
A
trilha sonora de Danny Elfman (do excelente O
Estranho Mundo de Jack) é apenas burocrática, sendo eficiente em alguns
momentos e totalmente dispensável em outros. A mixagem de som é boa e
impactante, ajudando a disfarçar uma narrativa indiscutivelmente repetitiva e
irregular. Eventos como o “quase número” musical quebram o ritmo da narrativa e
aparecem justo num momento que deveria ser tenso.
Mesmo que a lógica visual seja óbvia e, infelizmente, tenha que inspirar-se na de 1939, o diretor de fotografia Peter Deming cria conceitos interessantes (como as flores de pedra se abrindo) e inclui alguns trocadilhos divertidos (“China Town”). Contando com boas piadas pontuais, o longa peca nos diálogos excessivamente expositivos, ainda que com momentos inspirados (“mágica engarrafada”). Não dá pra esperar muito mais de uma obra que, em pleno 2013, aposta na oposição entre a “bruxa boa” e a “bruxa má”, resultando numa história esquemática e maniqueísta. Ainda assim, temos que reconhecer que os personagens são óbvios, mas não unidimensionais.
Mesmo que a lógica visual seja óbvia e, infelizmente, tenha que inspirar-se na de 1939, o diretor de fotografia Peter Deming cria conceitos interessantes (como as flores de pedra se abrindo) e inclui alguns trocadilhos divertidos (“China Town”). Contando com boas piadas pontuais, o longa peca nos diálogos excessivamente expositivos, ainda que com momentos inspirados (“mágica engarrafada”). Não dá pra esperar muito mais de uma obra que, em pleno 2013, aposta na oposição entre a “bruxa boa” e a “bruxa má”, resultando numa história esquemática e maniqueísta. Ainda assim, temos que reconhecer que os personagens são óbvios, mas não unidimensionais.
Apresentando
conceitos interessantes sem jamais explorá-los ou explicar suas origens, o
longa deixa o espectador carente de informações sobre momentos importantes.
Assim, jamais ficamos sabendo o porquê das lágrimas que queimam ou da real
motivação por trás da maçã verde dada por Evanora (Weisz) a sua irmã Theodora
(Kunis), elemento que, inteligentemente, usa a cor verde para conotar esperança
quando, posteriormente, essa mesma cor deixará clara a doença e perversão de
uma personagem ao habitar sua pele.
É realmente uma pena que a composição visual de Theodora (quando transformada na
bruxa má do Oeste) seja tão óbvia e clichê, praticamente trazendo de volta o
que viu-se em 1939. Além disso, os efeitos especiais e visuais utilizados em
sua caracterização soam completamente artificiais, falhando totalmente em
estabelecer a personagem como uma vilã a ser temida (coisa que a excelente
maquiagem do musical de 1939 conseguiu sem hesitação). Por mais que Mila Kunis
tenha se esforçado em sua atuação, sua personagem fica ridícula e boboca ao
tornar-se a Bruxa Má, parte pela nossa época (obviamente que usar a mesma
configuração estilística de sete décadas atrás não ia funcionar em 2013) e pela
criação visual incompetente da equipe de efeitos visuais (lembre-se do ótimo Davy
Jones, da franquia Piratas do Caribe,
e compare seu apuro técnico com o da Bruxa Má).
Por outro lado, Raimi foi inteligente e elegante ao não apresentar a nova figura de Theodora logo de cara, fazendo com que o espectador depare-se primeiro com
sua sombra, numa cena bem executada e eficiente. O 3D usado no filme tem alguns
momentos inspirados, mas infelizmente cai na estupidez e na vulgaridade de
atirar objetos na cara do espectador. Quanto à batalha entre Glinda e Evanora no
terceiro ato, não tenho muitos comentários, a não ser que acredito já ter visto
raios de magia se encontrando e destruindo o cenário em algum lugar, só não
lembro onde...
Apesar
de alguns furos no roteiro, da atuação fraca de James Franco e do maniqueísmo
que permeia toda trama, temos um filme realmente simpático e que não ofende o
espectador. Com seu final operesco adequado, o Oz de Sam Raimi homenageia o original e mostra que a verdadeira
magia está em utilizar os próprios conhecimentos na construção de objetos úteis,
e não em criar bolhas de sabão voadoras.
Por
Bernardo Argollo
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