quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Artigo | O formato CinemaScope e a evolução das razões de aspecto na história do cinema


Nesse primeiro artigo, decidi falar sobre o formato que homenageei com o nome deste blog, e consequentemente sobre as razões de aspecto do cinema e sua evolução. CinemaScope foi uma tecnologia de captação e projeção criada pela 20th Century Fox e utilizada entre 1953 e 1963. O processo utiliza lentes anamórficas ao invés das esféricas (sobre as quais falarei posteriormente) e seu nome (CinemaScope ou simplesmente ‘Scope) acabou se tornando um jargão cinematográfico amplamente usado por produtores, projecionistas e críticos, se referindo, hoje em dia, às razões 2,35:1 ou 2,39:1.

Propaganda do filme The Robe (1953) e do formato CinemaScope.
Uma lente de captura anamórfica.












Uma breve explicação sobre razões de aspecto: como a imagem cinematográfica é limitada e bidimensional, ele é enquadrada num retângulo que precisa seguir uma proporção, essa proporção é a razão de aspecto. Em um filme de razão 1,33:1 (lê-se: 1,33 por 1), por exemplo, a largura do retângulo é 1,33 vezes maior que a altura. Embora o sistema de lentes do CinemaScope hoje esteja obsoleto, o formato criado por ele perdura até a contemporaneidade.


A evolução e o desenvolvimento das mais variadas razões de aspecto foi causada por um motivo análogo ao que fomenta o desenvolvimento da tecnologia e da linguagem 3D. No início da década de 50, Hollywood estava em pânico. A televisão crescia assustadoramente e o número de pessoas que ia ao cinema diminuía, juntamente com as ações antitruste do governo americano que abalavam a indústria cinematográfica. Era preciso apresentar algo novo, único, algo pelo qual valesse a pena sair de casa, que só o cinema oferecesse. Essa foi a época das produções caríssimas e suntuosas, das primeiras experiências com 3D, do som estereofônico e do advendo do widescreen (em português, tela larga). Tal mudança, adotada pela televisão há poucos anos (evidenciando o atraso desta em relação ao cinema), mudou para sempre a história do cinema, ampliando o campo de visão e as possibilidades da linguagem cinematográfica.

Frame de O Mágico de Oz (1939)
Observe o ganho de campo de visão em relação ao formato antigo.

Dificuldades técnicas determinaram o fim do 3D, mas não dos processos rivais Cinerama e CinemaScope (numa concorrência semelhante à do Blu-ray com o HD-DVD entre 2006 e 2008). O processo CinemaScope consistia basicamente no uso de uma lente anamórfica (palavra que vem do grego e significa “formado novamente”), que deformava a imagem de modo a fazê-la caber na película de aspecto 1,37:1 sem perda de área de registro (e de qualidade) que acontece no processo widescreen esférico, onde o filme é totalmente exposto na filmagem e é projetado com o uso de um anteparo que “corta” a imagem em cima e em baixo, para criar o efeito wide de acordo com o que o diretor quiser exibir. O CinemaScope permitia razões de até 2,66:1, praticamente o dobro da comum, mas na prática nem sempre foram utilizadas razões tão grandes para acomodar as trilhas de som. A criação do CinemaScope rendeu à Bausch & Lomb um Oscar em 1954.

 
Observe a diferença entre uma lente esférica (à esq.) e uma anamórfica (à dir.). A anamórfica deforma a imagem para aproveitar o espaço.

Na contemporaneidade as razões mais comuns são 1,66:1, comum na Europa, 1,78:1, utilizada nas atuais TVs de alta definição, 1,85:1, praticamente igual à anterior e muito comum no cinema americano. Mas o padrão de fato é a 2,35:1, amplamente utilizada pelos diretores. Obviamente, existem várias outras razões, mas as mais comuns e expressivas são as supracitadas.

Frame de Ben-Hur (1959) mostrando a razão de aspecto extremamente larga de 2,76:1.

Antigamente, a razão de aspecto utilizada pelo cinema era a mesma utilizada pela televisão, a 1,37:1 ou 1,33:1 (a diferença é imperceptível). Como praticamente todos os filmes feitos depois da década de 50 utilizam razões maiores, os filmes precisaram ser mutilados adaptados para “caber” na tela dos televisores. É uma pena que os espectadores médios não percebam o absurdo da prática. Felizmente, cortar os cantos da imagem é uma atitude cada vez menos comum no mercado de home video, mas ainda existente nas transmissões da TV.  Nem sempre é necessário fazer o letterboxing (adicionar barras pretas acima e abaixo da imagem), pois muitos filmes ainda são feitos em razões menores. É complicado dizer para uma pessoa que paga caro em uma TV que ela tem que abrir mão da uma parte da área da tela para ter a experiência adequada na maioria das produções atuais... Enfim, coisas da vida. Espero ter sido bem claro e didático.

Observe o quanto se perde em imagem ao se converter do formato 2,35:1 para o 1,33:1 ainda utilizado na TV aberta.

Por Bernardo Argollo

P.S.: Clique nas imagens para ampliá-las. ;)

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