quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Crítica: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012)













“When Gotham is ashes, you have my permission to die.” 

Título original: The Dark Knight Rises. Dirigido por: Christopher Nolan. Produzido por: Emma Thomas, Christopher Nolan, Charles Roven. Roteiro de: Jonathan Nolan e Christopher Nolan. Montado por: Lee Smith. Fotografia de: Wally Pfister. Estrelando: Christian Bale, Michael Cane, Anne Hathaway, Tom Hardy, Marion Cotillard, Joseph Gordon-Levitt, Morgan Freeman.

Em um encerramento digno para uma saga madura e ambiciosa, Christopher Nolan ratifica-se como um dos grandes diretores da contemporaneidade. Sua abordagem é adulta, verossímil e emocionante, sendo infinitamente mais interessante que o tom caricato adotado por Tim Burton. A envolvente narrativa tem falhas óbvias, fruto do excesso de pontas soltas dos filmes anteriores e de subtramas para resolver. Tais deslizes, contudo, não tiram o brilhantismo da fita e do seu formindável diretor.

Antes de dissertar de fato, devo observar que foi um alívio assistir à projeção em 35 mm (já que, infelizmente, não existem salas IMAX no meu estado). Em meio às terríveis projeções digitais que se espalham (não tenho nada contra, mas é necessária uma resolução maior que 4K para substituir a película), é gratificante perceber que existe um diretor consciente de que a melhor experiência cinematográfica ainda é a película. Exceto para produções em 3D, quando muitas vezes questões financeiras inviabilizam a sincronização de dois projetores e soluções digitais fazem-se necessárias, substituir a película sem prejuízos ainda é algo complicado.

Já feitos os comentários técnicos, vamos à crítica propriamente dita. A trama tem início oito anos após os acontecimentos vistos no longa anterior, quando a morte de Harvey Dent (atribuída a Batman) induz à criação de uma lei que inibe a criminalidade em Gotham. É nesse panorama que Bruce Wayne está imerso, tendo que reassumir seu alter-ego depois que a presença de Bane e de seu exército subterrâneo é revelada. Diversas subtramas e personagens secundários estão presentes, como a mulher-gato Selina Kyle (Hathaway), o jovem policial Blake (Gordon-Levitt) e a milionária (e, mais tarde, vilã) Miranda Tate.

Numa eletrizante sequência de ação logo nos primeiros minutos, somos apresentados ao terrorista Bane, brilhantemente interpretado por Tom Hardy. O ator apresenta uma composição vocal e uma imponência física notáveis. A voz profunda e hipnotizante do personagem é eficaz e necessária, já que seu rosto está sempre coberto por uma máscara (cuja função é liberar analgésicos para que ele possa suportar as horríveis dores de seus ferimentos). Dono de um discurso populista, o vilão é realmente uma figura assustadora. É interessante salientar, todavia, que bastou um close e um olhar no terceiro ato para que esta construção se inverta e, por um momento que seja, sintamos compaixão.

Christian Bale mais uma vez está sensacional como Bruce Wayne, com as transformações físicas que ele realiza para se adequar aos personagens sempre merecendo aplausos, soando convincentes e competentes. Destaque para a voz enrouquecida adotada por ele quando encarna o homem-morcego, usada mesmo quando se comunica com aqueles que conhecem sua identidade secreta, numa atitude que beira a esquizofrenia. Anne Hathaway atua de forma sedutora e atraente como a ladra Selina, e não posso deixar de mencionar a qualidade técnica dos planos em que ela pilota a moto do Batman. A boa atuação de Marion Cotillard como Miranda Tate é deveras prejudicada pelas suas falas um tanto operísticas.

O diretor é hábil ao criar e manter a tensão, intensificada pela ótima trilha sonora de Hans Zimmer. A paleta de cores escurecida e verossímil torna a fotografia sombria, contribuindo para tornar o filme um dos mais adultos de seu gênero. Ainda assim, é decepcionante constatar que, mesmo com toda sua liberdade criativa, Nolan e sua trupe tiveram a preocupação puramente mercadológica de que o filme não recebesse um R nos Estados Unidos. Na cena em que a polícia confronta o exército de Bane no terceiro ato, fica clara a intenção de manter o PG-13.

Enquanto outro cineasta não pensaria duas vezes antes de usar CGI para compor muitas das cenas, Christopher Nolan opta por efeitos mecânicos muito mais naturais e convincentes, algo recorrente em sua filmografia. A sequência dos aviões, logo no início da projeção, não foi feita por computação gráfica em sua maior parte.

Algo comum em terceiros capítulos de trilogia, a grande quantidade de personagens e subtramas acabam levando a furos no roteiro. Como é possível que Bruce retorne rapidamente a Gotham, teoricamente sem um centavo no bolso? Essas e outras falhas chamam a atenção do espectador experiente.

O final não é ambíguo como o de A Origem (2010), mas não deixa de dar margem a variadas interpretações. Tal afirmação deve-se ao fato de Alfred não ter ido cumprimentar Selina e Bruce, e destes estarem com roupas completamente diferentes do que costumam usar. Mesmo assim, o ex-mordomo poderia estar apenas sendo discreto (já satisfeito com a visão que tivera) e as roupas poderiam apenas estar simbolizando o novo momento de vida dos personagens. Se Alfred imaginou ou não, cabe ao espectador usar seu referente para decidir. É certo, porém, que o final é muito conveniente para a Warner Brothers, mesmo sendo o último projeto da franquia dirigido por Nolan.

A película prova, entre outras coisas, que é possível realizar algo sério, inteligente e rico em idéias baseando-se em histórias em quadrinhos. Caso tal procedimento torne-se tendência, só quem ganha é o espectador, que poderá refletir sobre sua realidade e abandonar os filmes visualmente arrebatadores e vazios de conteúdo que permeiam o cinema contemporâneo.

Por Bernardo Argollo

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