Escrito e dirigido por: Osgood Perkins. Cinematografia de: Andrés Arochi. Estrelando: Maika Monroe, Blair Underwood, Alicia Witt e Nicolas Cage.
Longlegs é o novo projeto de Osgood Perkins (filho de Anthony, o astro de Psicose), que realizou o conceitual Gretel & Hansel, em 2020. Como todo diretor contumaz, ele compreende que filmes de gênero, por já virem com convenções próprias, são ótimos meios para o subtexto. Mais uma vez interessado no Oculto, o cineasta trocou a atmosfera medieval do seu longa anterior pelo Oregon dos anos 1990. Aquela América rural lúgubre, reminiscente da primeira temporada de True Detective. Há tempos eu não assistia um filme tão perverso, preciso e inesperado.
O roteiro, escrito com extremo cuidado pelo próprio Perkins, parte de uma premissa simples, e acompanha Lee Harker, uma agente recém-formada do FBI (Monroe, do ótimo Corrente do Mal). Reservada, de voz vacilante e modos contidos, a moça é designada para ajudar na investigação de um caso de assassinatos em série com possível componente ocultista. O criminoso está à solta há décadas, e o design de produção recria os diferentes períodos com bastante disciplina e acurácia.
Vemos aqui uma clara influência de Zodiac e de cultos notórios, como a família Manson. E, claro, o interesse (quiçá pessoal) de Harker no caso não deixa de remeter à Clarice Starling d'O Silêncio dos Inocentes. Perkins claramente possui um talento natural para compor imagens pungentes, desde a casa da protagonista, com seus cantos escuros cheios de segredos, até o visual do vilão. Introduzido sob a perspectiva de uma criança (câmera em ângulo baixo, olhos fora do quadro), o personagem parece saído de um pesadelo.
Fotografando com uma Arri Alexa a 4,5K, o diretor de fotografia Andrés Arochi emprega formas geométricas, planos simétricos, uso do espaço negativo e mudanças na razão de aspecto como parte de sua abordagem visual. Harker está quase sempre enquadrada à esquerda, simbolizando sua fragilidade diante das atrocidades que encontra. Nos momentos em que a jovem está entretida em seu trabalho, o diretor cuidadosamente a posiciona entre duas portas, indistintas ao fundo.
Tropeçando ligeiramente em seu ato final, no qual certo momento correrá o risco de parecer pura exposição, Longlegs não é perfeito. A força de suas imagens e a profundidade de sua atmosfera, no entanto, nos convidam às mais diversas interpretações. E, claro, não há como ignorar a desfaçatez de um projeto que traz Nicolas Cage, coberto em próteses, cantando "Parabéns a Você". Em American Horror Story, provocaria apenas risos. Aqui, nos assola em horror inimaginável e sofrimento indizível.
Por Bernardo Argollo
Agradecimentos: Espaço Z e Diamond Films.


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Bernardo Argollo

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