Dos tabloides londrinos a programas de humor brasileiros, muitos exploraram a imagem de Amy Winehouse. Anacrônica e mainstream, a britânica teve sua imagem irremediavelmente ligada ao vício, à desumanização e ao relacionamento tóxico com o infame Blake Fielder-Civil (ainda vivo). Seu talento sobrenatural foi, infelizmente, eclipsado pelas imagens degradantes consumidas avidamente por abutres de toda estirpe.
O roteiro faz um apanhado abrangente da trajetória de Amy que, merecidamente alçada ao estrelato, foi um dos maiores nomes do R&B de todos os tempos. Morta aos 27 anos (pois é), a jovem tem seus momentos mais icônicos retratados aqui. O filme foi realizado com endosso total de seu espólio, que permitiu aos relizadores uso de toda sua discografia.
A despeito de suas origens claramente enviesadas, o projeto merece créditos por não se envergonhar de mostrar o lado controverso da contora. A performance de Marisa Abela, fisicamente parecida com Winehouse, merece créditos por evitar a hagiografia ou o mero exploitation. No entanto, o longa exibe cerca empatia por figuras bastante hostilizadas pela mídia, como o pai da cantora (Marsan) e, claro, seu companheiro (O’Connell).
A cinematografia de Polly Morgan é eficiente, e se geralmente tendo a apreciar filmes rodados em Scope (2,39:1), reconheço que o projeto foi não poderia ter tido outra razão de aspecto senão o Flat (1,85:1). Por outro lado, a fotógrafa merece um cascudo por se envergonhar de sua cinematografia digital e insistir em emular película. Temos aqui grão artificial e gate weaving que, inseridos digitalmente na pós-produção, são incapazes de causar os mesmos efeitos da versão real.
Finalizado com certa leveza (e os inevitáveis letreiros reducionistas, praga das cinebiografias), Back to Black é falho, auto-indulgente e repetitivo. E, claro, bastante inferior ao documentário de 2015. Ambos os trabalhos, no entanto, olharam para a moça com uma compaixão que ela jamais conhecera em vida.
Por Bernardo Argollo
Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.