quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Crítica: O Telefone Preto 2 (2025)

Dirigido por: Scott Derrickson. Roteiro de: C. Robert Cargill e Scott DerricksonCinematografia de: Pär M. Ekberg. Estrelando: Mason Thames, Madeleine McGraw, Jeremy Davies, Demián Bichir e Ethan Hawke.

O Telefone Preto foi uma adaptação enxuta e eficaz do conto homônimo de Joe Hill. Terminado numa nota pungente, nunca me pareceu um filme que teria uma sequência. E ainda que esta continuação (bastante inspirada em A Hora do Pesadelo) tenha alguns bons momentos, não consegue justificar a própria existência. Ao trocar a verossimilhança sufocante pelo sobrenatural, Scott Derrickson (do ótimo Sinister) enxerta aqui um traço recorrente do terror moderno: seus melhores elementos vem diretamente de filmes melhores.

Baseado num roteiro original co-escrito pelo próprio diretor, o projeto retoma a história quatro anos depois. Finney (Thames), sobrevivente do Sequestrador (Hawke), continua recebendo ligações do Outro Lado, ao passo que sua irmã Gwen (McGraw, excelente) passa a ter sonhos com... advinhem quem. Mason Thames incorpora bem a transformação de Finn num garoto que, marcado pela tragédia, agora percebe que o serial killer mundano se transformou numa mistura de Jason e Freddy Krueger.

O projeto foi rodado digitalmente, porém emprega o Super 8 e Super 16 nas sequências de sonho. É uma lógica visual óbvia, mas ajuda a evitar confusão desnecessária (e não nos esqueçamos dos incontáveis longas de terror que falharam ao estabelecer o que é real ou não). Derrickson também acerta no uso estratégico de músicas incidentais que, embora óbvias, são eficazes ao inserir o espectador em 1982. Não há problema em seguir os clichês quando estes funcionam, e a narrativa tira bom proveito da atmosfera lúgubre do inverno nas Montanhas Rochosas.

Há uma informação adicional introduzida sobre a morte de certa personagem que sou capaz de apostar ser um retcon. Não é um bom sinal, especialmente em se tratando de um roteiro com clara dificuldade em manter alguma coesão interna. Tal revelação traz uma nova camada de significado na luta do bem contra o mal. Por outro lado, Derrickson e seu habitual colaborador C. Robert Cargill perdem tempo em longas cenas nas quais os personagens se entregam a longos diálogos expositivos. Isso não aconteceu em 2021.

O subtexto aqui é óbvio: feridas físicas podem curar-se, mas as psicológicas permanecem. A narrativa encerra-se com um set piece inteligente, envolvente e que deixaria Wes Craven orgulhoso. A melhor coisa sobre O Telefone Preto 2 é que ele não é mais do mesmo. E, além disso, sua narrativa é relativamente ousada para um longa de grande estúdio. Talvez isso até funcione para uma continuação de terror. Mas funcionar não é o mesmo que ser bom de verdade.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

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