quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Crítica: Covil de Ladrões 2 (2025)

Escrito e dirigido por: Christian Gudegast. Cinematografia: Terry Stacey. Estrelando: Gerard Butler, O'Shea Jackson Jr., Evin Ahmad, Salvatore Esposito, Meadow Williams e Swen Temmel.

Covil de Ladrões, de 2018, era só mais uma das inúmeras cópias de Heat, clásico de Michael Mann. Uma cópia lucrativa, no entanto. Esta continuação, além da ação, traz elementos de buddy comedy e talk drama. Christian Gudegast, que também comandou o primeiro longa, aqui aposta numa violência um tanto mais estilizada do que antes. A boa notícia é que minha antipatia prévia pelos personagens não prejudicou o envolvimento com a narrativa, surpreendentemente fluida.

O roteiro, que trocou o centro de Los Angeles pelo sul da França, mais uma vez traz O'Brien (Butler) na cola de Wilson (Jackson Jr., inexpressivo). Agora divorciado, o personagem de Gerard Butler se junta ao seu ex-inimigo para comandar um assalto a um dos prédios mais seguros da Europa. Não que a virada para o "dark side" seja algo exatamente inesperado, já que a natureza, digamos, pouco ortodoxa de O'Brien já estava mais do que estabelecida.

Os personagens são mornos e o roteiro é pouco inspirado, porém com valor de entretenimento suficiente para nos manter atentos durante as mais de duas horas de projeção. Além disso, é admirável que o diretor-roteirista tenha investido numa nova dinâmica para a dupla principal, e desse modo evita o erro de apenas reciclar a história do filme anterior, comum em continuações de ação. Infelizmente, só funcionará naqueles expectadores que tiverem alguma conexão com subgênero dos heist movies.

Encerrado num terceiro ato cheio de conveniências, o projeto aponta desajeitadamente em direção a uma sequência. Em última análise, Covil de Ladrões 2 peca por tentar atingir dois objetivos antagônicos em seu desfecho. A História nos ensina que criar grandes expectativas para filmes lançados no mercado norte-americano em janeiro* não é boa ideia.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z, Diamond Films e Lionsgate.

*No Brasil, o mês de janeiro é reservado para filmes do ano anterior, especialmente os candidatos a premiações, que não tiveram espaço antes devido ao tamanho diminuto do nosso parque exibidor.

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Crítica: Anora (2024)

Escrito e dirigido por: Sean Baker. Cinematografia: Drew Daniels. Estrelando: Mikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yura Borisov e Karren Karagulian.

O conto da Cinderela representa um anseio fundamental da psiquê humana, o de ser reconhecido e levado a uma existência superior. Talvez por isso, essa narrativa persiste. Anora (ou Ani, como prefere ser chamada) trabalha num clube de strip-tease em Brighton Beach, Nova York. Quando conhece e se casa impulsivamente com o filho de um oligarca russo, os pais do noivo partem para os EUA a fim de anular o casamento.

Responsável pelo excelente Projeto Flórida, Baker retorna ao universo dos dilemas da classe marginalizada. Aqui, o americano subverte as expectativas da sua própria linguagem, com diversos subtextos que oferecem material para reflexão sem sacrificar o dinamismo ou mesmo poesia da narrativa. A filmografia de Baker entende que, numa sinuca de bico, só nos resta o caos e o riso. E, como diria Tobias Forge, não há nada de errado nisso. 

A relação entre Ani e o garoto (Eydelshteyn) pauta-se num equilíbrio incerto. Enquanto a primeira parece acreditar na legitimidade de seus sentimentos, o segundo enxerga o vínculo como algo fugaz e, claro, vantajoso para si mesmo. Mikey Madison, de Pânico VI e Era Uma Vez... em Hollywood, sempre foi boa atriz, mas aqui encara um desafio notável. Seu papel mistura elementos de comédia, tragédia, romance e erotismo. E assim a jovem entrega sua fisicalidade sem gourmetizações, ao compor uma moça sobre quem opiniões são formadas com um mero olhar.

Rodado em 35mm e enquadrado em Scope (anamórfico) o projeto traz elementos azuis e vermelhos em quase todos os planos, simbolizando o sonho (ou pesadelo) americano. As escolhas de figurino também refletem a situação dos personagens, sendo interessante notar como Ani se torna cada vez mais vestida à medida que se torna vulnerável. De um modo ou de outro, a garota se define pelo papel que acredita ser destinada a desempenhar, aprendendo, ao longo do filme, a se resignar com o fato de que tal ideia não encontrou reflexo na realidade.

Ainda assim, não há como negar a força do longa em seus momentos finais, que oferecem uma conclusão perfeita para a trajetória emocional e psicológica de sua protagonista. Em última instância, Anora é sobre as paredes visíveis e invisíveis que atrapalham nossos devaneios sobre igualdade. Mas também é sobre algo ainda mais inquietante: a diferença entre ser olhado e ser visto.

Por Bernardo Argollo

Agradecimentos: Espaço Z e Universal Pictures.

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